Sim, a audiência do Jornal Nacional está caindo. No ano de 2.010 teve a sua maior queda no Ibope – 24% – em relação a 2.000. Naquela época, o JN registrava 39,2 pontos. Agora, 29,8. E o que isso significa?
Vamos começar pela ‘explicação’ dos apocalípticos. A primeira é a de que a gestão Ali Kamel/William Bonner seria desastrosa a ponto de empurrar o mais importante telenoticioso da América Latina para o ralo da audiência. A crítica é sempre feita em comparação com a gestão Armando Nogueira (não dá para fazer par com Cid Moreira, que era apenas o apresentador e não o editor, como acontece hoje com Bonner). Dizem que o JN ficou mais sisudo e que por isso a audiência teria migrado para atrações mais populares, como o CQC, que dão tratamento jocoso à informação e batem nos políticos sem dó, para deleite da moçada. Outra explicação seria o alinhamento do JN com os setores mais conservadores, mantendo sua posição em fidelidade às suas origens oficialescas, lá em 1969, quando foi ao ar pela primeira vez. Eram tempos de AI-5. E durante anos o JN serviu de linha auxiliar da ditadura.
Nenhuma das explicações é convincente. A primeira não se sustenta diante da simples lembrança de que, no tempo de Armando Nogueira/Cid Moreira, o JN surgiu nos moldes dos melhores telejornais norte-americanos e concorreu com produtos de qualidade nitidamente inferior, trazendo o frescor da novidade a uma área até então dominada pelas agências de publicidade. Elas é que produziam os principais telejornais, que inclusive levavam os nomes dos anunciantes. Aliás, esta foi a única característica que o JN manteve (o nome Jornal Nacional deveu-se ao Banco Nacional, seu primeiro patrocinador). Naquela época, Armando Nogueira/Alice Maria/Cid Moreira/Sérgio Chapelin/Walter Clark nadavam de braçada. Até porque o JN fazia parte do esforço de integração nacional empreendido pelos militares, que ofereciam amplo prestígio à emissora de dr. Roberto. Mas o mundo gira e a Lusitana roda. Hoje o mundo é outro.
Uma crise irreversível e estrutural
A segunda explicação igualmente não resiste (apesar do episódio da bolinha de papel no Serra, editorializado como ‘atentado’ no JN, versão dilapidada pelos blogueiros que analisaram o vídeo frame a frame e obrigaram a Globo a sumir com o assunto). Lembre-se que Lula, ao assumir seu primeiro mandato, estava na bancada do JN ao ser anunciado o resultado da eleição. E a Globo quase ostensivamente manifestou seu regozijo em vários momentos dos governos lulistas. O mundo gira etc.
O que explica mesmo a queda de audiência do JN chama-se internet. Minha filha tem 18 anos, estuda Cinema e História e não assiste ao JN. Informa-se pelos sites e blogs. Ela e um pedaço grande da torcida do Flamengo. O nome disso é fu-tu-ro. Ou presente, se quiser. A queda de audiência do JN guarda relação direta com a queda de audiência da televisão como um todo, em escala planetária. A cada dia, a TV abre mais espaço para os blogs, os sites, os facebooks e os twitters da vida. O ibope ainda mede audiência dos televisores, não mede audiência dos… computadores!, meio pelo qual muita gente assiste hoje à TV. O certo é que não é o JN que está perdendo audiência, é a TV que está enfrentando sua pior crise. Uma crise irreversível e estrutural. Ainda bem. O nome disso é fu-tu-ro. Ou presente, se quiser.
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Jornalista e professor