A televisão, quando quer, ou deixam, faz jornalismo de primeiro nível.
Uma matéria no Jornal Nacional tratou de um fato extravagante. Uma semana depois de autorizar o governo de São Paulo a vender à iniciativa privada cinco aeroportos do interior do Estado, o ministro Moreira Franco revogou o ato, sem dele dar ciência ao governo paulista. O repórter foi ao gabinete do Secretário de Aviação Civil e ele deu a explicação para mudança tão radical e súbita: seu assessor lhe tinha levado uma pilha de papeis, que assinou sem ler. No meio, estava a autorização sobre os aeroportos. Descoberta a falha, o assessor foi sumariamente demitido e o ministro cancelou a autorização.
Volta a imagem para William Bonner. Ele diz que, depois da entrevista com o secretário, a TV Globo teve acesso a um e-mail do diretor de aviação civil responsável pelos contratos. Por telefone, quando consultado, Moreira Franco disse que o diretor era contra a autorização, mas, ao ver o ato publicado no Diário Oficial da União, imaginou que o ministro tinha mudado de ideia, que seria até então de não permitir a alienação dos aeroportos. Tratou então de mandar uma mensagem de congratulações ao governo paulista e dizer que a tarefa passaria a ser dele. Um diretor tão volúvel merecia tanto a demissão quanto o assessor – e o próprio ministro relapso, convenha-se.
Na verdade o que aconteceu todos sabem: a concessão foi dada inadvertidamente. Informada, a presidente Dilma Roussef ficou furiosa. Geraldo Alckmin ia realizar uma operação de impacto e ainda faturar um bom dinheiro para a próxima campanha eleitoral.
Tudo, nesta temporada, passa a ser político.
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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)