Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Grupo Globo e o telão das arenas

Cobertura nos impressos, nas rádios e na internet; direito de transmissão dos jogos em TV aberta, fechada, para vender sob demanda (pay per view) e nas possíveis novas tecnologias que aparecerem; aplicativo para smartphones e tablets; edições especiais em revistas e vídeos e, desde o ano passado, testes para gerenciar o que passa nos telões das novas arenas de futebol no Brasil. O Grupo Globo segue ampliando o seu leque de oferta de produtos ligados ao esporte mais popular do país.

A Estádio TV é um projeto experimental que atua desde o ano passado no Mineirão, Arena Corinthians, Arena da Baixada, Allianz Parque, Arena do Grêmio e Beira-Rio, tendo como primeiros patrocinadores para a cobertura especial para os estádios a TIM e a Suvinil, que, respectivamente, colocou a marca nos números ao anunciar a escalação dos times e patrocina filmes de momentos especiais dos donos da casa.

Com as negociações para os estádios de Corinthians e Palmeiras este ano, os valores pagos podem chegar a casa dos R$ 3 milhões, caso todas as cotas sejam vendidas. Além disso, a proposta da empresa é criar um formato geral, de maneira a comercializar os pacotes nacionais e para os estádios da mesma cidade, fazendo com que o patrocinador pague para mais de uma arena.

Ainda em negociações com cada gestora de arena, que nesta primeira fase em raros casos é o próprio clube – que, logo, ficará com uma pequena parte dos valores negociados, quando ficar –, os contratos levam em consideração fatores diferentes quando comparados ao broadcasting tradicional.

O recorte de público potencial

Em resposta a questionamentos feitos por Ricardo Perrone em seu blog, a Estádio TV afirmou em nota considerar variáveis como a situação socioeconômica de cada cidade, a qualidade do estádio, o equipamento disponível (caso, por exemplo, do tamanho do telão) e fluxo de público.

Esta nova proposta serve como um dos exemplos de novos caminhos que a produção de audiovisual passou a levar em consideração para além de suportes físicos, como televisões e telas de cinema. Hoje, pode-se ter conteúdo direcionado, com programação particular, para smartphones – que também transmitem o sinal da TV aberta –, tablets, ônibus, aeronaves, táxis, espaços de circulação em geral (shopping centers, elevadores, saguões de espera etc.) e em novas formas de outdoors.

O espaço tradicionalmente ocupado passa a se pulverizar e flexibilizar, possibilitando ao mercado publicitário direcionar melhor a sua campanha, tendo em vista que o público-alvo está mais definido, em meio a tantas oportunidades de conteúdo segmentado.

O estádio de futebol pode ter públicos de diferentes níveis socioeconômicos, entretanto o aumento de preços dos ingressos por conta das novas arenas acaba também facilitando o recorte de público potencial para as marcas que estarão em camisetas, placas de publicidade e agora nos telões.

Clube será usado para outra empresa ter lucro

A permanência da Globo enquanto uma das principais produtoras de audiovisual também nestes novos segmentos revelam o olhar do grupo sobre o avanço tecnológico. Além disso, há a perspectiva de se manter líder em produção audiovisual, sua expertise, mesmo que a audiência e os ganhos a partir dela diminuam na TV aberta – o que, no último caso, ainda não ocorre, apesar da queda do número de televisores ligados sintonizados na TV de transmissão gratuita e do nível de atenção do telespectador.

Já ser a primeira a ocupar este novo filão de mercado, por um lado gera incertezas porque vai necessitar um dispêndio de recursos para testar e produzir os primeiros materiais, saber se os produtos culturais terão ou não adesão e resultado para as marcas que optaram por patrocinar a Estádio TV. É importante lembrar que o Brasil ainda não conseguiu desenvolver, por exemplo, canais de TV de clubes a serem vendidos sob demanda, ao contrário de países como a Espanha e Portugal, que o fazem desde finais da década de 1990, gerando nova fonte de receitas – e abrindo mais um espaço para exibição dos jogos dos times.

Ainda assim, caso o negócio dê certo, as vantagens econômicas aparecerão em forma de barreiras de mercado para futuras concorrentes. Além de ser necessário lembrar a experiência e o contato com dirigentes e mercado publicitário para vender o produto futebol, o Grupo Globo poderá lucrar primeiro com esta nova forma de produção.

Resta, portanto, aguardar para ver se neste caso haverá mudanças nos valores distribuídos, rompendo o que ocorre no broadcasting, em que a diferença do primeiro grupo, formado por Flamengo e Corinthians, está aumentando para os demais. Afinal, o que se é considerado para este caso é o fluxo de torcedores no estádio, mas também as possibilidades técnicas, quer dizer, o quanto uma marca pode ser melhor publicizada em estádio de time x quando comparado ao time y. Assim, como o beneficiário final passa a ser a empresa que gere o estádio, com o clube sendo, literalmente, usado para outra empresa ter lucro.

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Anderson David Gomes dos Santos é professor da Universidade Federal de Alagoas, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação