Nos canais da Rede Record de Televisão, o dia começa cedo. Às seis e meia da manhã, as notícias policiais já estão no ar junto com tiros e sangue a torto e direito seguindo depois em outros programas até a benção dos pastores depois da meia-noite. Os apresentadores e jornalistas da Record seguem todos um mesmo padrão. De pé, terno e gravata, esta última na maioria, vociferam pela pena de morte, redução da maioridade penal e atacam o governo, quase incentivando linchamentos em meio às notícias que se repetem: assassinatos, latrocínios, sequestros, estupros, assaltos, detenções de menores, traficantes e viciados em drogas, não faltando os casos de bêbados no volante.
Há uma evidente linha geral, ainda, de intimidação e interrogatórios de suspeitos a cargo dos repórteres que não raro enfrentam tiroteios e participam de capturas policiais devidamente uniformizados com coletes à prova de bala.
São poucos os momentos de refresco, já que até a novela Pecado Mortal (isto mesmo) se passa, em boa parte, em delegacias e focalizando bandidos, além dos seriados e filmes terem quase sempre por estrela a polícia dos Estados Unidos. O telespectador da Record tem assim, devem acreditar seus diretores, todos os motivos para não sair de casa a não ser armado. Ou para depositar seu dízimo nas igrejas da Universal por estar a salvo do inferno das ruas.
******
Zulcy Borges é jornalista, Itajubá, MG