Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Chega de chororô

Quase 20 anos de TV, 14 de Globo. Garoto-propaganda de marcas poderosas, casado com Angélica, pai de três filhos, businessman, dono de um rede de contatos de dar inveja a qualquer político.

O amigo de Ronaldo, Demi Moore e Xuxa está mais calado. Luciano Huck, 42, diz que, com a idade, está concedendo cada vez menos entrevistas. “Em boca fechada não entra mosca”.

O ditado não se aplica quando o assunto é o seu “Caldeirão do Huck”, que passará por uma guinada. A partir de abril, saem as histórias tristes e os quadros assistencialistas –que ele chama de “inspiradores”– para entrar mais entretenimento.

“Vai ter menos chororô”, diz Huck, de olho, claro, na perda de público da atração. O “Caldeirão” foi de 14 pontos de média (2011) para 12 (2013). Cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande SP.

Em entrevista à Folha, Huck fala das mudanças, do pé no freio nos contratos de publicidade e de sua aposta em jovens com boas ideias, como a turma do Porta dos Fundos. Ele assume ser o investidor inicial do portal de vídeos de humor, apesar das negativas da trupe.

O que muda no Caldeirão’?

Luciano Huck – Estou saindo da minha zona de conforto: vem aí uma mudança radical na mentalidade do programa. O Caldeirão tem 14 anos, mais de 700 programas no ar, muita coisa mudou no país nesse tempo. O que começa em abril é um projeto trabalhado há nove meses. O brasileiro teve o direito de começar a melhorar a sua vida da porta para dentro, cuidando da sua casa. O Caldeirão surfou nesse universo. Agora, o brasileiro quer que a vida melhore da porta para fora, quer hospital melhor, educação melhor, está mostrando isso nas ruas. Vamos abrir o escopo do programa. Teremos quadros focados em personagens que agem pensando no coletivo.

O programa é assistencialista?

L.H. – Gosto de caminhar nessa linha tênue entre o caos e a inspiração. Não sou assistencialista, não quero fazer drama com sofrimento alheio. Quero contar histórias que toquem, que inspirem. Estou rebalanceando o Caldeirão. Ninguém quer namorar um cara que só te faz chorar, tem que te fazer de rir. Vamos investir mais em games no palco. Troquei a equipe. Das 20 pessoas que trabalhavam direto comigo, só dez ficaram, só os bons. Vieram dez novos.

Agora você tem diretor de núcleo, o Boninho. O que muda?

L.H. – O Boninho é um pitbull, um defensor incansável do seu time. Ele está me preservando de muitos embates na emissora.

A audiência te preocupa?

L.H. – A Globo nunca me cobrou, nunca tive pressão. Mas não estou ali para fazer TV em circuito interno. Faço TV de alta performance. É como no atletismo, você tem que se concentrar, focar.

É verdade que você vendeu seus empreendimentos para focar só em ser apresentador?

L.H. – Sim, é essa realidade hoje.

Mas você tem um fundo de investimentos, o Joá.

L.H. – Mas não me dá trabalho. Quando fui para a TV Globo eu tinha um monte de coisas: hotel, rádio, restaurante, academia… Vendi tudo para me concentrar em TV e foi a melhor coisa que fiz. Vivo de televisão, adoro esse eletrodoméstico, apesar de estar se transformando muito. O fundo é instrumento para ter gente esperta em minha órbita. Em vez de deixar o dinheiro no banco em CDI, você investe em um moleque com uma ideia nova.

Você investiu no Porta dos Fundos?

L.H. – Sim. Era a molecada que trabalhava comigo, o Kibe Loco (Antônio Tabet), o João Vicente. Eles tinham a ideia, mas não tinham grana para começar. Mas eles que tocam, não tenho nada a ver com aquilo. Invisto em ideias novas de um empreendedor, que não me deem trabalho. Se ficar limitado aos muros do Projac (central de estúdios da Globo, no Rio), você vai emburrecendo. Como comunicador, se quero falar com gente, preciso entender o que muita gente está querendo.

O fundo te protege, você não é mais dono das coisas?

L.H. – Tenho sócios no fundo. Não sou dono de nada. O Luciano faz televisão. Quem paga minhas contas é a TV. Espero deixar para os meus filhos alguma coisa’ para eles fazerem alguma coisa’, e não deixar muito’ para eles não fazerem nada’. E essa alguma coisa’ vem da televisão.

Dizem que você é o sucessor natural do Faustão aos domingos. Você busca isso?

L.H. – Fausto é muito carinhoso comigo e com a Angélica. Não é meu amigo pessoal, mas gosto muito dele. Esse tipo de incitação é uma bobagem, sou fã dele. E tenho um programa campeão de audiência. É mais importante para a Globo ter um bom programa aos sábados, e outro no domingo, do que duas pessoas se matando pelo domingo.

Você foi uma das personalidades que mais apareceu nos intervalos comerciais em 2013. Como administra esse seu lado garoto-propaganda?

L.H. – Não faço comerciais com prazo curto de exibição. Tenho projetos grandes, a longo prazo. Tenho hoje cinco contratos (Coca-Cola, Pfizer, P&G, Itaú e Tim) e não abro mais para ninguém. Ano passado apareci demais, neste ano vou puxar o freio. Tenho que cuidar da minha imagem. Ela tem de durar e garantir o sustento da minha família.

Você tem pretensões políticas?

L.H. – Não tenho. Sou um cara de fazer, não de falar. Temos de ressignificar a palavra política. No nosso país, política quer dizer tudo de ruim.

Como funciona o seu networking? Você se esforça para ter os amigos certos nos lugares certos?

L.H. – É intuitivo. Gosto de gente, tanto faz se for o cara da periferia ou se é o presidente da República. Você conhece meus amigos famosos, mas tenho inúmeros que não são.

Mas você tem muitos amigos famosos, não é?

L.H. – Tenho, mas gosto de gente. E de gente competente. O que não tenho é paciência com gente chata.

O assédio do público te incomoda?

L.H. – Não. Trabalho com TV, você deixa de fazer algumas coisas nas ruas se não tiver a fim de atender as pessoas, mas não sou assim. Vou a shopping, teatro… Fico um pouco arredio quando estou com as crianças. A pessoa pede: “Posso ver seus filhos?”. Não, não é vitrine [risos] Tenho ciúme das crianças.[risos]

Quando viaja para o exterior é mais tranquilo?

L.H. – Sim. Gosto de alugar casa fora do país. Quando não tem cereal, você tem de ir no mercado comprar. Isso é bom para os meus filhos. No Brasil, em casa ou no hotel, nunca não tem’ cereal para gente. Alguém sempre arruma. [risos] A infância dos três é muito diferente da minha e da Angélica, em questão de grana e conforto. Como educar? Para meus filhos saírem dando carteirada com 16 anos é fácil. Minha preocupação é passar os valores certos.

Você se preocupa com fofocas?

L.H. – Leio, sou curioso, mas não me importo. Se fosse levar a sério, já teria uns dez filhos fora do casamento [risos].

No ano passado publicaram que você teve um filho com uma assistente de palco, outro com uma modelo…

L.H. – Arrumaram vários. A mim incomodou zero, mas se incomodasse minha mulher, eu ficaria muito incomodado. Uma dessas fofocas nasceu em um site com fontes pouco confiáveis, a gente viu nascer. Tava em casa, com a Angélica, lemos no site e eu disse: “olha, eu já saí de casa três vezes e tenho um filho fora do casamento, viu” [risos].

Você se diverte com essas histórias?

L.H. – Não, né. Falam que você tem um filho com alguém que você não conhece e a pessoa que dizem que é a mãe não desmente. Vou me divertir como? Gostoso não é, mas faz parte. Se meus filhos não foram afetados, minha mulher não foi afetada, não ligo.

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Keila Jimenez é colunista da Folha de S.Paulo