Quando decidimos criar o Porta dos Fundos, o fizemos porque a televisão tinha nos dito que nosso tipo de humor não era popular, era feito para um nicho e que não daria ibope. Resolvemos fazer na internet que era onde podíamos ter gerência do nosso “projeto”. Podíamos falar o que quiséssemos do jeito que nós bem entendêssemos.
Dois anos após o lançamento, o Porta bateu a marca de mais de um bilhão de espectadores pelo Brasil e pelo mundo. Eles tinham razão, se tivéssemos feito um programa para televisão, com toda certeza nosso público teria sido muito pequeno e não teria dado ibope. Até porque iriam nos colocar sexta-feira, meia-noite e meia depois de um Globo Repórter.
Na internet tivemos a possibilidade de sermos vistos sem as amarras dos horários certinhos e dos dias determinados. Uma pessoa no Japão pode assistir aos nossos vídeos a qualquer hora do dia em qualquer lugar e mídia. A TV precisa dizer pra ela mesma o que nos disse lá trás. Que seus programas são feitos para um nicho e não vão dar ibope. A importância da internet é gigante e um terreno ainda a ser explorado.
Quando a Netflix lançou House of Cards, a internet mudou mais um pouco. Uma série original feita exclusivamente para a internet e que poderia estar no ar em qualquer emissora. Pela primeira vez, um prêmio para a televisão, o Emmy, foi para uma série da internet. O mundo começou a abrir a cabeça e se livrar do ranço de que só quando passa na TV é que é bom, de qualidade. Em outubro, o Porta dos Fundos resolveu levar os esquetes que já estão na internet para a FOX.
Nova série
Queríamos atingir um outro tipo de público, e conseguimos. Muita gente que não sabia do site tomou conhecimento do nosso conteúdo. Ou seja, cada plataforma tem o seu valor e uma não exclui a outra. Maurício Stycer e Patrícia Kogut, dois críticos de televisão criticaram em seus jornais o programa, alegando que não trazia nenhuma novidade em relação ao que já se via na internet.
Tomei um susto e fiquei feliz de saber que eles conheciam o Porta dos Fundos porque nunca, em dois anos, eles escreveram uma crítica sobre o Porta dos Fundos em suas colunas. Nem sobre os esquetes, nem sobre as nossas séries, nada. Por que será? Será que é porque estamos na internet?
Fico assustado de pensar que dois bons críticos não se deram ao trabalho de analisar nosso conteúdo somente porque não estamos na TV. E aí, quando vamos pra TV a crítica é que é igual a internet? Quando Titanic passou na TV, não vi ninguém falando que era igualzinho ao que tinha passado no cinema. Será que pra TV o transatlântico teria que ser substituído por um trem? Afinal de contas, o filme tá indo pra TV, a grande TV, a TV que legitima tudo. Eu não tenho nenhum problema com a TV. Trabalho nela e tenho projetos para ela. Mas não é só ela que existe de bom.
Mas pelo menos ir pra TV já serviu para alguma coisa. Pra chamar a atenção da crítica.
E só pra avisar, estreou a nova série do Porta dos Fundos: Refém. Mas não sei se você vai querer assistir, é na internet.
******
Fábio Porchat é humorista, colunista do Estado de S.Paulo