O diretor-geral da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, revelou no início de abril ter implantado cinco “fóruns” internos para avaliar a programação e propor novidades. Os grupos são formados por oito a dez pessoas, entre autores e diretores da própria emissora.
Quatro destes “fóruns” (seriados, novelas, programas de auditório e humor) dizem respeito a áreas em que a Globo tem notório domínio e saber, mas entende que precisa renovar e aperfeiçoar.
O quinto fórum é o que mais me chamou a atenção. É dedicado, como disse Schroder, a “formatos”. Além de designar as características de um determinado gênero, a palavra hoje é usada no mercado de TV para se referir a programas idealizados por produtoras estrangeiras e vendidos, sob licença, para emissoras do mundo inteiro.
Na última década, a Globo se tornou uma grande compradora de “formatos” –de “Big Brother” a “Dança dos Famosos”, passando por “The Voice”, “SuperStar” e tantos outros.
Fórmula desgastada
Ao contar que a emissora havia criado este fórum, o diretor-geral disse: “Estamos nos forçando um pouco a desenvolver formatos brasileiros. A gente vai muito atrás do mercado mundial e fica um pouco refém. Por que a gente, com a capacidade criativa gigantesca, não cria?”.
Achei curiosa –e pouco auspiciosa– a informação de que o fórum de formatos é liderado por Boninho, justamente o executivo que mais tem dirigido programas na Globo baseado em modelos comprados de produtoras estrangeiras. O colunista Ricardo Feltrin, do UOL, chegou a apelidá-lo de “diretor de micro-ondas”, justamente por este talento de “requentar” produtos já prontos.
A preocupação da Globo com esta questão deveria sensibilizar, também, seus concorrentes. Record, SBT e Band estão cada vez mais dependentes de formatos estrangeiros.
Pior, em diferentes situações, estas emissoras sinalizam enxergar na compra de um formato a solução de seus problemas, sem perceber que, na verdade, estão criando um.
Veja o caso, por exemplo, de “Me Leva Contigo”, lançado pela Record no início de maio. A atração é baseada em formato da britânica Fremantle, exibido originalmente na Austrália (“Taken Out”), e já exportado para mais de 20 países, da China à Estônia, passando por EUA, França e Japão.
Rafael Cortez foi resgatado da “geladeira”, como a própria emissora brincou, para apresentar o programa, cuja única proposta é a de promover encontros entre homens e mulheres solteiros.
Trata-se, em resumo, de um programa do gênero “Namoro na TV”, título de uma atração que Silvio Santos começou a apresentar em 1967 (copiando, talvez, algum similar estrangeiro) e que, desde então, já gerou uma dúzia de similares (como “Em Nome do Amor”, “Xaveco”, “Fica Comigo”, “Beija Sapo”, “Vai Dar Namoro” e “Rola ou Enrola”).
O programa apresentado por Cortez é das coisas mais sem graça exibidas este ano na TV brasileira. Não tem calor, emoção ou mesmo humor. Gelado, parece um ensaio, realizado de forma mecânica, para mostrar à Fremantle que a emissora sabe adaptar direitinho o formato comprado.
O mais engraçado é que Cortez, antes da estreia, reconheceu o desgaste da fórmula “namoro na TV”, mas disse que havia uma novidade no “formato”. Acreditou num canto de sereia.
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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo