Não é a primeira vez que a Mídia Nina (recuso-me a inserir o “J” no acrônimo) mostra sem pudores a sua incompetência jornalística ao cobrir os protestos ocorridos em São Paulo e Rio de Janeiro. Ignorando a apuração, a edição, a ética e os pilares do profissionalismo, o coletivo não sente vergonha em transmitir imagens desfocadas enquanto grita discursos de ódio para incitar a revolta popular – ao menos, o grupo admite não esconder sua total parcialidade factual e abraça com todas as forças o lado ativista das manifestações.
Infelizmente, a mesma Mídia Nina que participa ativamente de atos a favor da liberdade de expressão exibe um extremismo asqueroso ao promover agressões gratuitas contra repórteres e cinegrafistas de veículos tradicionais. No sábado (7/9), pelo menos cinco jornalistas foram vítimas de violência física por parte dos ativistas – fato que foi narrado pelos repórteres-mirins de maneira entusiástica e animada, gerando narrativas regadas de “É isso aí, pô” etc. Cercados, indefesos e sem auxílio policial, profissionais do SBT, Rede Record, Rede Bandeirantes e Rede Globo de Televisão foram hostilizados e expulsos, impedidos de exercer seu direito ao trabalho.
Todos sabem que os veículos jornalísticos tradicionais não são exatamente o melhor exemplo de imparcialidade. Mas isso está longe de ser uma justificativa plausível para promover violência contra um representante de uma organização constituída por milhares de membros – afinal, isto é tão absurdo quanto bater em um cobrador por causa do alto preço do ônibus. Em um dos clipes publicados no YouTube, os próprios seguidores da Mídia Nina criticam a ação do grupo pseudo-anarquista conhecido como “black bloc”, que agrediu representantes do programa humorístico CQC (que, por ironia, costuma criticar o sistema político brasileiro com frequência. Ah, me desculpem: nossos anarquistas bebem Coca e não assistem televisão).
Mas, afinal, o que esperar de “jornalistas independentes” como os que compõem a Mídia Nina, incapazes de permanecer por mais de dois minutos sem dizer algo como “Tá ligado, é uma putaria, isso é um absurdo, brother, pô véio”? Depois de transmitir uma série de imagens trêmulas e escuras, um dos jovens encarregados de cobrir os protestos deixou transparecer a dúvida com um colega do coletivo: “Pau é com u ou é com l? É com l? Porra, escrevi errado, escrevi com l! Enfim galera, o pau tá comendo!”
Surpreende-me que ainda haja discussões sobre o “J” merecer estar no acrônimo ou não.
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Ramon de Souza é jornalista e escritor