Tem gato gordo que se mete na TV a cabo. Essa intromissão do além impede que os administradores comemorem a marca de quase 19 milhões de domicílios (30% do total) conectados a canais fechados (veja o gráfico).
Os furtos de sinal cobrem hoje 4 milhões de domicílios no Brasil, como aponta pesquisa divulgada no início de agosto pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA).
Nos cálculos do seu presidente, Oscar Simões, a utilização de sinal clandestino impõe perdas de faturamento ao setor de R$ 6 bilhões por ano, ou 21% do total. O segundo sócio nessas perdas são os poderes públicos que ficam sem arrecadar impostos, de cerca de R$ 1,8 bilhão por ano, o equivalente a 3,5% do orçamento do Município de São Paulo.
Dá para dizer que há um terceiro sócio, o assinante que paga. “Este é um negócio de escala. Quanto maior o número de assinantes, mais o preço poderia ficar mais baixo”, diz Simões.
O roubo de sinal pode ser obtido por meio de ligação clandestina via cabo, que é o gato propriamente dito. Ou, então, envolve o uso de decodificadores não homologados pela Anatel, a agência encarregada de fiscalizar o setor. Embora proibida, a venda desses aparelhos é fortemente difundida, mais ou menos como os CDs piratas ou os baseados. Em alguns casos, a captação não envolve só engenhocas eletrônicas, mas também transmissões feitas a partir do exterior. Ou seja, são esquemas clandestinos sofisticados praticados por profissionais.
Cenário pessimista
Para inibir esse tipo de pirataria, as prestadoras do serviço procuram mudar constantemente o código dos canais fechados para que, mesmo desbloqueados, os aparelhos clandestinos percam o acesso à programação paga. E, lá de quando em quando, a polícia também colabora e estoura um desses centros de transmissão. Mas parece que esse crime compensa, porque tem prosperado.
Outra ameaça não vem da família dos felinos, mas das novas tecnologias. As empresas de TV paga enfrentam, no mundo todo, a implacável concorrência da internet. Mais do que simples acesso a algumas centenas de canais, o telespectador cada vez mais procura – e encontra – conteúdos audiovisuais na hora e na plataforma mais conveniente para ele, como laptops, smartphones ou tablets.
Os sites que transmitem vídeos online também vêm tirando clientela da TV paga, sobretudo nos Estados Unidos. A empresa líder do segmento, Netflix, conta com 50 milhões de assinantes, em 40 países, 1 milhão deles na América Latina. Ela começou a atuar no Brasil em 2011, mas não divulga estatísticas sobre o universo dos seus assinantes.
Simões não se deixa impressionar pela novidade. Nos Estados Unidos, 90% dos domicílios já dispõem de acesso à TV por assinatura. Por isso, lá, o setor está mais vulnerável a perdas desse tipo. Aqui, ainda há um enorme mercado por conquistar. Por enquanto, a principal resposta das empresas a esse novo assédio da internet é o oferecimento de conteúdos sob demanda (on demand).
O setor de TV paga no Brasil apresentou crescimentos médios de 30% ao ano entre 2009 e 2012. Embora obtivesse avanço menos expressivo de sua base de clientes em 2013, de apenas 11,3%, o faturamento do setor foi de R$ 27,9 bilhões, 17,2% superior ao de 2012.
A consultoria especializada PTS aponta dois cenários para o futuro. No mais otimista, o número de assinantes pode chegar a 40,3 milhões em 2019, mais do que o dobro do atual. No cenário mais pessimista, que leva em conta crescimento econômico baixo, aumento do desemprego e queda da renda média, a base de assinantes cresceria 32% no período de cinco anos, para 25,1 milhões de brasileiros. (Colaborou Laura Maia)
******
Celso Ming é colunista do Estado de S.Paulo