Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Apresentador tenta tapar o sol com a peneira

O malabarismo jornalístico feito na edição de sexta-feira (31/5) do Jornal Nacional, da TV Globo, pelo seu apresentador Wiliam Bonner para mostrar, de forma branda, a taxa de crescimento de 0,2 % do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do ano passado chegou a ser patético, mas não convenceu a ninguém depois da cantilena do próprio JN durante meses de que o Brasil passaria pela crise mundial são e salvo com uma taxa de 4,5 % de crescimento.

Ao apresentar dois extremos com a China em primeiro lugar, com 7%, a Rússia em 42º lugar no ranking, com crescimento negativo e os EUA no meio, com apenas 3,2%, ficando o Brasil na 22ª posição, com 0,2 % e ainda na frente da Rússia, Bonner praticamente abandonou seu papel: como se estivesse pedindo desculpa ao telespectador usou um bancário e sua família como se fosse padrão de exemplo de queda de status com a taxa tão rasteira.

Sempre tão cioso e equilibrado ao apresentar seu noticiário, pela primeira vez o texto lido por Bonner pareceu matéria recomendada. Confuso nos dois primeiros parágrafos à procura de uma brecha para justificar o injustificável, nos parágrafos seguintes o telespectador fica sabendo do que se trata, embora não seja dito diretamente: o governo errou nas previsões e errou mais duas vezes: no cálculo e na leitura da conjuntura econômica mundial, ao adotar políticas monetária e cambial como se o Brasil estivesse por cima da carne seca, como os economistas heterodoxos costumam dizer. Ou seja, como se o Brasil fosse uma ilha inatingível da crise.

O mundo já estava mergulhado numa crise profunda quando o governo Dilma Rousseff incentivou o consumo de automóveis na suposição de que, com o governo bancando a redução do IPI, a indústria automobilística produziria e venderia mais, jogando para o alto o PIB brasileiro. Ao invés de conter os seus gastos, o governo refastelou-se em despesas extraordinárias. Em matéria de política tributária, o governo Dilma Rousseff foi austeridade zero. Por isso, o Brasil continua na liderança mundial, é o país onde mais se cobra imposto e onde menos esses impostos traduzem benefícios à população.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor