Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Diretor da Globo defende grade mais flexível

Em meio a uma queda gradual na audiência, a Globo investe em achar novos formatos e experimentar novos conteúdos, na TV aberta (seu carro-chefe) e fora dela.

Essa é uma das grandes apostas de Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da emissora, há pouco mais de um ano no comando da rede.

Em dez anos, a Globo perdeu 30% de seu público no país, um em cada três telespectadores em média.

Em 2003, a emissora encerrou o ano com média nacional de 22,7 pontos de audiência. Em 2013, com 16,2 pontos. E 2014 já aponta para uma nova queda. Cada ponto de audiência corresponde a 217 mil domicílios no país.

“Desejo de audiência não pode se transformar em meta. Busco outro parâmetro de medição. O produto tem de ter relevância, abrangência e, a partir daí, gerar audiência”, diz Schroder, em entrevista concedida na manhã de ontem, em São Paulo.

“Costumo brincar que, se você é técnico da seleção, não diz para o time: Ganhem de 4 a 2’. O mais importante é ganhar, jogar bonito, agradar à torcida”, diz o ex-diretor da Central Globo de Jornalismo.

Nesse clima mais “tolerante” com os números, o chefão da Globo diz que a emissora está aberta a experimentações, com uma grade de programação flexível, disposta a surpreender o público.

Isso envolve “arriscar-se”, o que não pode ter metas de audiência como amarras.

Como exemplos desse novo exercício de programação, o diretor cita a próxima novela das 18h, “Meu Pedacinho de Chão”, com visual diferente do da dramaturgia convencional da emissora.

As mudanças, “com o avião em movimento”, envolvem vários setores da emissora. Núcleos de debates foram criados para discutir os rumos em gêneros como novelas, humor e seriados.

Desses fóruns nasceram por exemplo seriados com capítulos semanais, interligados, como “A Teia”. “O público brasileiro ainda não está acostumado com esse modelo, mas vamos criar um gancho maior entre os episódios, para chamar a audiência de uma semana para outra.”

O tamanho dos seriados também está em aberto. “O tempo é definido pelo produto, a grade de programação está mais flexível”, diz ele.

Schroder falou dos investimento cada vez maiores em conteúdos específicos para outras mídias, como internet e TV paga. “É uma tendência inevitável. Chegamos a ter um capítulo final de novela assistido por 2 milhões de pessoas na internet.”

Produções para os canais pagos, como a de uma série para o canal pago GNT –”Animal”, com Edson Celulari–, funcionarão como laboratório da Globo, investindo em novos autores e até testando um novo elenco. “Também serve para oxigenarmos nossos talentos”, afirma ele.

O foco, porém, continua sendo a TV aberta, na qual a Globo quer continuar líder. O diretor disse que devem ser reavaliados programas como “Big Brother Brasil” e “Vídeo Show”, que vêm enfrentando problemas.

A Copa como ela é

Apesar de todo o entusiasmo da emissora com a Copa do Mundo, o diretor afirma que os problemas de organização do evento e as manifestações não perderão espaço na cobertura jornalística.

“A Globo compra os direitos dos jogos, mas não somos parceiros da Fifa”, diz. “Um exemplo foi na Copa das Confederações, em que demos ampla cobertura às manifestações. O compromisso da Globo com o público está acima disso.”

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Keila Jimenez é colunista da Folha de S.Paulo