Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A volta das telenovelas mexicanas

O SBT vem tentando incessantemente repetir o sucesso alcançado no passado com telenovelas que marcaram a década de 90, como A Usurpadora, A Mentira, Carrossel e Esmeralda. O investimento expresso na contratação do novelista Tiago Santiago rendeu bons frutos, com o remake de Uma Rosa com Amor, original de Vicente Sesso. Porém, os poucos recursos disponíveis, especialmente de autores suficientes para escreverem folhetins, fez com que a emissora de Silvio Santos voltasse ao passado, na busca por resultados positivos.

Historicamente, a primeira opção do SBT sempre foi a exibição de produções mexicanas, em virtude do êxito desses produtos e do laço então existente com a Televisa, a maior exportadora de novelas no mundo. Com o tempo, esta tática simples de trazer folhetins importados acabou não mais agradando ao público e, com isso, foram amargados vários fracassos, que culminaram no rompimento do contrato com a Televisa. Silvio Santos passou a se utilizar de outras formas para impulsionar o setor e trouxe as tramas da extinta Manchete. A exibição do clássico Pantanal foi um grande êxito, pois conseguiu colocar o SBT, naquele horário, de volta ao antigo posto de segunda emissora de maior audiência no país.

Logo após este sucesso, a mulher de Silvio Santos, Íris Abravanel, encarregou-se de escrever os próximos folhetins, Revelação e Vende-se um Véu de Noiva, os quais foram dois tremendos fracassos, gerando falta de perspectiva quanto ao futuro da dramaturgia na emissora. Sem autores para desenvolverem histórias que preenchessem o horário, depois do fim de Uma Rosa Com Amor, o SBT voltou com reprises para segurar a audiência. A escolhida foi Canavial de Paixões, versão da telenovela mexicana Cañaveral de Pasiones, original de Caridad Bravo Adams, e seguem outras apresentações no horário vespertino, como Esmeralda, também uma adaptação. Isso sem falar na veiculação original de As Tontas Não Vão Ao Céu, retornando com as novelas da Televisa, sempre indo e vindo para o SBT.

Número reduzido de roteiristas criativos

As tardes do canal possuem três teleficções, Pérola Negra, Esmeralda e As Tontas Não Vão Céu, num horário antes pertencente aos filmes, na tradicional sessão Cinema em Casa. Existem sérios riscos destas atrações, não obtendo o retorno desejado, terem seus finais abruptamente encerrados, com o recurso da edição, um dos problemas mais graves que Silvio Santos tem provocado, com mudanças repentinas de horários e término antecipado de programas, de acordo com seu desempenho. Ao final de Canavial de Paixões, deve estrear a inédita Corações Feridos, de Íris Abravanel – não tão inédita assim, pois se trata de uma adaptação da mexicana La Mentira, antigo sucesso do canal.

Há um obstáculo persistente na teledramaturgia nacional: o número reduzido de roteiristas criativos para fazer a diferença, o que tem provocado a importação de tramas (prontas ou roteiros), para sobrevivência das emissoras no universo dramatúrgico, com exceção da Globo, que tem a maior fábrica de audiovisual do Brasil. Escritores, assim como elenco conhecido, estão cada vez mais escassos, com a disputa constante das emissoras pelo mercado da teledramaturgia, liderado pela Globo e, num segundo e distante plano, a Record. O público acostumou-se a ver textos realistas, onde se identificam, considerando-se representados, assim como seu dia-a-dia. Este sempre foi um dos maiores trunfos da sobrevivência da telenovela brasileira, em meio à diversidade e às adversidades televisivas.

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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição