Os Globos de Ouro de domingo nas categorias de televisão viraram um trunfo dos novos competidores na produção de ficção, Netflix e Amazon, contra aqueles que o público reconhece como os principais investidores do negócio na última década, a HBO e o AMC. No palco, subiram para receber prêmios os responsáveis por Transparent (produzida e distribuída pela Amazon), e os atores principais de House of Cards (Netflix) e Fargo (FX). As quatro grandes redes de televisão do país – ABC, CBS, NBC e Fox – não receberem nenhum prêmio.
Em seu encontro com a imprensa após ganhar o prêmio por seu papel em House of Cards, a fala do ator Kevin Spacey serviu de análise sobre o que está acontecendo na televisão norte-americana e serviu de contexto para o anúncio de que a Amazon, que há dez anos era uma loja de livros, contratou Woody Allen para produzir uma série.
Spacey teve uma carreira brilhante na qual não lhe faltaram papéis memoráveis para o público e prêmios da indústria. E, entretanto, em suas palavras sobre seu último empregador, a Netflix, destacou: “A Netflix é incrivelmente corajosa. Brincaram com a gente. Fomos em diversas redes de TV e todas disseram ‘gostar’ do nosso programa, acreditavam que era interessante, mas queriam ‘um piloto’. A Netflix é a única rede de televisão que disse ‘quanto vocês querem’, e dissemos duas temporadas. Vamos para a terceira e pretendemos continuar.”
Portais de produção
Desde o começo da época dourada do drama na televisão, com Família Soprano há 15 anos, o número de competidores nesse mercado só aumentou. As empresas que se dedicavam a vender conteúdo em streaming pela internet, Netflix, Amazon, ou Hulu, acabaram entrando na produção de seu próprio conteúdo. As empresas de produção que eram vendidas em plataformas de televisão paga, como a HBO, acabaram por oferecer também seu próprio conteúdo na rede (a empresa irá inaugurar plataforma de streaming esse ano, que poderá ser visto somente com uma conexão de internet), até convergir todos em um grande mercado de produtoras que vendem ficção de primeiro nível diretamente para o espectador, sem intermediários.
“Quando Família Soprano começou e colocou a HBO no mapa, o caminho foi aberto para o que acredito ser a terceira grande geração da era de ouro da televisão”, disse Spacey. “Olho para trás e vejo que não teríamos conseguido fazer o que fizemos se não fosse por um grande grupo de corajosos produtores, programadores e executivos que começaram na HBO, algo que agora acontece em tantas outras redes. Acredito que é absolutamente extraordinário.”
Spacey fez um prognóstico, no domingo, que o crescimento do mercado ainda não terminou, e que “na próxima década” veremos muitos outros competidores, “particularmente empresas que têm bilhões”, produzirem conteúdo próprio para televisão. Os analistas de Hollywood interpretaram que ele se referia a gigantes como a Google, Apple ou Microsoft, que poderemos ver como produtores do próximo fenômeno televisivo. E não será apenas assinando cheques para comprar séries. “Se você quer estar no jogo, precisa competir com conteúdo próprio. Acredito que vamos ver empresas de entretenimento transformarem-se em portais para os produtores. Acho que isso é incrível.”
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Pablo Ximénez de Sandoval, do El País em Los Angeles