Repercute bastante nas redes sociais o Roda Viva com os rapazes da Mídia Ninja. Gostei também. Fiquei bem impressionado com a articulação dos dois, Bruno Torturra e Pablo Capilé. Não vi o programa inteiro, mas, do que vi, acho que foi um debate muito bom.
Com limites. Havia uma clara distinção ali entre mídia tradicional (leia-se: grandes empresas de comunicação) e os dois “Ninjas”. Os jornalistas talvez sentissem o peso de representarem suas corporações. Os rapazes eram mais livres. Isto é, estavam em posição mais confortável para debater ideias, sem o peso da obrigação de defender empregos e posições conquistadas. Na batalha das ideias, essa é uma posição subjetiva melhor. A perna de quem tem muito a perder acaba pesando.
Mas, enfim, pelo que vi, e vejo por aí, a questão é a da hegemonia de narrativas. Ou de imagens, o que hoje em dia dá na mesma. Bem, essa hegemonia acabou, ou está acabando. Na verdade, a hegemonia foi contestada várias vezes antes na história.
Em especial durante a ditadura, com o que se convencionou chamar de imprensa nanica, ou alternativa. Naqueles tempos de censura, sem internet, eram jornais como Movimento e O Pasquim que furavam o cerco do silêncio ou da desinformação. Os jornais estavam amordaçados. As TVs muitas vezes eram cúmplices.
Por isso, acho que faltou ao debate da TV Cultura representantes dessa imprensa de resistência de outros tempos. Gente como Bernardo Kucinski e Raimundo Pereira teria muito a discutir com esses jovens combatentes da era digital.
Jornalista livre
Naquele tempo, ainda analógico e gutemberguiano, era mais fácil silenciar vozes discordantes. O tempo também era outro. Havia ditadura. Força bruta. Discordar dava cadeia, tortura, exílio ou morte. Barra pesada. Hoje vivemos em democracia plena. Pode-se insultar qualquer autoridade, mesmo presidentes da república, sem qualquer consequência. Pode-se fazer praticamente o que se quiser.
Além disso, com a internet, criou-se um fluxo de informações – quer dizer, de narrativas – literalmente incontrolável, a não ser que se filtre a rede, o que é não impossível mas improvável, além de ilegal. Quer dizer, a pluralidade narrativa, e mesmo a anarquia narrativa, é um fato a cada dia mais incontornável.
Quando digo “anarquia” narrativa é isso mesmo: um questionamento da hierarquia informativa – e é isso que mais incomoda a mídia tradicional, presa a velhos conceitos e enxergando muito pouco desse novo mundo que vem surgindo por aí. Não quero mitificar esses jovens, como andou sendo feito, nem transformá-los em profetas de não sei que admirável mundo novo por vir. Mas, francamente, debater com eles usando categorias tais como “modelo de negócio” e outras do tipo, me parece francamente um anacronismo.
No fundo, achei que o jornalista mais livre, entre todos, era o decano Alberto Dines, veterano de várias redações e ele mesmo um cruzado da reflexão sobre a mídia com seu Observatório da Imprensa. Estranhamente, mas talvez nem tanto, o melhor fluxo de ideias se dava entre os jovens e o mais velho profissional lá presente.
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Luiz Zanin é jornalista