Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

50 anos de histórias e estórias

TV Globo é sinônimo de poderio simbólico e econômico. Sobre o veículo de comunicação é preciso referendar duas prospectivas: construiu um padrão televisivo indispensável para as emissoras que a seguem dia após dia; por outro lado definiu-se como um poder paralelo ao povo, quando as questões mais importantes do país passaram a ser pautadas por um grupo de comunicação e não pela sociedade em si.

A TV Globo poderia ser personificada metaforicamente como uma jovem senhora de cinquenta anos, disposta a manter seu status simbólico dominante, produzindo efeito e sentido em todos aqueles que a veem e reconhecem sua preponderância. Evidente que a TV Globo não produz sentido o tempo inteiro e nem todas as suas ações são reprováveis. Não é possível esquecer os grandes sucessos da teledramaturgia ou os telejornais gravados ao vivo em pleno horário nobre, resultados de uma política padronizada de transmissão.

Em 1964, após o golpe militar, os generais necessitaram de um projeto de integração nacional baseado em ações propagandistas do regime e disseminado por um meio de comunicação. Não seria o rádio, embora este veículo fosse difundido em todo o Brasil. A televisão, no Brasil, tinha apenas quatorze anos de existência. A TV Globo nasceria um ano após a investida golpista contra o governo Jango. E seria ela a escolhida para exercer o plano de integração do regime militar através das ondas da TV.

O melhor e o pior da história da TV

Evidente que a TV Globo não abdicaria desta proposta. Como talvez nenhuma outra emissora teria de coragem de fazê-lo. Por necessidade de estabelecer suas metas, a TV dos Marinho ganhou espaço nos anos seguintes; construiu parcerias importantes, criou e recriou em diversas oportunidades suas influências políticas para obter concessões de transmissão. E sobre este palco político alavancou campanhas, destituiu outras, transformou a TV no objeto de desejo de tradicionais coronéis e suas oligarquias.

A TV Globo ultimamente tem seguido outros passos que pelas esferas do público e do privado. Define, por exemplo, temas privados em suas novelas para serem discutidos publicamente. Destas duas esferas a TV Globo tem extraído assuntos conturbados para discutir e problematizar. O casamento gay, a violência contra a mulher, a homofobia, o preconceito racial são alguns dos temas recorrentes na teledramaturgia global. A relação entre a TV Globo e o Brasil tem sido muito mais de promiscuidade do que de amor. Às vezes é ódio pontual, outras uma admiração extremada.

Hoje a TV Globo é gigante tecnológico estabelecido sobre várias plataformas. Está situada nas maiores centrais de noticias do mundo, exportada pela qualidade de suas produções artísticas, definida sobre um importante efeito histórico pela construção, em meio século, de um império comunicacional. É fundamental pensar que a TV Globo exercerá este poder que já não é limitado pelas leis de concessão do Estado. E que, defendendo sua posição hegemônica, não apoiará jamais uma lei de meios para regulamentar as atividades das empresas de comunicação no país.

É difícil pensar o Brasil sem as histórias e estórias mitificadas da TV Globo e de todas as empresas da organização. Dos últimos cinquenta anos até aqui não se pode pensar nos acontecimentos mais importantes do país sem a interferência, a cobertura, a influência e a presença da TV. E quando se fala na novela que fez mais sucesso na história da TV brasileira, se quer dizer sem demérito às outras emissoras que ela é a melhor. Aliás, a TV Globo aceitou ser o melhor e o pior da história da televisão nos últimos sessenta e cinco anos, aqui no Brasil. E continuará sendo assim por definição do excelente conteúdo, pela política e pela instauração do habitus brasiliensis, que é assistir à TV Globo!

******

Mailson Ramos é escritor