Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Longe do óbvio

Nesta noite [sexta, 17/1] em que vai ao ar o décimo e último capítulo de Amores Roubados, desconfio que alguém na Globo deve estar se perguntando: o que esta minissérie tem que outras semelhantes não tiveram? O trabalho da dupla José Luiz Villamarim, diretor-geral, e George Moura, autor, repetiu um padrão de qualidade já visto em outros projetos especiais da emissora, mas alcançou algo mais. Na métrica mais fácil de compreender, a do Ibope, Amores Roubados termina com índices surpreendentes, mesmo sofrendo, no meio do caminho, brusca alteração no horário de exibição. A série ficou bem acima da média tanto ao ser exibida depois de Amor à Vida quanto, posteriormente, quando passou a ir ao ar só após o BBB.

Houve quem tentasse colocar os altos números na conta das cenas quentes vividas pelo protagonista Leandro (Cauã Reymond) nos primeiros capítulos. Filho de uma prostituta (Cassia Kis Magro), o rapaz com alma de Dom Juan conquistou, em sequência, três mulheres poderosas – duas mulheres de coronéis, Celeste (Dira Paes) e Isabel (Patrícia Pillar), além da filha desta, Antônia (Isis Valverde).

Mas a audiência continuou alta, e até aumentou, mesmo quando ela perdeu o ímpeto inicial e a narrativa evoluiu para um thriller, mostrando como Leandro passa a ser caçado pelo coronel da cidade, Jaime (Murilo Benício), que se transforma após descobrir que a mulher foi uma das que caíram na lábia do herói.

Longe da pasteurização geral

Por fim, de forma engenhosa, os diferentes dramas que resultaram da ação de Leandro são narrados paralelamente e vão se entremeando. O protagonista, ausente em quase toda a segunda metade da série, é a sombra que dá liga a tudo. Além da história atraente, outras qualidades saltam aos olhos: bons diálogos, ótimo elenco, direção de atores, fotografia “cinematográfica” (de Walter Carvalho), um cenário bonito e pouco explorado pela TV (o vale do rio São Francisco), além de impressionantes cenas de ação.

Houve, é claro, espaço para clichês e momentos piegas. Leandro e Antônia evocaram “Titanic” no rio São Francisco. Isabel, em transe, fez sexo com um ciclista desconhecido logo depois de atropelá-lo. Também houve problemas técnicos, com o som, apesar dos os cuidados da produção.

Não deveria, mas ainda surpreende estar diante da televisão nestes momentos em que ela faz a opção pelo menos óbvio – quando o texto dito por atores mais sugere do que afirma, a câmera evita closes e prefere mostrar o movimento dos personagens no espaço e, igualmente importante, não há aquela obsessão em preencher os vazios com ação desnecessária ou uma música qualquer. Nestes momentos em que o produto resulta em algo distante da pasteurização geral, com uma cara original, a TV mostra a sua força. E o público responde positivamente.