Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quando a matéria veste a camisa do grupo

Sob o sol de outono de uma tarde de sexta-feira em Belo Horizonte, caminho pelos jardins do campus da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Um abraço fraterno marca meu encontro com Madalena. A coordenadora do curso de jornalismo me aguardava para uma palestra com a jovem equipe da emissora local para compartilhar experiências bem-sucedidas no campo da produção audiovisual com a rede de universidades parceiras do Futura.

A visita faz parte de uma ação de relacionamento e qualificação profissional. Atualmente, 32 universidades do Brasil compõem o grupo. Os perfis são plurais e as estruturas, distintas. Entre jovens estudantes de jornalismo e editores com vasta experiência no mercado – e que optaram pela rotina próxima ao universo acadêmico – existe um grupo heterogêneo. Aos que acreditam na beleza baseada na simetria, essa rede contradiz o óbvio, fazendo jus a traços assimétricos tecidos em uma grande teia.

A relação é pautada pela cooperação mútua e imersa nas principais discussões sobre educação. A responsabilidade pela curadoria editorial dos conteúdos exibidos em rede nacional requer diálogo e métrica. Um plano de metas facilita o trabalho diário, mas não evita tensões editoriais que, mesmo saudáveis ao ofício do bom jornalismo, desafiam o relacionamento.

Como um projeto social de comunicação de interesse público e mantido pela iniciativa privada, o Futura conta com redes de colaboradores como essa para compor sua grade de programação, sobretudo com produtos veiculados pela janela do departamento de jornalismo. Segundo pesquisa encomendada ao Instituto Datafolha em 2012, entre a população com idade igual ou superior a 16 anos no Brasil, cerca de 3,4 milhões possuem o hábito de assistir ao Futura a partir do sinal das tevês universitárias. O número parece pequeno, mas é representativo se considerarmos que o Futura alcança 94 milhões de brasileiros, independentemente da plataforma de exibição, perfil socioeconômico e faixa etária da audiência. Em contrapartida, o Futura oferece sua janela para exibição dessas e de outras produções locais. O saldo dessa equação resume parte do DNA de todo o projeto; afinal, para quem trabalha nesse grupo, tão importante quanto exibir uma reportagem é mostrar à audiência como ela foi realizada e com base em que critérios, indicadores, indivíduos e instituições. A relação entre causa e consequência faz da prática um ativo valioso nesse modelo.

Trocar ideias

As regiões Sudeste e Sul concentram o maior número de universidades parceiras, 20 no total. Do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS), ao interior de São Paulo, passando pelas ladeiras de Ouro Preto (MG) e pelas araucárias de Maringá (PR), a quantidade de produções salta aos olhos, mas traz a reboque a necessidade de diversificação de pautas em um contexto nacional. No sul da Bahia, em Ilhéus, existe outro dilema: equipe coordenada pela entusiasta Marlúcia Rocha – que acumula o cargo de secretária municipal de Educação – e com dificuldades para acesso a uma conexão de internet com alta velocidade para envio de reportagens. Próximo à Chapada dos Guimarães, em Porangatu (GO), faltam carros e sobram repórteres com perfil de liderança para formação de equipes. Paradoxos comuns a tantos elos diferentes em uma cadeia produtiva. Absorver o melhor dessa diversidade na busca por produtos jornalísticos de qualidade é a essência do meu trabalho.

Dois dos seis programas de linha do jornalismo do Futura contam diretamente com a rede de universidades. Cerca de 45% de um total aproximado de 500 reportagens exibidas por ano no Jornal Futura – telejornal diário – foram produzidas por equipes de universidades. Uma em cada quatro entrevistas do Conexão Futura – programa veiculado nos intervalos da programação – é fruto de indicações da rede. A pauta é, e sempre será, a grande menina dos olhos de todos. Faço questão de estar presente nas reuniões para definição das novas histórias. Procuro saber qual serviço será prestado e com que base científica uma investigação será levada adiante. Quando o tempo me torna refém das próprias rotinas, lembro-me do esforço feito em todos os meses de junho, quando as equipes se reúnem no Rio de Janeiro. Hora de lavar a roupa suja, trocar ideias e ajustar fluxos para manter o nível do trabalho com alto grau de relevância.

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José Brito Cunha é editor e coordenador de jornalismo do Futura