Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A nova era tecnológica pela qual o Brasil espera

Dez anos se passaram da assinatura do decreto nº 4901, que institui o Sistema Brasileiro de TV Digital – SBTVD. A importância desse ato institucional consistiu na intenção de convocar as comunidades intelectual e empresarial para definir os parâmetros técnico-sociais da implantação deste sistema. Com isso, pode-se dizer que foi dado início a uma nova era tecnológica no país.

Posso até ser pessimista, mas estamos caminhando para uma realidade que não passa de uma ilusão. É algo paradoxal, mas aquele que teve oportunidade de ler tal decreto percebe que tudo que está ali no papel não passa de algo surreal e utópico, principalmente no que se refere à questão da inclusão social, a diversidade cultural do país por meio do acesso à tecnologia digital visando à democratização da informação.

Neste aspecto, fiquei a me perguntar de que forma, e em qual perspectiva ou prerrogativa educativa, o governo petista e demais empresários do ramo querem democratizar a informação? Apenas com a transmissão de uma melhor imagem? Porque até agora é somente o que conseguimos visualizar.

Entre 2004 e 2006, foram desenvolvidos vários projetos na área tecnológica, como sistemas de compressão de dados na transmissão digital permitindo a operação em até 16 canais no espectro da televisão; o desenvolvimento do sistema Ginga – projeto totalmente nacional que permite a integração dos diferentes sistemas, como o brasileiro, o japonês, o norte-americano e o europeu em uma mesma caixa conversora, além do uso do sistema standard e de alta definição. Será que todo este aparato tecnológico não poderia dar início a essa revolução “silenciosa” e ao mesmo tempo convergir outros meios permitindo atividades cidadãs como o envio de e-mails através da TV analógica que todos temos em casa com o simples toque no controle remoto?

A sonhada “inteligência coletiva”

A TV Digital não surgiu apenas para mudar o layout e as estruturas da TV analógica, mas para promover a interação entre a população e a própria TV (coisa que não vai acontecer tão cedo). Neste aspecto, Prazeres (2006) aponta um dos pontos principais de discussão no que se refere à TV digital e que foi desviado, “o conteúdo que será transmitido pela nova plataforma de comunicação”, porque:

“No processo de digitalização, importa, sobretudo, o que a televisão vai mostrar. De um lado – por necessariamente induzir uma reconfiguração das regras da radiodifusão – a TV digital permite uma revisão qualitativa do conteúdo, sua linguagem e formato. De outro, a tecnologia possibilita uma ampliação diversificada e desconcentrada da produção audiovisual. O que mais interessa é saber se a nova tecnologia permitirá maiores opções de escolha de programas gratuitos, se a diversidade cultural estará acessível para todos” (PRAZERES, 2006).

Outro fator relevante que sem sombra de dúvidas impede o andamento da TV digital no Brasil é justamente a situação político-cultural inerente às construções discursivas da Comunicação. O fato é que os donos do poder são os donos do patrimônio midiático, onde a articulação política e a competição acirrada com grandes corporações tornam-se o alto risco de que o direito da população à informação seja afetado. Tudo isso prova que a democratização da informação, tão pregada, tão falada, não vai acontecer, até porque em 2003 não se esperava o avanço repentino das redes sociais, que de certo modo estão influenciando as pessoas a terem mais voz e vez, deixando de ser massa de manobra.

A interrogação que quero deixar aqui, além da “democratização à informação”, é justamente a respeito do nível de conteúdo, quais as modificações que deverão ser feitas na programação diária; quais serão as ferramentas da interatividade;qual será o tratamento aos blocos publicitários;quais serão os critérios da criação de novos canais na mesma frequência;qual será o processamento dos novos fluxos de informação. Porque até agora só se vê divulgação no que se refere aos aparatos tecnológicos e à excelência da funcionalidade.

Por fim, esperamos que a“primazia dos efeitos” não reforce a banalização dos meios e que a TV digital tão anunciada seja a oportunidade de o país reencontrar sua própria história, “promovendo uma interconexão com o público organizando uma nova sociedade centrada no seu infinito mundo de significações construído pela criatividade, pela razão comunicativa e pela multiplicidade de ações flexíveis e despojadas de estereótipos e pré-conceitos” (Tavares 2008) e fazendo com que haja a tão sonhada “inteligência coletiva” “distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências” (LÉVY, 1999, p.28).

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Rodolpho Raphael de Oliveira Santos é jornalista, Pós-Graduando em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado, Esperança, PB