Fábio Porchat e Tatá Werneck acabam de gravar 22 episódios do programa de auditório “Tudo pela audiência”, que o canal Multishow exibirá a partir de julho. Abaixo, os links para as duas partes de reportagem de Keila Jimenez na “Folha” que anuncia a novidade.
Trata-se de ridicularizar o princípio sagrado que rege (às vezes nem tanto) a programação, o conteúdo, o estilo, o etos da TV aberta (e, como o Brasil é o país da jabuticaba, também da TV paga, que deveria apenas cobrar pelo fornecimento de conteúdo e não faturar, nem encher o saco, com anúncios).
Muito salutar. Não é exatamente novidade. A maioria dos viventes atuais não tem ideia, mas o programa humorístico PRK 30 (não deixe de dar boas risadas: https://www.youtube.com/watch?v=EqskwjcNqls) fazia isso.
E a televisão jamais deixou de usar a autogozação como forma de promover sua programação e solidificar a empatia com os telespectadores (“Vídeo Show” e “Casseta e Planeta” são exemplos magnos).
A pirâmide
O que aconteceu no Brasil, em brevíssimo resumo, foi que a TV Globo conseguiu ao longo de décadas amarrar todas as partes da pirâmide social, uma proeza notável. Silvio Santos, ao criar a emissora que depois viraria rede e se chamaria SBT, não hesitou em focar nas camadas da base da pirâmide. Era mesmo a sua praia.
Quando Adolfo Bloch criou a TV Manchete, com a pretensão de ser uma emissora “de primeira classe”, não faltou quem lhe dissesse que o topo da pirâmide, sozinho, não garantiria o faturamento e, portanto, o famoso “business model”.
O panorama ficou mais complexo principalmente depois do Plano Real, que permitiu um avanço espetacular do número de aparelhos de televisão nos domicílios (e também em estabelecimentos comerciais, tendência que se consagrou na Copa do Mundo de 1998).
Foram clubes fechados
Como o rádio, a televisão começou sofisticada e aristocrática, decorrência de equação elementar: só lares de classe média alta para cima tinham dinheiro para comprar os aparelhos, importados. O rádio, na década de 20; a televisão, três décadas depois.
Quando o número de aparelhos de TV igualou o de geladeiras, a popularização da programação foi acelerada. O conceito de “busca de audiência” pode ser vulgarmente traduzido como “apelação”. É assim em qualquer lugar do mundo e, até aqui, em todos os tempos: acesso aos bens culturais e de entretenimento mais sofisticados depende de renda.
A mesmíssima coisa aconteceu com a internet. Na sua proto-história, o BBS (Bulletin Board System), que no Brasil teve lugar no início dos anos 90, era um clube fechadíssimo. O povo foi se incorporando aos poucos (talvez aos muitos, porque o preço dos computadores jamais parou de cair).
Celular, uma explosão
A explosão do celular mudou radicalmente o panorama, e vai mudar mais ainda quando os programadores conseguirem criar uma nova geração de aplicativos.
No rádio e na televisão, a chegada de novos fregueses obriga os produtores de conteúdo a popularizar (sem ou com aspas). E a turma que curtia uma programação menos singela tende a se deslocar.
No rádio, a segmentação resolveria, mas não há massa crítica para uma programação mais elaborada, salvo em emissoras mantidas por governos. Daí a importância de rádios razoavelmente jornalísticas, como a CBN (entre outras). O problema do rádio é que sua fatia de faturamento não vai além de 6% do bolo geral. É pobre, tem poucos recursos.
Na TV a cabo, sim, a segmentação pode funcionar, mas ela caminhou aos tropeços no Brasil. Sem “gatonet”, qual é o tamanho do público assinante?
A TV aberta teve o mérito de promover uma integração social e regional. Palmas para a Rede Globo nesse quesito. Infelizmente, como o processo se deu em plena ditadura, fervorosamente apoiada pela emissora, a integração também serviu à manutenção do regime.
A internet começou também com grandes “hubs”, mas o processo de diferenciação das inúmeras tribos tende a balcanizá-la.
Esse capítulo está sendo escrito. Por todos nós que aqui estamos.
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