A comunicação televisiva atinge milhões de brasileiros, sendo que a maior parte desses milhões a tem como única fonte de informação. Por isso é preciso pensar em como esse veículo chamado televisão afeta as pessoas e, principalmente, a educação das crianças. Como seus programas nem sempre adequados ao horário e à faixa etária de seus espectadores chegam a lares brasileiros e que efeitos podem ter na formação humana de jovens e crianças.
A televisão aberta como conhecemos pouco mudou ao longo de seus 60 anos. Ela está presente em nove de cada dez lares brasileiros, segundo o IBGE. Apesar de todos os avanços tecnológicos, esse ainda é o principal meio de acesso à informação e entretenimento da maior parte da população brasileira. Por mais que se fale em TV digital, multiprogramação, interatividade e internet, na televisão o que temos pouco difere do que tínhamos há dez ou vinte anos atrás – mesmo assim, essa é a mídia que mais influencia a vida das pessoas. Dita a moda, o modo de pensar e agir, de que ou de quem gostar. Isso porque ela é um espelho da sociedade, que pauta a vida cotidiana. Embora por vezes distorcida, demonstra a organização da sociedade como ela é ou como a empresa de mídia televisiva quer que ela seja vista.
Cada canal de TV, através do conteúdo transmitido em sua programação, é capaz de interferir na vida das pessoas e no seu modo de pensar e agir, principalmente as menos instruídas ou aquelas cuja informação se limita à televisão. Acontece algo muito semelhante ao que disse Lasswell na teoria hipodérmica da comunicação: que as pessoas absorvem e aceitam tudo o que é transmitido pela mídia como verdade absoluta. A diferença é que as pessoas não aceitam assim tão passivamente, apenas assimilam o conteúdo veiculado por tratar de assuntos da sociedade. Aí, então, transmitem o que podem daquilo que ‘aprenderam’ na TV.
Saber procurar e usar adequadamente
Se esse veículo é capaz de educar adultos, determinar gostos e desgostos, criar jargões que serão usados pela maioria da população, dos mais aos menos instruídos, o impacto sobre a educação de uma criança é ainda maior. Isso porque uma criança tem a capacidade de aprender e copiar o que vê muito maior que a de um adulto, pois tudo é novidade. Precisamos ter cuidado com aquilo a que as crianças assistem.
Por mais que exista classificação indicativa para cada programa, a maioria das crianças acaba assistindo a programas inapropriados, como o Big Brother Brasil, da Rede Globo, que destaca nudez, palavrões e preconceito; A Fazenda, da Rede Record, com o mesmo enfoque; ou mesmo a novela, pois seus pais assistem e as crianças acabam assistindo junto. Há meninos e meninas entre sete e doze anos viciados em reality shows e programas como Pânico na TV, cujos horários, além do conteúdo, são totalmente inconvenientes para o bom desenvolvimento da criança. Programas nesses horários geralmente exploram conteúdos inapropriados para as crianças, tais como sexo, nudez, violência e linguagem grosseira, que ferem e agridem moralmente os padrões sadios de comportamento infantil.
Além desses programas, de horários bem indicativos, outros programas como as novelas e programas de auditório podem ser um péssimo modelo para os jovens, pois exploram a beleza feminina, a nudez e, no caso das novelas, a maldade e o crime, com vilões que sempre se dão bem até os últimos capítulos. Esses exemplos servem para nutrir sentimentos de impunidade, de ganância, de que o bonzinho sempre sofre até o último capítulo, de inferioridade para as meninas, de que precisam ser extremamente magras ou curvilíneas para atrair a atenção para serem bonitas, de que os meninos precisam ser os malandros para atrair a atenção das meninas, entre outras coisas.
Por isso, os pais precisam estar sempre atentos aos seus filhos e em especial no que diz respeito à programação a que assistem. A televisão pode ser boa no auxílio à educação de crianças, jovens e até mesmo adultos, pois oferece muita informação e tem muita coisa boa na sua programação. Apenas precisa que se saiba procurar por ela e usá-la adequadamente.
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Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, coordenador do Grupo de Pesquisa Cepos (apoiado pela Ford Foundation) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Facom-UFBA; e graduanda em Jornalismo na Unisinos, bolsista de iniciação científica Pibic-CNPq e membro do Grupo de Pesquisa Cepos