Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tudo pela audiência na TV paga

Lançado há duas semanas no canal pago Multishow, “Tudo Pela Audiência” se propõe a um exercício essencial: rir da própria televisão.

Não é o primeiro a fazer isso, longe disso. Desde os primórdios, a TV tem oferecido farta matéria-prima para diferentes gerações de humoristas. O mais recente nesta longa tradição foi “Tá no Ar”, exibido pela Globo no início do ano.

Algumas características de “Tudo Pela Audiência”, porém, chamam a atenção. Muito de sua graça vem da exploração do tema por meio de um didatismo debochado, que já se anuncia no título do programa.

Tatá Werneck e Fábio Porchat são apresentadores de um programa de auditório que ensina como conseguir audiência a qualquer preço. Uma sucessão de esquetes explora, sem sutileza, formas de alcançar este objetivo.

A emissora optou por uma estratégia de exibição ousada, de segunda a sábado, o que reforça a impressão de que determinadas piadas já foram feitas antes. Talvez o efeito fosse mais bem alcançado com a apresentação de um episódio por semana.

Algumas das referências foram enunciadas no programa de estreia: “Você pega duas xícaras de Silvio Santos, pequenas rodelas de Faustão, polvilha com Sonia Abrão por cima, oréganos de Groisman. Você unta com uma porção de Gugu Liberato. Galisteu ralada e raspada em cima. Você deixa no forno cinco minutos, você borrifa uma Fernanda Lima, uma Cicarelli em cima, corta em Mara Maravilhas. Você glaceia tudo isso com Fausto Silva e nós temos, então, o Tudo Pela Audiência’.”

O alvo explícito são as grandes emissoras de TV aberta, onde pontificam ou já estiveram todos esses gigantes da comunicação. A este respeito, faço um breve parêntesis.

Outras referências

Não foi citado neste rol –e considero uma injustiça com ele– o nome de Geraldo Luís, apresentador do “Domingo Show”, na Record. Nenhum outro programa, nos últimos tempos, nasceu com uma proposta tão descarada de fazer qualquer negócio pela audiência.

A emissora, inclusive, dias atrás festejou o fato de a atração, em apenas quatro meses, já ter ficado 800 minutos na liderança do Ibope. O comunicado enviado à imprensa achou por bem não lembrar como conseguiu este feito.

Não deixa de ser curioso que um programa com a proposta do “Tudo Pela Audiência” tenha sido lançado em um canal do grupo Globo na TV fechada, justamente o ambiente para onde migraram muitos espectadores cansados do sensacionalismo e da baixaria na TV aberta.

É preciso lembrar que o número de assinantes de TV paga no Brasil deu um salto importante nos últimos dez anos –de cerca de 4 milhões em 2004 para os atuais 18,5 milhões.

O crescimento da base de assinantes já produziu algumas modificações na política de grupos que exploram esse filão. Várias emissoras optaram por exibir seriados americanos não mais com legendas, mas dublados.

Em 2013, o maior sucesso do Multishow foi o “Vai que Cola”, uma comédia de apelo popular, com jeito de TV aberta. Este ano, o canal TBS, do grupo Turner, vai colocar em sua programação reprises do “Pânico” e da mexicana “Chaves”, uma série da década de 70 que até hoje garante preciosos pontos de audiência ao SBT.

Nesta toada, é possível imaginar que a segunda temporada de “Tudo Pela Audiência” tenha outras referências para rir, além das mencionadas no programa de estreia deste ano.