Com o término dos campeonatos estaduais, as atenções passarão a se voltar para as quatro divisões do Campeonato Brasileiro, por mais que estas parem durante a Copa das Confederações. A novidade, em termos de transmissão televisiva, é o retorno da TV Brasil como exibidora da Série C, que começa no dia 1º de junho. A emissora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) chegou a transmitir a fase final da terceira divisão em 2010, mas não comprou os direitos de transmissão do torneio em 2011, alegando que os valores eram muito altos (entre R$ 14 milhões e R$ 16 milhões). Além disso, no mesmo ano a emissora pública cobriu os Jogos Mundiais Militares, que requereram grande investimento.
Com as duas principais divisões nacionais organizadas no sistema de pontos corridos há algum tempo, a Série C vai para o seu segundo ano com dois grupos regionalizados com 10 clubes cada. Desde o ano passado, a SporTV transmite partidas do torneio pela TV fechada. O apelo a ele está com a presença de clubes populares em seus estados, como Santa Cruz (PE), Fortaleza (CE), Sampaio Correia (MA), Guarani (SP), Vila Nova (GO) e CRB (AL). A divisão da cota dos direitos de transmissão é um importante acréscimo à renda dos clubes, que sonham por voos mais altos, e valores mais altos, nas séries superiores, cujo número de rodadas, e de transmissões, é maior.
A TV Brasil deve transmitir dois jogos por rodada, um no sábado e outro no domingo, além de liberar a transmissão local de partidas de clubes dos Estados das emissoras que fazem parte da Rede Pública de Televisão. Recorda-se que no Acre e no Pará, respectivamente a TV Aldeia e a TV Cultura, transmitem as participações dos clubes locais nos estaduais e em torneios nacionais.
7 milhões de euros
O possível questionamento a investimentos de uma rede pública de comunicação no futebol pode ser combatido com a importância deste programa para a atração da audiência, não à toa gerando tantas brigas para a aquisição de seus direitos de transmissão. Através de um elemento popular, pode-se conquistar a audiência para outros programas da emissora e, principalmente, o reconhecimento dela por parte da população, por mais que já esteja com cinco anos de existência, dadas as dificuldades históricas para a comunicação não comercial no Brasil.
Lembra-se ainda que a aquisição de direitos de transmissão de eventos esportivos por emissoras não privadas é comum em outras partes do mundo, principalmente porque em outros países a radiodifusão se desenvolveu por muito tempo através do monopólio estatal. Ainda assim, décadas depois da abertura deste mercado, pode-se saber de notícias sobre a aquisição do direito de exibir eventos por parte de emissoras públicas.
Em março deste ano, a federação alemã de futebol confirmou que a ARD, rádio pública com 10 emissoras espalhadas por toda a Alemanha, comprou em leilão três dos quatro pacotes de direitos oferecidos na cobertura da primeira e da segunda divisão do campeonato local, a Supercopa da Alemanha e o playoff do rebaixamento. Especula-se que serão pagos 7 milhões de euros.
O fortalecimento da rede pública
O contrato de lá permite que a emissora transmita as partidas na íntegra e tenha privilégios na entrevista com jogadores, ainda que isto não ocorra de forma exclusiva. O pacote restante foi para a transmissão de áudio pela internet, que ficou com o Sport1.
No Brasil, apesar das tentativas do Atlético-PR sob o comando de Mario César Petraglia, não há limites para a transmissão das rádios. O que deve mudar apenas com os torneios Fifa, em que apenas as emissoras que adquirirem os direitos poderão transmitir os jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, o que faz com que emissoras formem pools de transmissão.
Voltando às transmissões da TV Brasil, o Comitê Olímpico Internacional vendeu os direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, a serem realizados no Rio de Janeiro, para Globo, Record e Band, mas libera as imagens para as emissoras públicas, independente do tempo e da logomarca da responsável pela transmissão. Será outra boa oportunidade para o crescimento e o fortalecimento de uma rede pública de televisão, sob a perspectiva do operador nacional digital.
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Anderson David Gomes dos Santos é jornalista e mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos