Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV digital à cubana

Os cubanos utilizam a tecnologia há anos para abrir uma janela para o mundo, à margem das possibilidades que o Estado oferece.

Nos tempos em que reinavam os aparelhos de vídeo, que hoje parecem tão remotos, surgiram “bancos” clandestinos que alugavam os filmes que a televisão nacional ainda não tinha transmitido ou tinha decidido não programar.

Depois, com a chegada do DVD, o negócio se ampliou, e fornecedores de discos carregados de filmes e programas de TV passavam pelas casas semanalmente administrando o aluguel de seus suportes, em que vinham gravados produtos recentes transmitidos por emissoras estrangeiras.

Paralelamente a isso, desde alguns anos atrás muitos lares cubanos recebem a opção de informação e entretenimento –também paralela ao sistema de difusão estatal–que pode ser recebida através do “cabo”.

Evidentemente, esse cabo não é a televisão a cabo, que não é captada em Cuba.

É, na realidade, um sistema pelo qual uma pessoa com o equipamento técnico necessário, a começar por uma antena receptora, capta sinais televisivos de Miami e, com a ajuda de cabos coaxiais, a distribui em sua área às pessoas que queiram adquirir esse serviço.

A modalidade mais recente de acesso a programas de televisão, filmes e até informação posta em prática pelos cubanos é o chamado “pacote”, um compêndio de produtos que é distribuído em suportes digitais e que hoje é objeto de demanda enorme entre os consumidores cubanos.

Conteúdo condizente

Explico melhor: um grupo de pessoas parece trabalhar recompilando programas de TV e páginas da internet que lhes são fornecidos por outras pessoas que têm acesso à internet de banda larga (geralmente em centros de trabalho aos quais o Estado deu essa possibilidade, num país onde o acesso à rede ainda é restrito e árduo).

Assim, esses recompiladores criam um “pacote” televisivo com filmes, musicais, telenovelas, programas de informação, programas esportivos e até antivírus atualizados e páginas de internet de grande interesse para os consumidores, como o chamado Revolico, um mercado virtual onde são geridas vendas de tudo o que se pode imaginar e são oferecidos os produtos mais inacreditáveis.

Depois de criado o pacote, um grupo maior de distribuidores sai à rua e, com aparelhos portáteis, descarrega nos computadores pessoais de seus clientes esse compêndio de arquivos que pode chegar a mil gigabytes e que é vendido ao preço de 2 pesos conversíveis cubanos –um pouco mais de US$ 2.

Então o consumidor, em seu computador ou, se conseguir visualizá-la, em seu aparelho de televisão, pode desfrutar de uma programação variada em que se encontram as ofertas que os canais de televisão nacional não fazem.

E, embora duras críticas à existência desse “pacote” tenham sido feitas ao nível oficial, a demanda por ele só faz aumentar, e o conteúdo é mais condizente com o que grande parte dos cubanos deseja consumir durante os seus momentos de lazer.

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Leonardo Padura é escritor e jornalista, colunista da Folha de S.Paulo