Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Promoção no lugar errado

Um dos raros programas jornalísticos do SBT, e seguramente o de mais qualidade, “Conexão Repórter” mostrou nos últimos anos a possibilidade de conquistar a audiência com um cardápio de assuntos incômodos, relacionados a direitos humanos, corrupção, miséria, violência, abusos de poder etc.

O experiente e premiado Roberto Cabrini acumula as funções de repórter, apresentador e editor-chefe do programa. Quase sempre com a cara fechada e a voz séria, o jornalista tem um estilo próprio, facilmente reconhecível, que combina muito bem com o cardápio “indigesto” que mostra na tela.

Por tudo isso, foi espantoso ver que o “Conexão Repórter” desta semana tenha sido dedicado a “mostrar a intimidade” de Danilo Gentili, não por acaso apresentador de outro programa do SBT, o talk show “The Noite”.

Todas as emissoras brasileiras têm por hábito promover suas atrações dentro de outros programas. A Globo faz isso de forma ostensiva, levando atores das novelas que estão no ar aos mais diferentes programas da casa. Os pretextos são variados, mas o objetivo final é um só: fazer propaganda interna.

A Record faz o mesmo. Sabrina Sato, antes de estrear, circulou por quase uma dezena de atrações, incluindo o religioso “Fala que Eu te Escuto”. Na Band, o talk show “Agora É Tarde” é o canal para este tipo de promoção. Silvio Santos sempre leva as estrelas do SBT ao seu programa com este objetivo.

Por mais que seja publicidade disfarçada, o recurso faz algum sentido dentro da área do entretenimento –é tudo diversão mesmo! Mas quando um programa jornalístico como o “Conexão Repórter” dedica uma edição inteira, num total de 52 minutos, a falar do apresentador de outro programa da mesma emissora, ele coloca em risco o seu maior tesouro, que é a credibilidade.

Pão

A Record, cuja programação vespertina é toda ao vivo, e mesmo a Band, por causa do seu “Brasil Urgente”, costumam se sair melhor que a concorrência em momentos de “breaking news” durante o dia.

Foi digno de nota, neste sentido, o movimento feito pela Globo, em São Paulo, no segundo dia (21) da greve dos ônibus na cidade. A emissora abriu mão de parte de sua programação normal para fazer uma cobertura jornalística intensiva do assunto.

Não é a primeira vez que isso ocorre, mas o “esforço de reportagem” chamou a atenção. Mostrar-se próximo do cotidiano do espectador é uma necessidade cada vez maior num momento em que proliferam as fontes de informação alternativas.

Circo

O tema já foi tratado algumas vezes nesta coluna, mas não posso deixar de registrar que no último domingo (18) a TV brasileira mostrou que ainda há limites a explorar em matéria de apelação.

Enquanto o “Domingo Legal”, de Celso Portiolli, no SBT, mostrava o casamento de Ninão, “o homem mais alto do Brasil”, o “Domingo Show”, de Geraldo Luís, na Record, apresentava Itabaianinha, uma cidade conhecida pelo número acima da média de anões.

Pior do que a sensação de ver a TV andar para trás com este tipo de programação, é constatar que os executivos das emissoras não demonstram capacidade de olhar para frente e pensar em novas formas de fazer entretenimento popular com um mínimo de qualidade.

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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo