Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV Cultura quer mais visibilidade

Perto de completar 45 anos no ar – o aniversário é no dia 16 -, a TV Cultura programa uma série de vinhetas ilustradas por Paulo Caruso e um pacote de comemorações que não foge à regra de buscar as pérolas do próprio baú. A efeméride valerá mais um revival de infantis como Rá-Tim-Bum, Bambalalão eXis-Tudo, além de depoimentos de estrelas que construíram sua história. A data já poderá ser celebrada dentro do novo mapa nacional da emissora, que saltou de 40 para 70 afiliadas no último ano, segundo as contas do atual presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça.

Orgulhoso pelos cortes que devolveram à emissora um caixa no azul, Mendonça completa seu primeiro ano no cargo na próxima semana, ostentando o cartaz de quem transformou R$ 43 milhões de déficit em R$ 300 mil de superávit, com uma ajudazinha do governo do Estado, que lhe repassou R$ 17 milhões a mais que os R$ 82 milhões previstos para 2013. Na segunda, ele recebeu a reportagem do Estado para a seguinte entrevista:

Como você fechou a conta dos R$ 43 milhões de déficit que dizia ter quando assumiu o cargo?

Marcos Mendonça – Quando assumi, peguei uma empresa de auditoria, que fez um levantamento da situação. E o valor do déficit para aquele ano era de R$ 43 milhões. A gente entrou aqui em processo de guerra. Começamos a cortar tudo o que fosse possível, sem tirar a emissora do ar. Economizando, no final do ano, tinha um déficit de R$ 17 milhões. O governo deu esses 17 milhões pra gente e tivemos um superávit de 300 mil. Além disso, a audiência aumentou e a gente colocou a emissora no horário noturno – ela saía do ar às 2h30 e agora estamos 24 horas no ar. E ampliamos a rede. A Cultura estava reduzida praticamente a uma rede regional, voltamos a ser uma rede nacional. Nosso potencial de alcance hoje é de 85 milhões de pessoas em todo o País.

Essa redução de rede não foi efeito da venda da programação, que antigamente era cedida gratuitamente?

M.M. – Houve um equívoco. A TV Cultura, em 2012, vendeu toda a programação para a TV Brasil por R$ 2,5 milhões ao ano. Nas cláusulas do acordo, a TV Brasil poderia passar toda essa programação em todas as suas afiliadas. É inacreditável. Se a TV Cultura custa R$ 200 milhões por ano, como pode vender a grade de programação por 2,5 milhões? Procurei a TV Brasil e disse que queria ser parceiro dela, mas em outras condições. Agora, sou coprodutor. Podemos fazer coisas juntos e permutar ou vender programa, mas não tem mais essa história da grade toda.

O Roda Vivasaiu de vez da grade da TV Brasil?

M.M. – Saiu, exatamente por isso. E, com as mudanças que fiz, a Cultura começou a dar audiência. Todo mundo começou a procurar a TV Cultura para voltar a ser afiliado. Faço um acordo comercial com eles, em que dou participação nos anúncios de rede e recebo parte do que eles faturam com anúncio local. Como a Cultura estava muito restrita ao sinal regional, também havia perdido força no empacotamento das operadoras de TV paga, que estão voltando a carregá-la. A TV Cultura estava fora, por exemplo, de Brasília. Estava fora do poder político do País.

De quanto vai ser o repasse do governo do Estado para a Cultura este ano?

M.M. – Mais ou menos R$ 100 milhões. A TV Cultura tem um custo aproximado de 220 milhões, ou seja, nós ainda temos que buscar R$ 120 milhões.

Desses R$ 120 milhões, a maioria vem de comercial?

M.M. – Não, vem de serviços, especialmente na área de educação. Por exemplo, Pedro e Bianca (série que ganhou o Emmy e o Prix Jeunesse International), vem de dinheiro da Secretaria de Educação do Estado.

Você já pode dizer que o crescimento em audiência se reverteu em faturamento?

M.M. – Não. Estou licitando uma agência para trabalhar a comercialização. A gente tem muitas amarras por causa do caráter de TV pública. Não podemos remunerar alguém que trabalhe na área comercial com comissão. Não tem solução, tem que terceirizar.

Podemos esperar conteúdo inédito ainda para este ano?

M.M. – Uma coisa que vou produzir, e é uma parceria com a TV Brasil, é o Vila Sésamo. É um projeto grande. Na minha outra gestão (à frente da Cultura, de 2004 a 2007), a gente produziu algumas coisas aqui no Brasil, agora a produção do Vila Sésamo vem para o Brasil, estamos criando dois bonecos brasileiros, para dar uma identidade.

Quantos episódios?

M.M. – A previsão é de começar a produzir no segundo semestre. O pessoal está discutindo o contrato com os americanos. Em princípio, são 106 episódios.

A TV Cultura foi apontada como segunda melhor emissora do mundo em qualidade, atrás da BBC, em uma pesquisa internacional, mas a audiência não corresponde a isso. Por quê?

M.M. – O problema da TV Cultura é que o que dá audiência na televisão é dramaturgia, e a TV Cultura é zero de dramaturgia, é muito caro, mas a gente precisa voltar a fazer. E a programação é muito segmentada, com cada programa voltado para um público diferente. E a Cultura é zero em humor, precisa ter mais. Por isso comprei essa série, Copa do Caos, que passou na MTV Brasil.

Como serão as vinhetas de 45 anos da Cultura? A Globo suspendeu a campanha de seus 45 anos porque na época, em 2010, foi acusada de fazer propaganda subliminar para o PSDB.

M.M. – (Gargalhadas) Agora que você falou é que me toquei. E ainda dizem que a gente é tucano, né?

E recebe verba do governo estadual, administrado pelo PSDB.

M.M. – (Risos) Nem pensei nisso. As vinhetas são desenhadas pelo Paulo Caruso. E teremos um Roda Viva temático, especial, Queremos chamar aqui todos os ex-apresentadores do Roda Viva. Provavelmente alguns não venham, mas todos serão convidados. Eles serão a bancada, e no centro vai estar o Brasil. É um debate em que eles vão analisar 45 anos de Brasil.

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Cristina Padiglione, do Estado de S.Paulo