Graças à sua atividade como jornalista na área de defesa do consumidor, Celso Russomanno conquistou notoriedade suficiente para dar início a uma carreira política. Nos últimos anos, a relação entre essas duas atividades se tornou explícita, uma alimentando a outra.
Depois de ser derrotado na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2012, Russomanno trocou um programa local por um nacional na Record. Por quase dois anos, então, entrou de segunda a sexta na casa dos espectadores vespertinos da emissora. Foi eleito o deputado federal mais votado do Brasil em 2014.
Concluída a eleição deste ano, Russomanno reocupou seu lugar no “Programa da Tarde”. Com uma agenda política clara, ele já explicitou que, entre os seus objetivos, está o de voltar a disputar o governo municipal de São Paulo em 2016.
Não aprecio o tom muitas vezes autoritário que o jornalista usa para cobrar satisfações de quem supostamente lesou o consumidor. A postura de “justiceiro” provoca ainda mais incômodo quando o “xerife” questiona serviços públicos ineficientes, municipais ou estaduais. Como distinguir, nestas horas, o que é defesa do consumidor de campanha política?
Como outros comunicadores com carreira política, Russomanno respeita a legislação, afastando-se da TV dentro dos prazos fixados para quem vai disputar eleições. A questão que se coloca é se a legislação não deveria ser revista, de forma a limitar mais o uso dos meios de comunicação por quem vive esta dupla jornada, entre a televisão e os palanques.
“Foi ótimo”
Falando em uso da televisão em benefício próprio, não posso deixar de registrar dois casos recentes em que a Globo serviu de forma inusitada como plataforma para divulgação de produtos de artistas da casa.
No domingo (2/11), Regina Casé informou ao público que o tema do seu programa, o “Esquenta”, seria a China. A escolha foi um pretexto para falar de “Made in China”, comédia coproduzida pela Globo Filmes.
Não é a primeira vez que o programa promove atrações da Globo. A novidade, neste caso, é que o filme é dirigido pelo marido de Regina Casé, Estevão Ciavatta, e conta com a própria apresentadora no elenco.
Regina não escondeu do público a sua ligação com o diretor e o filme. A transparência, ainda assim, não foi capaz de diminuir o incômodo pela falta de cerimônia com que ocupou o auditório do seu programa para defender interesses privados.
A situação lembra outra, que ocorre na novela “Império”. A atriz Letícia Birkheuer interpreta uma jornalista, Érika, assistente do blogueiro Téo Pereira (Paulo Betti). A personagem começou a chamar a atenção por frequentemente aparecer com modelos diferentes de óculos.
Letícia não precisa de óculos, mas sugeriu à figurinista da Globo adicionar o acessório a sua personagem. “Foi mais ou menos uma ideia minha e do figurino também. Eu achei que ia dar um ar mais sério para a Érika se ela usasse óculos. Aí, a figurinista gostou e todo mundo amou no final. Foi ótimo”, explicou ao site da emissora.
O detalhe é que os óculos são de uma linha que leva o nome da própria atriz. Ou seja, com o consentimento da emissora, ela está desfilando produtos da sua marca.
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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo