Em vez de dar entrevistas, Silvio Santos costuma usar o seu programa para emitir opiniões sobre os mais variados assuntos. No domingo (28/4), durante o Troféu Imprensa, o apresentador falou muito. Fez piadas sobre artistas, tripudiou da filha, fingiu não conhecer músicos famosos e, não menos importante, riu de si mesmo.
Escrevi a respeito no UOL, mas deixei em segundo plano um aspecto importante do seu “stand up” – as inúmeras declarações do dono do SBT sobre os próprios jornalistas e os meios de comunicação.
Silvio, como se sabe, tem uma visão muito peculiar sobre o jornalismo, expressa em uma declaração cristalina, dada em março de 1985: “Eu já dei ordens aos jornalistas da minha empresa para nunca criticar, só elogiar o governo. Se for para criticar, é melhor não falar nada, é melhor ficar omisso”.
Há dois meses, uma campanha publicitária relembrou os princípios editoriais do SBT, divulgados em 1988. O primeiro é categórico: “Nenhum boato ou rumor pode ser divulgado”. Outro diz: “O tom do jornalismo deve ser otimista, procurando mostrar que, mesmo nas situações mais trágicas, é possível dar a volta por cima”.
Anos de janela
No Troféu Imprensa, em 2013, Silvio pareceu muito sincero, mas também irônico, sarcástico e, às vezes, deselegante ao se referir a alguns de seus próprios convidados, além de deixar no ar uma acusação grave sobre a idoneidade de um profissional.
Diante de Valença Sotero, editora da revista Caras, disse: “Não sei o que eles fazem, todo mundo sai bonito, todo mundo faz comentários sensatos, comentários otimistas. É uma bela revista”. Também disse: “Gosto da Caras porque eu saio sempre bonito, saio mais bonito do que eu sou”.
A Paulo Cabral, da Contigo, Silvio disse: “Você sabe que a revista Contigo está melhorando muito. Está ficando quase igual à Caras. Verdade”. Cabral ainda tentou argumentar: “São revistas diferentes”. Mas não funcionou: “Diferente em quê? Fotografia bonita, apresentação tá bonita… Tá diferente em quê?”.
Figura fácil no Troféu Imprensa, Sonia Abrão não foi poupada da ironia do apresentador: “Continua com categoria. Acho que você aproveita bem os assuntos do cotidiano… Você tem falado muito dos acontecimentos que ocorrem na minha vida pessoal e da minha vida profissional (hahaha)”.
Desinformado, disse para José Armando Vanucci, da rádio Joven Pan: “Você também está na TV Gazeta?”. “No programa Todo Seu, do Ronnie Von”, respondeu o jornalista. “Ah… Você acabou ingressando na televisão? Muito bem”, prosseguiu Silvio. “Já há sete anos”, completou Vanucci.
Ao elogiar Keila Jimenez, colunista da Folha, Silvio aproveitou para fazer uma acusação grave: “Você é imparcial. Não torce pra ninguém. Faz aquilo que tem que fazer. Faz a comidinha de pensão legal. O que é justo é justo. Tem uns bobalhões aí que, de vez em quando, começam a ganhar um dinheirinho por fora e começam a falar bem de alguém e mal de alguém. Eu não vou falar o nome porque estou com raiva”.
Com tanta experiência no ramo, e em nome dos princípios editoriais do SBT, Silvio deveria não apenas dizer quem é o jornalista que recebe “por fora” como informar quem paga.
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Mauricio Stycer é colunista da Folha de S.Paulo