Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A usabilidade interativa e a inclusão digital

Quando se fala sobre meios de comunicação digitais, um dos aspectos mais relevantes é a navegação não-linear permitida, conforme já experienciado pela grande maioria da população através do hipertexto, modificando a maneira do ser humano se relacionar com a mídia e criando diversas opções de navegação pelo conteúdo.

A TV interativa, no âmbito do sistema de transmissão terrestre, é a passagem da já consagrada televisão de massa para um modelo que inclui as possibilidades do digital: agrega, além da tradicional imagem em movimento sonorizada, materiais textuais e gráficos, incluindo espaços para participação de quem está assistindo. Essa é uma realidade que precisa ser pensada enquanto mecanismo não-linear, de forma que proporcione a inclusão de todos, até de quem ainda não está tão adaptado às novas ferramentas de comunicação, disponibilizadas especialmente via internet.

Nesse sentido, um dos aspectos a ser considerado é a usabilidade. É fundamental que os comunicadores que planejam a interatividade na TV digital pensem na melhor maneira de chegar até o lar dos brasileiros, envolvendo a comunidade nessas discussões e buscando na diversidade do Brasil as respostas para que os conteúdos digitais sejam fomentadores do desenvolvimento humano no país.

Maior distanciamento do usuário

Para gerar uma ligação com o telespectador, a televisão analógica exige inteligentes programações de design, que organizam, dentro do quadro da tela, os elementos básicos do audiovisual. Vinhetas, legendas, animações: hoje, a programação conta com inúmeros itens, que podem entrar e sair da imagem para acrescentar informação. A organização dos televisuais interativos passa por uma outra concepção da TV, incluindo diferentes modelos de telas e apresentando elementos que permitam a navegação. O formato dessa congregação de conteúdos no televisor ainda não está definido, mas tem passado principalmente pela perspectiva de ser uma simples aproximação do que se tem hoje na web e em outros utensílios multimídia, como CD-ROMs e vídeo games.

Apesar das inúmeras semelhanças entre a televisão e o computador, cada equipamento tem finalidades diversas na vida das pessoas. Um computador é munido de teclado e mouse, que possibilitam inserção de conteúdo e interação constantes, e a proximidade do usuário do monitor permite-lhe ler textos mais extensos e com fontes (conjunto de caracteres) relativamente pequenas. Já o receptor televisivo está, em geral, posicionado no ambiente com maior distanciamento do usuário, onde não é possível ler textos em fontes pequenas e a manipulação de suas funcionalidades é feita com a utilização do controle remoto.

Regulações dos órgãos competentes

Portanto, é necessário que sejam criados projetos de usabilidade específicos para a TV digital terrestre (TDT), como alguns trabalhos acadêmicos têm proposto, justamente para que o uso do equipamento gere o entusiasmo esperado. Projetos como aplicativos interativos de bancos ou de órgãos públicos, que poderão ser acessados via televisão digital, somente serão eficazes, resultando em investimentos bem aplicados, caso façam essa aproximação crucial com o telespectador.

Em um contexto de formação histórica, onde a disparidade econômico-social é uma característica gritante, a utilização dos meios de comunicação massivos com finalidades criativas, no sentido de promover mudança da realidade dos sujeitos, pode ser instrumento fundamental, proporcionando espaços de renovação do conhecimento, capazes de influenciar na construção de sujeitos autônomos e críticos, responsáveis por abrir novas perspectivas para si mesmos.

O incipiente estágio de desenvolvimento de programação interativa para a TV digital no país é uma vantagem, na perspectiva de que estudos podem aprimorar a usabilidade desses programas antes de alcançarem a população. Nesse sentido, a avaliação das interfaces existentes é importante e deve ser considerada como função pública, já que disso deverão surgir regulações dos órgãos competentes para o uso da interatividade por parte das emissoras.

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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos; jornalista e mestranda em Ciências da Comunicação pela mesma instituição