Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Geração Brasil’ faz mesmo público que trama anterior

Em sua estreia, “Geração Brasil” mostrou que o público continua arisco a mudanças e “novidades” na dramaturgia. A nova novela igualou o recorde negativo de estreia da antecessora, “Além do Horizonte”, que a Globo quer esquecer. “Geração” marcou 22 pontos em tempo real, mas na medição consolidada, ontem, subiu para 24 pontos, causando certo alívio.

Desde “Cheias de Charme”, a faixa das 19h da Globo só cai no ibope. “Cheias…” marcou 34,6 pontos no primeiro dia. Sua sucessora, “Guerra dos Sexos”, marcou 28,2. Depois, “Sangue Bom” cravou 27,8. “Além..” e a nova trama ficaram com 24. Cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande São Paulo.

Para segurar o público ao máximo, a Globo só fez um break comercial na estreia, quando o comum são três.

Se a novela anterior bateu na tecla da busca da felicidade, “Geração Brasil” martelará o mundo da tecnologia. Todos os clichês “moderninhos” estavam lá: o gênio Jonas Marra (Murilo Benício), que deixou o Brasil para ganhar o mundo; o nerd Davi Reis (Humberto Carrão) que montou sua empresa numa garagem e espera que um anjo investidor aposte em sua sacada genial; Vicente (Max Lima) o menininho pobre e inteligente que sonha em ser o novo Bill Gates (ou Jonas).

Isso sem falar na infinidade de citações. As referências (ou paródias?) da trama foram do filme “Beleza Americana” (Cláudia Abreu, como Pamela, envolvida por rosas vermelhas) a “Jobs” (Benício ameaçado de ser enxotado da empresa que criou pelos acionistas ingratos).

Elenco e autora

Outras referências vão de Angelina Jolie fazendo caridade na África (Cláudia Abreu repete a Sra. Pitt, fazendo carinho em crianças miseráveis) ao “Video Show” (a narração em off no início da novela era semelhante); da edição de cenas que remetiam toscamente a “Matrix” às mensagens de SMS que apareciam na tela, como em “House of Cards”.

“Geração” mostrou que tentará ser politicamente correta, promover inclusão social e combater a intolerância. Há transexual negro, crianças pobres que sonham com futuro melhor e até uma ONG dedicada à educação.

De desabonador, só a overdose de funk. Benício merece crédito por submergir em seu personagem, assim como Cláudia Abreu. De irritante mesmo só o sotaque e a profusão de expressões inúteis em inglês.

Ainda é cedo para previsões, pois o elenco é muito bom e a autora é uma das melhores da Globo (Denise Saraceni). Mas há um risco de saturação e o telespectador já sabe que basta dar um Control+Alt+Del e buscar diversão em outra mídia.

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Ricardo Feltrin, para a Folha de S.Paulo