Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O futuro do folhetim

Diversos autores da Globo defendem publicamente, já há anos, que as novelas deveriam ser mais curtas. O tema, porém, ainda não prosperou dentro da emissora. Além da questão do hábito, há razões econômicas para isso –devido ao alto custo, as produções precisam ficar no ar por um bom tempo para se pagar e dar lucro.

No caso das novelas das 21h, o principal produto da Globo, a questão é ainda mais delicada. A duração dos folhetins neste horário tem variado em função das estratégias de programação e dos problemas de audiência.

Comovida com o relativo sucesso de “Amor à Vida”, a emissora pediu a Walcyr Carrasco que esticasse a trama. Foram intermináveis 221 capítulos, em vez dos 185 ou 179 das quatro novelas que a antecederam.

Já “Em Família”, encerrada nesta sexta-feira, teve apenas 143 capítulos, o menor número em décadas.

Com média de 30 pontos, o ibope da novela de Manoel Carlos foi o pior de uma produção deste horário na história. “Salve Jorge”, de Gloria Perez, com média de 34, era até então dona deste título.

A última novela das 21h a ter média superior a 40 pontos foi “A Favorita”, de João Emanuel Carneiro, exibida entre 2008 e 2009.

“Ritmo alucinante”

Quando Aguinaldo Silva apresentou sua “Fina Estampa”, em 2011, a meta principal do autor era recolocar a novela das 21h no patamar dos 40 pontos. Não conseguiu, mas chegou perto.

Depois de três produções (“Insensato Coração”, “Passione” e “Viver a Vida”) com audiência média entre 35 e 36 pontos, “Fina Estampa” alcançou uma média de 39 pontos.

Convém lembrar que nem “Avenida Brasil”, a novela que mais repercutiu e agradou a crítica em muito tempo, alcançou a audiência de “Fina Estampa”.

A cada bom resultado alcançado no Ibope, Aguinaldo Silva entrava no Twitter para festejar. “FOM FOM!!!”, escrevia, em tom de fanfarra. Não espanta que justamente ele tenha sido convocado para socorrer a Globo neste momento em que a novela das 21h atingiu seu mais baixo patamar.

“Império” chega com a dura missão de mostrar que o modelo de novela das 21h não está esgotado. Para além das diferenças de estilo, Aguinaldo Silva parece ter um talento que Manoel Carlos não mostrou: farto pragmatismo e jogo de cintura.

Numa entrevista recente ao “Estadão”, o autor de “Em Família” foi questionado se reconhece algum erro em seu trabalho mais recente: “Não errei especificamente nesta novela. Fiz do jeito que fiz todas as outras, desde Maria Maria’ há 36 anos”, respondeu.

E, como é comum em situações do gênero, o autor responsabilizou o público por seu fracasso: “Pode ser que os tempos sejam outros e que não haja mais tanto espaço para se conversar nas novelas. Todos têm pressa, telegrafam seus sentimentos”.

Como observei há um mês, o texto bem escrito de “Em Família” foi uma qualidade insuficiente em uma novela com histórias pobres, conflitos pouco convincentes e tramas repetitivas.

Aguinaldo Silva promete ação e “ritmo alucinante” em “Império”. Segundo ele, é isso que “o povo quer e gosta”. Se a fórmula não funcionar nesta nova novela, será que a Globo vai, finalmente, se convencer de que este modelo precisa ser revisto?

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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo