Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imparcialidade ou superficialidade?

Ao assistirem ao Jornal Nacional, noticiário do horário nobre da TV Globo, muitos brasileiros sentem estar absorvendo informações imprescindíveis para sua participação social como cidadão. Todavia, informar é o mesmo que noticiar? Para muitos dicionários, sim. Mas noticiar é contar um fato, enquanto informar precisa ser equivalente a instruir, ensinar. Diante dessa significação, o Jornal Nacional parece noticiar, contudo sem informar.

Para provar essa constatação, indico que assista ao Jornal da Cultura, exibido às 21h, na TV Cultura. Nesse noticiário há um âncora, Willian Corrêa, e a cada edição do jornal há também dois convidados que atuam em diferentes profissões (de juristas a filósofos) e, no noticiário, têm a função de opinar e esclarecer as notícias em pauta. Sem a obrigatoriedade de concordância ou divergência, ambos os profissionais demonstram suas opiniões e experiências – normalmente muito bem embasadas – sobre os fatos apresentados. Assim, o telespectador pode realmente entender a notícia – e não apenas assisti-la –, além de avaliar qual fundamentação faz mais sentido para si.

Já o JN apenas conta ao telespectador os acontecimentos do Brasil e do mundo ao se apoiar sagazmente no quesito imparcialidade. Quando, na prática, demonstra o uso da superficialidade, ou seja, contar os fatos sem questioná-los ou elucidá-los para seus telespectadores (nem ofender patrocinadores e aliados).

Informação e ignorância

O Jornal da Cultura está muito mais próximo de um informativo imparcial, pois quem elucida os fatos também os está investigando. O âncora do JC não impõe sua opinião pessoal, mas permite que seus convidados expliquem as razões de suas ideias. Dessa forma, o telespectador está aprendendo o assunto, o que facilita a interiorização do conteúdo e a consequente formação de opinião, contribuindo para um povo instruído.

Ora, se até mesmo os jornalistas às vezes não compreendem a notícia sendo transmitida, imagine aqueles que não lidam diretamente com a captação, checagem e divulgação de dados. Portanto, é desse jornalismo explicativo e questionador que o país precisa, pois demonstra isenção, mas sem a superficialidade comum ao JN e a outros jornais que somente contribuem para a profusão de informação e consequente ignorância “pseudo-informada” do telespectador.

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Andreza Galiego é jornalista (Sumaré, SP)