Cinco minutos. Esse deve ter sido o tempo que minha televisão resistiu ligada no programa apresentado por Gilberto Barros, no sábado (29/6). Por volta das 17h, ligo o aparelho e dou de cara com um cenário de entrevista. De um lado, Alexandre Frota. Do outro, Leão. Peguei a ponto de ouvir a profunda pergunta: “E você, o que acha do projeto sobre a cura gay?” A resposta – que, de tão ridícula, só pode ter sido formulada para dar Ibope – foi algo do tipo: “Na verdade, durante dois anos o Feliciano foi meu namorado. Não entendo o jeito que ele fala dessas coisas. Ele era tão diferente comigo…” O entrevistador parece incrivelmente surpreso: “Feliciano, o deputado?” “Sim, eu o conheço como ‘Tum-Tum’”.
No rodapé da tela, a frase sensacionalista dizia que ali estava uma declaração bombástica de Frota sobre o “deputado que propôs a cura gay”. Para início de conversa, sabe-se que não é de Marco Feliciano o projeto que sugere tratamento psicológico para indivíduos que queiram deixar de ser homossexuais. Mas não foi só nisso que pecou a equipe da Rede TV!. Quando os dois, entrevistador e entrevistado, caem na gargalhada, a primeira impressão é de que a declaração fora apenas uma piada, embora de muitíssimo mau gosto. Entretanto, de volta ao palco, Leão explica que, durante toda sua carreira jornalística (hein?), essa foi a primeira vez em que ele não conseguiu concluir uma entrevista.
Perdeu o controle. Disse até que deu tempo ao ator de remendar o caso, a chance de mencionar que aquela parte não fosse ao ar e tal. Mas Frota não o fez e Marco Feliciano passou a fazer parte da lista de possíveis conquistas do bonitão, lado a lado com Marília Gabriela e Cláudia Raia. Já seria um desrespeito enorme por se tratar de um pastor, uma autoridade eclesiástica constituída, concordando eles ou não. Falando de um deputado federal, então, o “jornalista” e o “ator” estão pedindo é uma intervenção judicial na medida para aprender a diferenciar humor de abuso.
Dia dos Bobos
Como se não bastasse, na sequência um parapsicólogo aparece no palco aplicando a prática de regressão em duas pessoas, um rapaz e uma moça (“Pense no seu passado, você em contato com o Criador e Ele pronunciando para você a palavra ‘sucesso, sucesso’…”). Para acompanhar, uma trilha instrumental de fundo. A melodia escolhida? Embora com cadência mais lenta e algumas distorções ficou claro que se tratava de um dos hinos mais tradicionais do cristianismo, “Quão grande és tu”. Nem esperei o desfecho do atendimento parapsicológico. Desliguei a TV.
Sugerir a homossexualidade de um deputado que, por acaso, é pastor, e emendar a trilha sonora de um hino cristão para embalar uma prática que sequer é apoiada pela Bíblia em menos de cinco minutos é pra correr o crente da frente da telinha. No calendário do Leão, 29 de junho deve ser o Dia dos Bobos evangélicos. Dá para sentir-se imensamente honrado com a homenagem. Só que não.
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Taís Brem é jornalista, Pelotas, RS