Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

‘Joia Rara’ cativa pela delicadeza

Já na abertura percebe-se que não se trata de uma novela para públicos como o de Avenida Brasil (viciados em adrenalina): as ilustrações artesanais repletas de lirismo oriental de Luciana Grether Carvalho vêm coadjuvadas por música (indecisa entre o meigo e o singelo) especialmente composta por Gilberto Gil. E o título resgata o acento da palavra joia, que era como um raio de luz refletindo sobre o vocábulo (com a reforma ortográfica a palavra ficou menos “preciosa”) e a carpintaria da produção teve a delicadeza de devolver: assim, Jóia Rara (assim mesmo, com acento, porque ambientada nos anos 30/40) nesses pequenos detalhes vai conquistando o telespectador que interessa, aquele que dá mais valor à emoção que à ação.

A utilização pontual da voz de Milton Nascimento com a sua Nascente é apenas parte do ensaio estético vigoroso com que depara o fã de telenovelas, esse gênero tão desprezado por parte da elite intelectual tradicional, mas que merecia atenções do pensador multimídia Décio Pignatari: a iluminação chiaroscuro das cenas da Fundição Hauser e do cortiço, com seus operários exaustos, são dignas de Caravaggio e Rembrandt (a fotografia é dirigida por Fred Rangel e iluminada por Paulo Roberto Miranda e Rogério Rogers).

Exuberância técnica

A utilização de stock-shots (planos de arquivo) e sua fiel reprodução em Jóia Rara mostra a alta qualidade em todos os níveis, desde figurino (Marie Salles), produção de arte (Ana Maria Magalhães) a cenários (João Irânio).

As atuações, com raras exceções, não desmerecem o visual deslumbrante (não só das reconstituições históricas, mas das paisagens do Nepal e das composições dos planos budistas), com destaque para Marcos Caruso e seu Arlindo, o diretor de teatro. Cintura fina e perna grossa seriam requisitos para o papel da vedete principal do cabaré Pacheco Leão, mas Letícia Spiller é apenas coquete, o que é suficiente para sustentar sua Lola.

Resta saber se os autores, Duda Rachid e Thelma Guedes (que não são pioneiros em tramar o amor como resolução dos conflitos entre capital e trabalho), saberão colocar seu talento a serviço da exuberância técnica do padrão Globo de qualidade, evitando a redundância (inferno do qual poucas novelas conseguem escapar) e o didatismo (obrigação à qual as ficções históricas são subjugadas).

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Silvia Chiabai é jornalista