A distribuição de vídeo via internet é hoje o maior desafio enfrentado pela televisão. Qualquer conteúdo está a um clique de distância. Na época dos DVDs piratas, a indústria tinha de lutar com grupos criminosos. Hoje, além do criminoso que distribui vídeos ilegalmente pela rede para obter lucros, existe o hacker que faz a mesma coisa de graça, sem obter nenhuma vantagem pessoal, por ser fã do filme ou da série, a partir do desejo de compartilhar.
A Irdeto, que fornece serviços antipirataria, divide o consumidor de conteúdo ilegal em três grupos. O pirata casual baixa vídeos ilegais para consumo próprio. O consumidor confuso não sabe que os vídeos que vê são piratas. Já o consumidor frustrado não consegue achar o que quer em versões legais. Segundo a empresa, depois de uma hora de o episódio de uma série ir ao ar, mais de 400 links piratas já estão disponíveis. Depois de duas horas, as versões piratas já foram vistas por milhões de pessoas ao redor do mundo.
A série Game of Thrones, da HBO, é a mais pirateada em muitos países, incluindo o Brasil. Por aqui, a Irdeto detectou, no ano passado, 13,4 milhões de vídeos ilegais obtidos pelas redes peer-to-peer (em que uma pessoa baixa os arquivos do computador de outras, usando, por exemplo, a tecnologia BitTorrent).
Foram 2,1 milhões de episódios de Game of Thrones baixados ilegalmente. Em segundo lugar, ficou a série House (420 mil), seguida de True Blood (419 mil), Grimm (405 mil) e Once Upon a Time (331 mil). A preferência é mesmo por séries de TV. O primeiro filme da lista brasileira da pirataria online é Capitão América: O Primeiro Vingador, em sexto lugar, com 295 mil downloads ilegais detectados.
Redes de troca
A indústria da música enfrentou esse problema há mais de uma década. A pirataria online fez um estrago considerável, porque as gravadoras demoraram a dar uma resposta eficiente. O caso da TV tem sido um pouco diferente.
Existem várias opções dentro da lei. A própria HBO tem o serviço HBO Go, de vídeos online, que, por enquanto, é exclusivo para quem assina o canal na TV paga. Fora do Brasil, outros canais têm o serviço Hulu, que oferece séries de forma legal, de graça, com anúncios. Aqui e em outras partes do mundo, a Netflix tem temporadas completas de séries, além de filmes.
A própria Netflix tem monitorado as redes de troca de arquivos para identificar a demanda por séries em cada país, para depois licenciá-las e oferecê-las legalmente. No mês passado, durante o lançamento do Netflix na Holanda, seu vice-presidente de aquisição de conteúdo, disse: “Na compra de séries, olhamos o que está indo bem nos sites de pirataria”. No caso específico da Holanda, ele citou a série Prison Break, muito pirateada no país e disponível de forma legítima na Netflix.
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Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo