Encerrei a primeira coluna de 2014 falando sobre a má recepção e a baixa audiência de Além do Horizonte, uma novela inovadora, totalmente fora do padrão, que a Globo exibiu no horário das 19h30. Escrevi então: “Espero que a reação negativa não influencie outras decisões ousadas e necessárias, seja da própria emissora, seja das suas concorrentes.”
Um ano depois, o espectador ainda fiel à TV aberta deve estar com o pé atrás. Em matéria de novelas, por exemplo, a Globo fez outras apostas ousadas ao longo do ano – nenhuma delas com o retorno esperado. Geração Brasil, que sucedeu Além do Horizonte, foi igualmente mal compreendida e rejeitada. A trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, sobre o universo dos nerds e da tecnologia, repleta de personagens extravagantes, foi vista como “difícil”.
Já Meu Pedacinho de Chão, releitura do diretor Luiz Fernando Carvalho de uma novela da década de 1970, de Benedito Ruy Barbosa, levou ao horário das 18h um mundo de encantamento, mas ficou longe de ganhar o reconhecimento que merecia.
“A novela foi prestigiada, um trabalho muito bem feito, mas não era o que o público espera de uma novela. Por isso é uma experiência”, disse Silvio de Abreu, um mês antes de assumir o cargo de diretor responsável por todos os folhetins da Globo.
Por fim, O Rebu, de George Moura e Sérgio Goldenberg, dirigida por José Luiz Villamarim, apostou em uma narrativa complexa, passada inteiramente em uma noite e um dia, também enfrentando dificuldades em cativar uma audiência maior.
Imaginação limitada
Preocupa ver a resposta da Globo a estes investimentos mais ousados. No horário das 18h, estreou Boogie Oogie, uma trama não apenas convencional, mas que investe nos truques mais batidos para fisgar o público. Já Alto Astral, que veio depois de Geração Brasil, é uma das comédias românticas mais bobinhas dos últimos anos.
A emissora exibiu boas séries e seriados em 2014, especialmente Amores Roubados, da mesma equipe que fez O Rebu. Mas ainda está longe de enfrentar o gênero com a coragem e a profundidade que se vê no exterior.
A Band mostrou, com MasterChef, que é possível pegar um formato estrangeiro já testado em uma centena de países e dar uma cara particular a ele. A atração fez um enorme e merecido sucesso, mas foi um fato isolado em meio à programação repetitiva e sem imaginação do canal.
SBT e Record passaram o ano se digladiando pelo segundo lugar no Ibope, mas não foram capazes de deixar nenhuma marca maior de esperança para 2015, salvo lampejos, como a série Plano Alto, de Marcílio Moraes. Sobre a RedeTV! não há o que dizer –só desalento.
A TV Cultura, afundada em problemas, perde a cada ano que passa um pouco da sua relevância, mas ainda assim foi capaz de levar ao ar Que Monstro Te Mordeu?, uma série infantil brilhante de Cao Hamburger.
Como escrevi em setembro (“TV em crise? Viva a crise!”), o investimento publicitário em TV aberta cresceu 22% no primeiro semestre comparado ao mesmo período do ano anterior, respondendo por 69% do total do mercado de mídia. Em números absolutos, foram R$ 11,91 bilhões de receita originada da venda de espaço comercial.
É isso que mantém o setor com enorme vitalidade – apesar da imaginação limitada. Resta esperar, em 2015, que haja mais disposição de surpreender.
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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo