Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vendo TV na sala

Na capa de sua mais recente edição impressa, a “Forbes” americana meio que afirma, perguntando: “Como o Twitter vai salvar a TV (e como a TV vai salvar o Twitter)”. O pretexto para a reportagem é a oferta pública inicial de ações da empresa, que deve ocorrer em meados de novembro.

A questão diz muito a respeito das possibilidades e dificuldades que tanto o mundo da televisão quanto o Twitter enfrentam neste momento. Enquanto a primeira não sabe o que fazer para impedir o derretimento da sua audiência, o segundo busca superar o ceticismo do mercado e demonstrar que é um negócio viável.

A “Ilustrada” tratou do assunto, no último domingo, ao detalhar algumas iniciativas deste “namoro entre telas”. “Para sobreviver, a TV olha esperançosamente para Twitter e Facebook, a segunda tela’. As duas redes sociais olham de volta, interessadas principalmente nas transmissões ao vivo”, escreveu Nelson de Sá.

Como não faço ideia de até onde vai a familiaridade dos leitores com esta relação entre Twitter e TV, tomo a liberdade de fazer um breve relato pessoal. Abri a minha conta na rede social no segundo semestre de 2008, há pouco mais de cinco anos.

Fui levado ao Twitter, inicialmente, pela vontade de promover os textos que escrevia no blog. Era (e ainda é) uma oportunidade de mostrar o meu trabalho a uma audiência que não o conhecia. Rapidamente, porém, entendi que esta era uma função secundária da rede social.

A qualquer hora

Não foi difícil perceber, como usuário, algo muito parecido ao que Dick Costolo, CEO do Twitter, constatou: “À medida que crescemos, ficou cada vez mais claro que as características que distinguem o Twitter –público, em tempo real e bom para conversar– fazem dele um complemento perfeito para a televisão.”

Seguindo e sendo seguido por pessoas com gostos mais ou menos semelhantes, o Twitter oferece a oportunidade de transformar a experiência de ver um determinado programa num bate-papo animado. É como se estivessem todos na sala, trocando ideias, discutindo e, frequentemente, brigando por conta de opiniões mais fortes, digamos, a respeito da falta de sutileza de Walcyr Carrasco ou da atuação do juiz no Maracanã.

Esta situação, como se já viu, é possível basicamente em dois tipos de situação: nas transmissões ao vivo (de um show ou de uma partida de futebol) e durante a exibição de programas previamente anunciados na grade das emissoras.

O americano, segundo o instituto Nielsen, ainda assiste a cinco horas por dia, em média, de programas. O problema, e aí retorno à capa da “Forbes”, é que cada vez mais o espectador tem optado por ver televisão de outras formas.

Uma pesquisa citada diz que um terço dos espectadores veem os seus programas preferidos em laptops, smartphones e tablets. Assistindo a programas gravados anteriormente ou em serviços que o oferecem “on demand”, você não apenas salta os anúncios comerciais: você escolhe a hora em que quer ver.

Esta experiência mais contemporânea bate de frente com aquela outra, que o Twitter oferece. É possível conversar com quem está assistindo à novela ou ao seriado na hora em que ele passa na TV, mas não com quem resolve vê-lo no momento em que bem entender. O Twitter, de alguma forma, resgata uma sociabilidade antiga, mas é ameaçado por tecnologias mais modernas do que ele.