Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Revolução na sala de estar fica mais próxima

Para ter uma ideia do quanto a televisão pode mudar em breve, basta fazer uma visita a uma divisão da Intel que funciona como um empresa novata do Vale do Silício, na sede da companhia.

Erik Huggers, um holandês que já foi executivo da BBC, montou uma equipe de 350 pessoas que vai muito além de especialistas em chips de computadores – são programadores, desenhistas industriais, artistas gráficos e especialistas em áreas como codificação de vídeos. Trabalhando em escritórios semelhantes a uma redação de jornal superiluminada, eles estão criando um serviço baseado na internet que, além de oferecer programas no formato de vídeo sob demanda, também produzem uma nova versão da TV ao vivo.

Os planos da Intel incluem uma rede de servidores para gravar todo tipo de notícias que vai ao ar – na programação local, nacional e internacional – e que armazena na nuvem todo o conteúdo que vai ao ar por pelo menos três dias. Com um conversor projetado pela Intel, as pessoas não vão ter necessidade de ter um DVR e muito menos ter de gravar os programas.

Ao ligar a TV no meio de qualquer programa, o telespectador pode simplesmente voltar para o início. “Estamos falando de TV ao vivo, que agora você pode retroceder”, diz Huggers.

A Intel é apenas uma das gigantes da computação que estão incursionando pelo vasto ambiente da sala de estar, que provavelmente contará em breve com aparelhos que podem ser ativados pela voz, controles remotos totalmente remodelados, novas interfaces de tela e outras grandes mudanças na forma como as pessoas interagem com a televisão.

Gigantes da tecnologia como Apple, Microsoft, Sony e Google também buscam transformar a forma como nos relacionamos com a TV. O Google, por exemplo, anunciou na semana passada um novo aparelho chamado Chromecast, que expande a categoria de eletrônicos que fazem a transferência sem fio do conteúdo de dispositivos móveis para as TVs. O Google e a Sony também vêm trabalhando em serviços de entrega de vídeos pela internet, dizem pessoas a par do assunto.

Conversor externo

A indústria da computação tem promovido novas visões do conceito de televisão pelos últimos 20 anos, com resultados variados. As operadoras de TV a cabo e satélite estão em posição de vantagem e algumas grandes empresas investem em seus próprios avanços tecnológicos.

As negociações com as empresas de telecomunicações e mídia pelos direitos sobre o conteúdo poderiam atrasar os novos serviços e limitar alguns aspectos, embora a Intel garanta que vai ingressar em alguns mercados até o fim do ano.

Mesmo assim, há um consenso geral de que as novas tecnologias estão evoluindo e que grandes mudanças na experiência do consumidor com a TV serão inevitáveis, sejam elas vindas de operadoras tradicionais ou novas empresas.

“Nunca houve tanta inovação na televisão como estamos tendo agora”, diz Ulf Ewaldsson, diretor de tecnologia da gigante sueca de equipamentos de telecomunicações Ericsson, que também planeja intensificar seus esforços na área de TV.

Um propulsor para as inovações no mercado de TV tem sido as mudanças que tornaram a internet um meio de entrega de conteúdo mais viável, incluindo a proporção maior de clientes com um serviço de banda larga que pode acomodar sinais de vídeo de alta qualidade.

Muitos clientes agora têm internet em suas salas de estar com vários aparelhos, usados em grande parte para a transmissão ou o download de vídeo a partir de uma variedade de meios, como o serviço da Netflix. Os consumidores também usam tablets e smartphones para assistir filmes e programas de TV, além de usá-los como companhia enquanto assistem à tela grande.

Apesar da evolução, ainda falta muito para que os serviços de internet amadureçam. Uma programação popular, incluindo esportes e notícias ao vivo, ainda é limitada a empresas convencionais devido a restrições de licenciamento.

Quando uma grande quantidade de vídeo está disponível, pode ficar mais difícil achar conteúdo específicos – especialmente com controles remotos convencionais que não foram projetados para inserir texto. A maioria dos serviços de TV e aplicativos de celular ainda não consegue ajudar o usuário a descobrir conteúdo novo.

“O smartphone, o laptop e o tablet avançaram muito,” diz Tom Rogers, diretor-presidente da TiVo, empresa pioneira dos DVRs, gravadores de programação de TV. “A televisão ficou para trás.”

Empresas de tecnologia como a Apple estão tentando mudar isso. A companhia, que costuma marcar tendências no Vale do Silício, vende um conversor externo chamado Apple TV para a transmissão de conteúdo desde 2007, mas tem mantido em segredo seus planos para novos produtos na área de televisão. A empresa já testou projetos para os seus próprios televisores, segundo fornecedores da Apple.

Novo aplicativo

A Apple tem explorado uma série de novos recursos para um produto desse tipo, dizem pessoas a par do assunto, incluindo integrar o armazenamento do DVR ao seu serviço de sincronização e armazenamento de dados na nuvem iCloud, e a função de interatividade com comando de voz, algo que o sistema Siri, da própria Apple, levou para os aparelhos móveis da companhia.

A Microsoft também vem promovendo o controle por reconhecimento de voz, à medida que posiciona seus consoles de videogames e o controle Kinect para um papel mais amplo na sala de estar. O Xbox One, que a empresa planeja lançar no fim do ano, permite aos consumidores ligar e desligar vários aparelhos na sala ao simplesmente dizer “Xbox On”, informou a Microsoft.

A Sony, que não quis comentar seus planos para um serviço de entrega de conteúdo, não revelou até agora nenhum projeto que utilize a tecnologia de voz. Mas a empresa tem estado ativa em outras áreas para melhorar a experiência de TV. A companhia japonesa desenvolveu, por exemplo, um aplicativo de smartphone e tablet chamado Sony TV Sideview, que amplia os guias de programação da TV. Ele fornece informações sobre temas como programas e atores – e permite que as pessoas incorporem buscas no Netflix e no YouTube, além, é claro, dos serviços de vídeo e música da própria Sony. (Colaborou Daisuke Wakabayashi)

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Don Clark e Ian Sherr, do Wall Street Journal, em Santa Clara (Califórnia)