Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A verdadeira história da Globo

Eu estava lá, escrevia vários programas na Rádio Globo, dirigida então pelo Mário Luís, Rubem Amaral (Rubem Isaac Israel) e por meu irmão Moysés Veltman (A Escolinha do Caçula, Radio Folhinha Ford, A Cidade contra o Crime, entre outros). Corria o ano de 1962. E Roberto Marinho conseguiu do então presidente Jango Goulart a concessão do canal 4, que originalmente seria da Rádio Ministério da Educação.

Para montar a TV Globo, Roberto Marinho teve o apoio técnico e financeiro da Rádio Globo. Durante três ou quatro anos, todo o faturamento da rádio era investido na construção da telemissora. E uma figura notável destacou-se nesse período – a do general Lauro Medeiros, que havia sido chefe das Comunicações do Exército. Antes de contratar Walter Clark e, mais tarde, outros executivos do ramo, convocou os profissionais que tinha à mão. Rubem Amaral, Mauro Salles e Moysés Weltman, foram os pioneiros da nova emissora.

Dívida paga

No início, até porque deveria honrar um compromisso com a Rádio Ministério da Educação, o canal 4 dedicava parte de sua programação a um público de elite. Concertos para a Juventude e cursos de inglês, entre outros, ocupavam lugar de destaque na programação.

Mas a TV Globo não conseguia decolar. Roberto associou-se então ao grupo norte-americano Time-Life, que entrou na parceria com 4 milhões de dólares. Seus adversários, em especial Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, fizeram tanto barulho contra ele, acusando-o de estar cometendo um crime contra os interesses nacionais, que conseguiram a abertura de uma CPI para investigar o contrato. Nada se apurou de irregular.

Três anos após o negócio, Roberto Marinho pagou a dívida, que já chegava, com os juros, a 5,797 milhões de dólares. Queria uma televisão que fosse só dele. Nem os irmãos, Ricardo e Rogério, que eram diretores de O Globo, entraram no negócio.

Água e vinho

A Globo só começou a decolar ao desistir do padrão ‘classe A’, por influência direta de meu irmão – que, aliás, era sócio do Roberto Marinho na MW Propaganda, que produzia a maior parte da programação da Rádio Globo.

Moysés foi decisivo na opção da nova emissora de TV em buscar o público mais popular. Como? Com a contratação de Raul Longras (Casamento na TV), Dercy Gonçalves e a incursão na telenovela. Inicialmente, com histórias escritas por Moysés (Rosinha do Sobrado, Barão Cigano etc) e por Glória Magadan, que Moysés conhecia bem dos seus tempos de contratado da Sydney Ross, para quem escreveu, entre outros, o seriado Jerônimo, o herói do sertão.

Até mesmo do Ibope o Moysés cuidou, aproximando Roberto Marinho de Carlos Augusto Montenegro e outros diretores da empresa. Foram ajustados os critérios referentes a classes sociais e econômicas – e isto favoreceu instantaneamente a TV Globo.

Depois, Rubem Amaral e Mauro Salles se afastaram da emissora, chegou Walter Clark e aí a história da televisão brasileira mudou da água para o vinho.

Fica aqui este meu registro, um certo desabafo. Não tenho lido e visto a história real do início desse império maravilhoso que agora comemora seus 40 anos de liderança.

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Jornalista