Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

“A liberdade vale um par de sapatos”


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


SAPATADA NO PRESIDENTE


Eugênio Bucci


A liberdade vale um par de sapatos


‘Comecemos pelo aspecto formal. Na ética de imprensa não há sustentação para o ato do jornalista iraquiano Muntadhar al-Zaidi, que atirou seus sapatos contra George W. Bush durante uma entrevista coletiva em Bagdá, no domingo passado. Zaidi não rompeu apenas com as boas maneiras, indispensáveis no relacionamento com qualquer fonte. Ao desvestir o papel de entrevistador para virar protagonista de protesto político, ele deixou de lado os cânones da profissão. Mandou às favas a credencial que lhe garantia acesso ao recinto. O seu gesto, que seria compreensível se praticado por um homem comum, é inadequado para um repórter no exercício do ofício – e, por mais que os padrões de comportamento do jornalista se aproximem daqueles que valem para o homem comum, nem sempre o primeiro pode fazer ou dizer tudo aquilo que estaria autorizado ao segundo. As restrições que ele precisa observar são proporcionais aos privilégios de que ele desfruta para melhor cumprir seu dever. O homem comum não é convidado para uma coletiva com um chefe de Estado. A prerrogativa cabe apenas a jornalistas. Por isso, ao aceitar ser parte de uma coletiva, o profissional assume compromisso com as regras que a ocasião requer. Por decorrência lógica e prática, ele se obriga a abrir mão de condutas que inviabilizem a própria realização da coletiva. A sua credencial depende da manutenção desse pacto tácito, implícito a toda atividade de imprensa.


Portanto, do ponto de vista formal, Zaidi rasgou a cartilha. Aberta e ruidosamente: enquanto praticava o seu ‘tiro ao alvo’, xingou o presidente americano de cachorro, ofensa gravíssima na tradição muçulmana (agredir alguém a sapatadas também consta como insulto na mesma cultura). Ele sabia o que estava fazendo, não resta a menor dúvida. Certamente, viu justificativas para a exceção que abriu em seu código de conduta. Exceção – eis a palavra-chave. À exceção praticada pelo jornalista corresponde uma outra: a exceção em que vive o Estado iraquiano. Embora tenha lá um governo formalmente constituído, o Iraque se encontra ocupado por forças comandadas por ninguém menos que aquele que por pouco não levou uma sola na testa (Bush conseguiu esquivar-se). Diante disso, há que se perguntar: pode haver imprensa livre num país que, no fim das contas, não é livre? Se não pode haver, é razoável exigir razoabilidade dos jornalistas desse país?


À luz dessas interrogações, a questão se apresenta com um pouco mais de clareza. Mais do que um destempero gratuito, o ato do jornalista iraquiano irrompeu na imprensa mundial como a denúncia desesperada de um teatro vazio. Aquela entrevista coletiva não seria exatamente uma entrevista, mas um jogo de aparências para esconder o vínculo opressivo entre o comandante da ocupação e a sociedade ocupada. O ‘atentado dos pisantes’ despertou intenso debate no mundo inteiro e colheu apoios veementes entre os árabes. A partir disso, o ponto não é saber se Zaidi agiu ou não agiu segundo as formalidades da ética jornalística. Ele sabe que não agiu. Todo mundo sabe. O ponto é compreender o contexto profundo do seu gesto – o que nos remete a outra discussão.


Assim como uma coletiva não transcorre normalmente se os perguntadores começam a atirar peças de sua indumentária contra o entrevistado, a instituição da imprensa não pode vicejar num país que não conta com a possibilidade de deliberar soberanamente sobre seu próprio destino. Aí, falar em ética jornalística é falar de salamaleques. Se os pré-requisitos para o livre trânsito das notícias e das opiniões não estão garantidos, só o que resta é o teatro vazio, um formalismo sem conteúdo.


Lembremos que George W. Bush angariou adesões para a invasão do Iraque à custa de falsidades artificialmente difundidas nos jornais, segundo as quais Saddam Hussein, com o apoio da Al-Qaeda, manteria em seu país algumas fábricas de armas de destruição em massa. Era mentira. Antes de investir seus mísseis contra Bagdá, seu governo investiu contra a verdade. A invencionice que precedeu a guerra na qual os americanos hoje se encontram enredados constitui uma das mais torpes agressões ao direito à informação de que se tem notícia na história recente. Perto disso, o episódio de domingo passado é uma traquinagem inconseqüente. A guerra do Iraque foi produto de manipulações de má-fé, o que nos deveria fazer pensar com mais cuidado.


Antes, costumava-se dizer que, quando uma guerra começa, a primeira vítima é a verdade. Agora, temos visto que para tornar possível uma guerra injusta é preciso que se vitime, antes, a verdade. Isso significa que, atualmente, zelar pela verificação dos fatos e pela independência da imprensa é, muitas vezes, zelar pelas chances da paz. Simples assim. Não por acaso, os que querem a violência não querem saber nem da verdade nem da liberdade de imprensa. Definitivamente, não pode haver escudos morais que protejam George W. Bush de sapatadas de iraquianos. São sapatadas justas, ainda que destrambelhadas.


Eu, de minha parte, penso que, nessa profissão, sapatos servem para que se caminhe atrás da notícia, não para alvejá-la. Não conheço Muntadhar al-Zaidi. Não sei que apito ideológico ele costuma tocar. Os jornais dão conta de que tem 29 anos, é um nacionalista, opositor tanto dos Estados Unidos quanto do Irã, além de admirador de Che Guevara. Não posso nem devo julgá-lo. Sei apenas que ele se insurgiu contra uma farsa e, quanto a isso, tinha legitimidade. Foi preso. Há denúncias de que sofreu maus-tratos. Agora pesa sobre ele a ameaça de anos de cadeia. Seria uma pena truculenta demais para dois sapatos que voaram e para um iraquiano que ficou descalço.


Eugênio Bucci, jornalista, é professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade’


 


Sapatada contra Bush vira piada para Lula


Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro


‘Antes de iniciar a entrevista de ontem, o presidente Lula brincou pedindo que ninguém tirasse nenhum sapato do pé, em alusão à atitude do jornalista iraquiano que atirou os dois pés de sapato contra o presidente dos EUA, George W. Bush, no domingo, em Bagdá.


‘Gente, por favor. Ninguém tire os sapatos porque aqui, como faz muito calor, a gente vai perceber o chulé antes que alguém decida jogá-los’, disse o presidente brasileiro, que estava ao lado de outros sete mandatários no encerramento da CALC.


O ataque com sapatos do jornalista iraquiano contra o presidente Bush quase foi reproduzida ontem, mas no sentido inverso entre Lula e um jornalista estrangeiro. Lula, que já havia começado a entrevista coletiva dizendo para os repórteres serem sucintos em suas perguntas porque todos os presidentes estavam com ‘muita hambre’, fez um gesto brincando de tirar o sapato para acertar um jornalista estrangeiro que se alongava em sua indagação.


O presidente do México, por sua vez, primeiro a chegar para a entrevista, assim que chegou à sala, fez um apelo aos jornalistas que estavam ao seu lado: guardem seus sapatos.’


 


 


O Estado de S. Paulo


‘Jogo da sapatada’ vira hit na internet


‘Reuters – O incidente com o presidente americano, George W. Bush, durante uma entrevista coletiva no domingo em Bagdá tornou-se o mais novo hit da internet. Imitando o jornalista iraquiano Muntadar al-Zaidi, internautas do mundo todo testam agora sua capacidade de arremessar um sapato e acertar o líder americano que ordenou a invasão do país árabe em 2003.


Desde que Zaidi lançou seus sapatos contra Bush, uma série de sites resolveu criar jogos para ilustrar o ocorrido – as representações utilizam desde colagens com fotos em movimento até segmentos tirados do vídeo na hora do arremesso. Segundo a cultura iraquiana – e na maior parte do mundo árabe -, atirar um sapato contra alguém é uma das piores ofensas que se pode cometer.


O site www.sockandawe.com – cujo nome faz um trocadilho com ‘shock and awe’ (choque e pavor), termo utilizado pelos militares americanos para descrever o ataque inicial contra Bagdá em 2003 – dá aos jogadores 30 segundos para conseguir atingir Bush com um sapato o maior número de vezes possível.


No início do jogo, os internautas recebem o comando: ‘Objetivo – atingir o presidente Bush no rosto com seus sapatos!’ Ao ser atingido no jogo, Bush fica roxo e os jogadores recebem elogios como ‘muito bem!’. A brincadeira ganhou força e popularidade após ser compartilhada por e-mail entre amigos.


Outro site – www.boingboing.net – apresenta várias animações feitas com base no episódio, como um Bush escapando da agressão como se fosse o personagem Neo, do filme Matrix.


Segundo a Casa Branca, Bush não parece se importar com as piadas. ‘O presidente acha que foi apenas um sapato, as pessoas se expressam de modos diferentes’, afirmou Dana Perino, porta-voz da presidência americana.’


 


 


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‘Arremessador de sapatos’ cria caos no Parlamento


‘Associated Press – O caos tomou conta ontem do Parlamento iraquiano em meio a discussões sobre o jornalista xiita que atirou seus sapatos contra o presidente americano, George W. Bush, com deputados leais ao clérigo anti-EUA, Muqtada al-Sadr, pedindo sua libertação. Durante a confusão, o presidente do Parlamento anunciou sua renúncia.


O jornalista, Muntadhar al-Zaidi, deveria ter comparecido ontem ao principal tribunal do Iraque como primeiro passo no complexo sistema legal que pode terminar em um julgamento criminal. Mas, em vez disso, o juiz visitou-o em sua cela e a família foi orientada a voltar ao tribunal em oito dias, disse o irmão do repórter, Dhargham.


‘Isso significa que meu irmão foi duramente agredido e eles temem que seu comparecimento ao tribunal possa provocar revolta’, acrescentou.


Funcionários iraquianos e outro irmão de Zaidi desmentiram que o jornalista tenha sido ferido na prisão, depois de arremessar seus sapatos contra Bush no domingo.


Zaidi pode ser condenado a 2 anos de prisão de for considerado culpado por insultar um líder estrangeiro. Atirar um sapato contra alguém é uma das piores ofensas em todo o mundo árabe.


Ontem, os partidários de Al-Sadr no Parlamento interromperam a sessão convocada para rever a resolução pedindo a retirada de todas tropas americanas do Iraque até o fim de junho. Vários deputados pediram que o caso de Zaidi e as alegações de que ele foi agredido em custódia fossem discutidos. Outros deputados gritaram que o caso era um problema dos tribunais, provocando uma acalorada discussão.


Com deputados gritando uns para outros, o presidente do Parlamento, Mahmud al-Mashhadani, um sunita, gritou: ‘Não há honra em presidir este Parlamento e eu anuncio minha renúncia.’ Como Al-Mashhadani tem um histórico de comportamento excêntrico, não ficou claro se sua renúncia é séria.’


 


 


TELEVISÃO


Cristina Padiglione


Deu empate federal


‘Nem o SBT é ‘campeão absoluto da vice-liderança’ nem a Record está ‘a caminho da liderança’ – ou falta-lhes, ainda, a conquista do tal segundo lugar, feito que parecia certo até meados de 2008. As duas redes fecharam o mês de novembro absolutamente empatadas na média de audiência nacional, segundo dados do Painel Nacional de Televisão (PNT) do Ibope.


Ambas registraram 6 pontos de média na faixa das 6 h às 6 h (24 horas) e 7 pontos no período das 7 h às 24 h, que exclui, portanto, o horário tomado pela Iurd (Igreja Universal) na madrugada da Record.


Na projeção nacional, cada ponto representa quase 180 mil domicílios.


REVELAÇÃO GAÚCHA


A recuperação do SBT tem se dado especialmente graças à reprise de Pantanal e aos auditórios de Silvio Santos e Gugu Liberato.


Agora, a chegada de Revelação, novela de estréia da primeira-dama Íris Abravanel, supera a expectativa de muitas das colegas de trabalho do patrão. O título tem registrado 8 pontos em São Paulo e, surpresa, 13 em Porto Alegre. Rende mais do que várias apostas anteriores da casa nesse terreno.


Entre-linhas


O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) esclarece que cabe apenas ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a prioridade sobre a venda das cotas de patrocínio dos Jogos de Vancouver (2010) e da Olimpíada de Londres (2012).


Além do infantil Cocoricó e do programa Direções, a alta definição na TV Cultura promete chegar também para o Teatro Rá-Tim-Bum, Sr. Brasil, Ensaio e concertos da Osesp.


Para dar conta das pretensões em HD, a Cultura põe no orçamento de 2009 a compra de mais sete câmeras, totalizando 11 equipamentos high definition.


Roberto Carlos e Zezé Di Camargo & Luciano não entraram num acorde (perdão pelo trocadilho) para cantar É o Amor. Após dois dias de ensaios, concluíram que não havia tom capaz de abrigar os três nesta canção: o que estava bom para um não ornava para outro.


Descartada É o Amor, Zezé e Luciano cantarão O Portão, antigo hit de RC, no especial de fim de ano da Globo. No ar dia 25.


A Record ganhou preciosa propaganda ontem para Tropa de Elite, filme cujo direito de exibição inédita na TV aberta lhe pertence, após longa disputa com a Globo: o longa-metragem deu as caras justamente na novela A Favorita.


Tropa de Elite era assistido por Léo (Jackson Antunes), quando Catarina (Lília Cabral) desliga a TV para anunciar ao marido o fim do casamento.


Bons velhinhos mafiosos


Nem só de trambicagens vive a dupla Vidigal (Luis Gustavo) e Chuchu (Otávio Augusto), os atrapalhados mafiosos da novela Três Irmãs. Embuídos do espírito natalino, os dois venderão bexigas a crianças de Caramirim, fantasiados de Papai Noel. No ar dia 23, na Globo.’ 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Exceção, não


‘Começou com a entrevista do presidente da Vale no domingo, bradando ‘É hora de medidas de exceção’, ou seja, flexibilização dos direitos trabalhistas.


Prosseguiu com o anúncio de que o sindicato dos metalúrgicos do ABC negocia redução de jornada e outros pontos, ontem no ‘Valor’, mas é a chance de Lula flexibilizar a lei é ‘zero’, na Folha Online.


Mas já ontem, manchete do Globo Online, um plano ‘elaborado por empresários e governo de São Paulo para enfrentar a crise global’ mudando a legislação trabalhista foi despachada ao governo federal.


Início da noite, manchete de Agência Brasil e Terra, o ministro Guido ‘Mantega nega mudanças na CLT’.


DESDÉM


Abrindo página ontem no ‘NYT’, a cobertura da cúpula latino-americana mostrou uma conversa de Lula, Hugo Chávez, Raúl Castro e Evo Morales e o enunciado ‘Em encontro no Brasil, Washington é desdenhada’ (scorned).


Iniciando o longo texto do correspondente Alexei Barrionuevo, os ‘Líderes latino-americanos deram mais um passo para longe da órbita de décadas dos EUA, num encontro que reuniu quase toda a América Latina e o Caribe, mas excluiu os EUA. E, no processo de juntar os líderes de 31 países, o Brasil mais uma vez mostrou suas credenciais de líder indiscutível da América Latina’.


LÍDERES TODOS


De outro lado, em títulos da Folha Online ao site da estatal Agência Bolivariana, ‘Hugo Chávez diz que Brasil não é o líder único’ e ‘considera que a América Latina é formada por países líderes’.


UMA CHANCE


O espanhol ‘El País’, com ampla cobertura, destacou a entrada de Cuba no Grupo do Rio, como ação de Lula, além de seu pedido de ‘uma chance a Obama’, reação à expulsão proposta por Morales.


UM PRIMEIRO SINAL?


Os sites de ‘NYT’ e ‘Financial Times’ ressaltaram que Obama indicou a secretário de Agricultura um defensor do etanol e também de ‘reduzir a tarifa sobre o etanol de açúcar do Brasil’. Ele é também próximo de Hillary e Bill Clinton, com interesses no setor, inclusive no Brasil.


A redução defendida pelo futuro secretário, nota o ‘FT’, ‘não seria grátis’ e quer em contrapartida o fim da ‘conversão da floresta tropical à produção agrícola’.


PRIMO IANQUE


Paul Kennedy, historiador em Yale, propôs ontem áreas que deveriam ser priorizadas por Obama, no ‘International Herald Tribune’. ‘Primeiro, América Latina. Visitas que fiz a México, Brasil sugerem que existe um desejo amplo por uma relação equilibrada com o primo ianque’.


UMA CHANCE


O site da Americas Society, instituição de política externa voltada ao hemisfério, postou afinal sobre a cúpula latino-americana. Diz que ‘sublinha não só a crescente liderança do Brasil, mas também uma chance de Lula facilitar, servir como mediador nas relações Estados Unidos-Cuba’.


CORRUPÇÃO E NOTAS


Os sites de jornais mal registraram, mas Huffington Post e Drudge Report deram manchetes para as ameaças do governador de Illinois, que ‘quer falar’, ‘vai quebrar o silêncio’ sobre a venda da vaga de Obama no Senado.


Foi o que ele mesmo falou à TV, ontem, mas a pressão teria começado anteontem, em nota plantada na coluna de Michael Sneed no ‘Chicago Sun-Times’. A colunista, dada na própria investigação como meio privilegiado pelo governador para espalhar mensagens, noticiou supostos 21 telefonemas entre ele e o futuro chefe-de-gabinete de Obama. Em minutos, já estava na home de Drudge.


VAZIO


Ontem na home page do ‘NYT’, abaixo do logo, ‘Sucursais de Washington encolhem’ ou são fechadas, sobre a crise na cobertura da capital dos EUA por cadeias de jornais como McClatchy (acima), Tribune e Cox, às vésperas da posse de Obama


MAIOR


Lauro Jardim noticia na Veja.com que amanhã nasce a Maior, empresa que associa o ABC de Nizan Guanaes ao ‘maior grupo de mídia da região Sul’, RBS, marcando sua ‘expansão sem volta a outras regiões’. A ‘surpreendente associação tem um ponto em comum, Armínio Fraga e Pedro Parente, dupla que trabalhou no governo FHC’.’


 


 


INTERNET / CHINA


Raul Juste Lores


UE premia blogueiro chinês preso


‘DE PEQUIM – Em uma semana marcada pelo aumento da repressão à dissidência na China, o Parlamento Europeu aplaudiu de pé por um minuto o ativista chinês Hu Jia, 35, durante a entrega do Prêmio Sakharov dos Direitos Humanos.


O homenageado não pôde comparecer. O blogueiro Hu, conhecido por defender causas tão diversas como liberdade de expressão, ecologia e vítimas de transfusão de sangue contaminado, foi condenado a três anos e meio de prisão por ‘incitar subversão contra o Estado’ e cumpre pena em Pequim.


Na semana passada, vários outros dissidentes chineses também foram presos após assinar uma carta de protesto, pedindo mais democracia, durante o aniversário da Declaração dos Direitos Humanos.


Mesmo antes do anúncio de que Hu seria premiado com o Sakharov, a principal distinção do Parlamento Europeu, o embaixador chinês para a União Européia mandou uma carta de ameaça, dizendo que, se o ativista fosse premiado, ‘as relações da UE com a China ficariam seriamente afetadas’.


No início do mês, o governo chinês cancelara uma cúpula com a UE pela intenção do presidente francês, Nicolas Sarkozy, à frente do bloco, de se encontrar com o dalai-lama, líder religioso do Tibete, em reunião com outros Nobel da Paz.


Censura exportada


Vários sites que podiam ser acessados na China desde a Olimpíada de Pequim, em agosto, voltaram a ser bloqueados na semana passada. O veto atinge páginas de publicações de Hong Kong, como Asiaweek e Ming Pao, blogs e o site da rede estatal britânica BBC.


O porta-voz da Chancelaria Liu Jianchao disse na terça que o governo chinês tem o direito de censurar sites que violem as leis do país. Ele afirmou que alguns sites, sem citar quais, falam de Taiwan e China como dois países, sem aceitar a política chinesa de ‘uma só China’.


Nos últimos anos, a censura chinesa tem bloqueado mais sites em tempos de crise. A economia do país está em processo de forte desaceleração, com a ameaça de deixar milhões de desempregados.’


 


 


MÍDIA / EUA


Folha de S. Paulo


‘Time’ escolhe Obama personalidade de 2008


‘Barack Obama é a personalidade do ano, ecoa a tradicional lista da revista ‘Times’. Primeiro negro eleito presidente dos EUA, ele ‘destronou séculos de ordem social estabelecida’. A revista destaca como finalistas ainda o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a ex-candidata a vice-presidente dos EUA Sarah Palin e o cineasta chinês Zhang Yimou, que orquestrou a abertura dos Jogos Olímpicos.’


 


SAPATADA NO PRESIDENTE


Folha de S. Paulo


Sapato leva à renúncia de chefe do Legislativo iraquiano


‘Um dia depois de George W. Bush falar que espera que as autoridades iraquianas ‘não sejam muito severas’ com o jornalista que o chamou de ‘cachorro’ e atirou sapatos contra ele no domingo, a sessão de ontem do Parlamento iraquiano registrou tumulto por conta do episódio.


Houve bate-boca, que culminou com o pedido de renúncia do presidente da Casa, Mahmud Mashadani.


Apesar de a pauta do dia estipular o debate da legislação para a saída do Iraque de tropas estrangeiras de países além dos EUA, Mashadani propôs a discussão sobre a prisão do repórter Muntader al Zaidi, 29.


‘Alguns dos membros apóiam o governo, mas temos que admitir que houve erros no procedimento da detenção. E também devemos condenar o fato de ele [o jornalista] ter sido agredido’, disse Mashadani.


Foi a senha para intensas discussões entre vários deputados na Câmara. Parlamentares então abandonaram a sessão. ‘Mashadani ficou muito nervoso, suspendeu a reunião e anunciou sua renúncia’, relatou o deputado Omar Abdel Satar, que é correligionário do presidente do Parlamento. Ele afirmou que, posteriormente, iria procurar Mashadani ‘para saber se a decisão é séria ou se ele a havia tomado só porque estava nervoso devido ao caos’.


Paralelamente, familiares do jornalista voltaram a denunciar maus-tratos. Ontem, Zaidi foi ouvido por um juiz na prisão, e não no tribunal criminal, onde deve comparecer em uma semana. ‘Significa que meu irmão foi severamente agredido e que temem que sua aparição pública gere raiva no tribunal’, declarou Dargham al Zaidi ao jornal britânico ‘Guardian’.


No mesmo relato, o irmão do repórter -cujo protesto contra o presidente dos EUA tem simbolismo forte na cultura islâmica, que considera tanto a sola dos sapatos quanto o cachorro impuros- contou que, sem dar detalhes, o juiz que conduz a investigação do caso disse que Zaidi ‘cooperou’.


Não foram só os familiares do jornalista que relataram agressões. A France Presse informou que um de seus jornalistas viu manchas de sangue no ponto em que Zaidi foi imobilizado. Com agências internacionais’ 


 


TELEVISÃO


Laura Mattos


Vereza é espírita no cinema e padre na TV


‘Em meio à crise de bilheteria no cinema nacional, é impressionante o feito de ‘Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito’, filme sobre espiritismo de baixo orçamento já visto por quase meio milhão de pessoas.


O projeto é de um empresário espírita do Ceará, Luiz Eduardo Girão, 36, que resolveu se aventurar no cinema e contar a história de Bezerra de Menezes, médico e político cearense do século 19, chamado de Allan Kardec brasileiro.


Para o papel principal, ele convidou Carlos Vereza, que aceitou ‘com muita honra’, por ser espírita desde 1990. Girão conseguiu captar R$ 600 mil com empresas privadas por meio de leis de incentivo fiscal e, dono de resort e empresa de segurança privada, colocou do próprio bolso R$ 2,1 milhões na produção e divulgação da obra.


O retorno com a bilheteria (até agora 452 mil espectadores) e com a venda do DVD, que começa em março, será utilizado na produção de outro filme espírita, baseado em cartas psicografadas por Chico Xavier.


Na próxima semana, Girão diz que terá uma reunião com Carlos Eduardo Rodrigues, diretor-executivo da Globo Filmes, para apresentar o projeto de transformar o longa em uma minissérie para a Globo. ‘Se eles não toparem, vamos tentar com outras redes’, diz Girão.


Vereza conta à Folha ter sentido nas filmagens uma ‘energia que jamais’ experimentou em toda a carreira. Ele afirma ser ‘médium intuitivo’ e, ‘apesar de não incorporar espíritos, sente a presença deles’.


‘Givaldo Franco, um médium, quando assistiu ao primeiro copião [filme antes da edição final], viu [o espírito do] doutor Bezerra de Menezes [morto em 1900] ao meu lado nas cenas. Eu mantive o controle da interpretação, mas ele realmente teve uma influência nesse trabalho’, acredita.


Em parceria com a filha, Larissa Vereza, o ator gravará um audiolivro, ‘O Livro dos Espíritas’, de Allan Kardec, com os princípios do espiritismo.


Na televisão, conta o ator, rindo, ele será um padre na próxima novela das seis da Globo, ‘Paraíso’, remake da obra de Benedito Ruy Barbosa, com estréia prevista para março.


‘Mas é um padre engraçado. Como ninguém dá dinheiro para a sua igreja, ele vai jogar sinuca afim de tentar arrecadar fundos para a paróquia.’’


 


 


Fernanda Ezabella


‘Iconoclastas’ reúne guru indiano e ator


‘Os mistérios da existência humana se cruzam com a comédia num programa estrelado pelo guru indiano Deepak Chopra e o ator canadense Mike Myers. A série ‘Iconoclastas’, que vai ao ar hoje pelo canal GNT, realiza encontros do gênero, como já fez com Tom Ford e Jeff Koons, e Mario Batali e Michael Stipe.


O programa de 40 minutos conta um pouco da história de cada personalidade, desde o surgimento do interesse pela medicina e literatura (Chopra) ou pela atuação (Myers).


Os dois passeiam juntos por Nova York e o auge do encontro acontece num pequeno teatro da cidade, onde encenam uma improvisação de diálogos sobre humor e espiritualidade.


Chopra, médico e autor de mais de 50 livros em 30 línguas, e Myers, ator de filmes como ‘Quanto Mais Idiota Melhor’, também meditam num centro de bem-estar e conversam sobre entretenimento e os poderes da mente.


Entre alguns insights curiosos do encontro, os dois traçam paralelos entre os sete estágios da consciência e os movimentos de uma narrativa tradicional do cinema.


‘Acho que grande parte do humor dele vem dessa ânsia existencial’, diz Chopra, que inspirou o filme recente de Myers, ‘O Guru do Amor’.


ICONOCLASTAS Quando: hoje, às 19h Onde: GNT Classificação: não informada’


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