Na segunda (18), o programa vespertino “Tá na Tela”, da Band, exibiu uma reportagem sobre o estilista Clodovil Hernandes (1937-2009). Conduzida pelo próprio apresentador, Luiz Bacci, ela trazia no alto da tela um aviso: “Exclusivo”.
Na parte de baixo, a legenda: “Caça-fantasmas entra na mansão misteriosa de Clodovil”.
Bacci primeiro enquadrou a sua entrevistada e perguntou: “Rosa, você é uma caçadora de fantasmas, você é uma sensitiva, você é médium? Como é que a gente pode definir para o telespectador o trabalho que você vai fazer aqui?”.
A entrevistada respondeu: “Eu sou vidente, telepata e sensitiva”. Bacci, então, conduziu a câmera a um aposento onde estavam “os materiais que serão usados para descobrir se há espíritos, se há fantasmas, o que é que ainda ronda a casa”. Rosa acrescentou: “As emoções também podem ter ficado. As emoções dele”.
Nos minutos seguintes, Rosa foi mostrada falando sozinha enquanto andava. Bacci explicou: “É o Clodovil, então, que estaria guiando neste momento a nossa caçadora”.
E emendou: “Ela diz que aquele surto dos equipamentos seria como se Clodovil estivesse reclamando da nossa gravação”. A caça-fantasmas esclareceu: “É o que ele me passa. Rosa, abandonaram a casa.’ É que ele não gostava de coisa desorganizada”.
Cara de pau
Aos 30 anos, Bacci é a mais nova estrela da televisão brasileira. Apelidado por Marcelo Rezende de “menino de ouro”, deixou a Record, onde era repórter do “Cidade Alerta”, para comandar o próprio programa na Band, o “Tá na Tela”, em troca de um salário, especula-se, de R$ 300 mil mensais.
A sua opção pelo sensacionalismo barato, ou “bacciaria”, como muito bem definiu o jornalista Diego Assis, tem ajudado o Ibope da emissora no horário. Curiosamente, porém, o apresentador se incomoda com as críticas.
“Podem falar que é sensacionalismo, podem falar o que quiser. Aqui é o que o povo quer ver”, desabafou ao vivo no programa do último dia 26. “Eu volto a repetir aos que criticam: nós somos apenas a janela, a paisagem é a vida. E a vida é mostrada na Band.”
No dia em que fez o desabafo contra os críticos, Bacci mostrou uma reportagem sobre o acidente aéreo que causou a morte dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas, em março de 1996.
A atração principal era uma entrevista com o pai de Dinho, o líder da banda. “Com certeza é uma revelação bombástica que vai mudar tudo”, avisou a repórter do programa. Por duas horas, Bacci prometeu mostrar a entrevista, esticando o mistério até não poder mais. A audiência subiu, claro.
O pai de Dinho disse, enfim, que um dos controladores de voo de Cumbica teria lhe revelado, dias depois da tragédia, 18 anos atrás, que o acidente foi causado por erro da torre de controle do aeroporto, não do piloto.
Não deu nomes nem apresentou provas. Ainda assim, Bacci assegurou: “Essa reportagem vai mexer com todo o Brasil”.
A busca por audiência é um motor natural na TV aberta. Menos natural é ver que programas têm sido criados sem qualquer outro objetivo a não ser este. Também me assusta a cara de pau de figuras como este candidato a rei da “bacciaria”.
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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo