A CNN é a mais nova vítima da crescente polarização política dos EUA. Depois de ter sido desbancada pela conservadora rede Fox News, está sendo ultrapassada por outra emissora com 24 horas de notícias “ideologizadas”.
A MSNBC, apelidada de “Fox News da esquerda” pelo ex-presidente Bill Clinton, tem vencido a pioneira emissora de notícias todo dia no horário nobre (20h-23h), mas principalmente entre a audiência mais cobiçada pela publicidade (de 18 a 49 anos).
“Há uma parcela dos americanos que só segue as notícias com as quais concorda. Esse é o motivo do sucesso’ da Fox e da MSNBC”, disse à Folha John Sides, professor da Universidade George Washington. A mais imparcial CNN perde nesse cenário.
Além das tradicionais bandeiras da esquerda americana (governo maior, mais impostos, direitos trabalhistas, reforma imigratória, direitos para minorias raciais e sexuais), o elenco da emissora representa essa diversidade.
Diferente da Fox, que tem apresentadoras loiras com maquiagem carregada e veteranos radialistas conservadores, a MSNBC tem professores universitários e representantes de várias minorias. A maioria usa óculos.
Há cinco apresentadores negros, três gays e o paquistanês-britânico Martin Bashir –nenhum latino, por ora.
“Os apresentadores estão à esquerda da Casa Branca. Eu estou bem à esquerda de Obama”, diz Rachel Maddow, a estrela do canal, que critica a política de drones do governo e a falta de regulamentação financeira em Wall Street.
Entre os dez mais
Se na temática e nos protagonistas a MSNBC é quase o oposto da Fox, o formato é muito parecido, com sucesso econômico (pelo baixo custo de produção) e reclamações dos críticos de jornalismo.
Assim como na Fox, os convidados dos programas de debate na MSNBC costumam concordar em quase tudo: demonizar a oposição republicana, defender as vitórias de Obama e pressionar por uma “agenda progressista”. Para quem adora política, é quase um debate ininterrupto.
A maioria dos comentaristas não é de jornalistas. Muitos são políticos que integraram governos democratas (vários saíram da gestão Obama) e, na maioria, lobistas de causas que defendem no ar (o mesmo ocorre na Fox).
Criada em 1996 pela rede aberta NBC e pela Microsoft, a MSNBC só passou a seguir a cartilha da Fox dez anos depois. O investimento em jornalismo é quase um terço do feito pela CNN, que tem 33 escritórios no exterior, com correspondentes pelo mundo.
A MSNBC depende quase exclusivamente dos correspondentes da NBC e raramente manda enviados especiais.
Essa é sua maior fraqueza: em momentos de tragédias, como os atentados de Boston em abril, a audiência despenca. A MSNBC ficou em quarto lugar nesse mês, e a CNN virou líder em vários horários, pela agilidade e pelos repórteres no lugar do ataque.
Dos 400 canais da TV paga nos EUA, só a Fox aparece entre os dez mais vistos (em sétimo lugar). “A demografia explica em parte o sucesso da Fox porque os mais velhos tendem a ser mais conservadores e são os que mais veem TV”, diz Sides. “Mas a maioria nos EUA não quer saber tanto de política assim”.
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Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo, em Washington