Em meio às transformações mais sérias em sua história, o mercado de TV aberta no Brasil vai assistir, entre o final de abril e o inicio de maio, à entrada em cena de uma nova empresa medidora de audiência, a GfK.
A quebra do monopólio do Ibope conta com o apoio de SBT, Record, Band e RedeTV!, que se comprometeram a financiar o serviço com US$ 130 milhões em cinco anos.
A GfK vai medir as mesmas 15 grandes cidades pesquisadas pelo Ibope, mas anuncia uma cobertura maior, abrangendo as áreas metropolitanas das capitais e favelas.
Os primeiros relatórios de audiência do novo serviço estão sendo aguardados com enorme ansiedade. Sendo significativamente diferentes dos apresentados pelo Ibope, como se espera que ocorra, vão provocar uma crise interessante no mercado.
A medição de audiência de televisão nos principais países é feita normalmente por uma única empresa. A maioria dos especialistas concorda que não há espaço para duas concorrentes nesse mercado.
Segundo relatos variados, a Globo está acompanhando bem de perto a movimentação da GfK, mas quer ver os primeiros resultados antes de decidir contratar, ou não, a empresa.
Muito barulho
Toda essa movimentação ocorre justamente no momento em que o Ibope vem constatando uma fuga incessante de audiência da TV aberta. Com raras exceções, como a Record, que saiu de um patamar muito baixo e cresceu nos últimos dez anos, as principais emissoras vêm perdendo público de forma significativa.
Líder há 45 anos, a Globo é a mais afetada. No ano em que festeja o seu cinquentenário, as principais notícias sobre a sua programação dizem respeito a recordes negativos de audiência.
Já a situação do SBT é caso de estudo. A emissora, que nos anos 80 festejava a posição de vice-líder (“Liderança absoluta do segundo lugar” era o seu slogan), viu a Record tomar o seu posto em 2007.
Em junho de 2014, para surpresa geral, a emissora de Silvio Santos conseguiu ultrapassar a de Edir Macedo no chamado PNT (Painel Nacional de Televisão), que consolida a audiência média nas 15 cidades medidas pelo instituto.
Nesses dez meses, a Record fez de tudo, sem sucesso, para retomar o segundo lugar, enquanto o SBT não fez nada de especial para mantê-lo. Enquanto a primeira investe em ruidosos programas de auditório ao vivo, a segunda aposta em reprises de melodramas mexicanos (acaba de colocar no ar, pela sexta vez, por exemplo, “A Usurpadora”), “Chaves” e pegadinhas caprichadas.
Silvio Santos permaneceu na Flórida, de férias, por três meses, entre meados de dezembro e março deste ano. Nesse período, praticamente nenhuma decisão importante foi tomada nem qualquer maior novidade foi vista na tela –e a emissora se manteve como vice-líder.
O comportamento do público interessado em televisão é muitas vezes difícil de compreender. Esta disputa chama a atenção, justamente, por opor duas emissoras com programações bem populares, mas apostas diferentes.
Enquanto os números da GfK não chegam, os do Ibope parecem estar dizendo que o espectador não quer muito barulho nem novidade.
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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo