Sou fã de televisão, mas confesso que tenho me distanciado da tela por conta do dia a dia atarefado. Mas fiz um exercício esta semana: assisti à TV aberta no ‘horário nobre’, das 21h às 23h. E a conclusão a que cheguei é que o veículo passa por uma profunda crise de conteúdo e de criatividade.
As novelas não mais emplacam tramas envolventes e fazem uso da velha fórmula estereotipada: sexo, inveja, traição e violência. Isso está óbvio no folhetim das nove que acaba de estrear. Histórias repetidas, personagens vazios e tremendamente chatos. Parecem reprises.
Os programas de auditório e os que bebem na fonte do jornalismo trazem conteúdos esdrúxulos. Histórias e conflitos particulares tão medonhos que fica na cara do público que tudo não passa de armação. Outros resgatam crimes, e seus supostos autores, com aura de ‘exclusivo’, como se estivessem nos brindando com um furo de reportagem.
Espelho da sociedade
Os reality shows, me desculpem os fãs, estão cada vez mais chatos. Já eram uma forma de as emissoras ganharem dinheiro, investindo pesado no merchandising, na divulgação de marcas consumidas na casa. Mas agora é como se as emissoras escancarassem esse objetivo. Nos dias de hoje, os integrantes dos reality são apenas pretexto para as marcas aparecerem.
Temos ainda os telejornais que insistem em dizer que fazem uma edição imparcial e independente. Soma-se a isto a homogeneidade. Tudo é igual. Assista a todos os telejornais da noite e observe. Você vai ver que as matérias se repetem, em texto e em imagem. Se você viu um telejornal, viu todos.
E para fechar, os programas humorísticos. Que lástima. Usam e abusam de piadas prontas, preconceituosas e ofensivas, que caem no senso comum. Isso sem falar nos programas que ainda contam com mulheres de biquíni. No domingo, vejo um jovem de cueca sendo zoado e incentivado pelos apresentadores a abraçar uma dançarina.
A televisão precisa e deve passar por uma total transformação. A crise é séria, e as emissoras sabem disso. A audiência vem caindo e vai continuar. Não apenas por conta das novas tecnologias e telas, mas por um total descuido dos próprios canais de investir em novos formatos, à altura dos telespectadores. As velhas justificativas de que a televisão é o espelho da sociedade e que ela só exibe o que o povo quer ver estão ultrapassadas e errôneas.
******
Marcus Tavares é jornalista, professor e especialista em Educação e Mídia