Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Antonio Brasil

‘Volta e meia aparece uma matéria na imprensa americana convocando o público a ‘desligar’ ou mesmo a ‘matar’ a TV. A maioria dessas campanhas tende a ser ingênua e fora de foco. O meio ainda é polêmico e poderoso. Adoramos assisti-lo e ainda mais, criticá-lo. A verdade é que após 50 anos, a TV continua misteriosa, desconhecida, mas muito atraente.

Pesquisas recentes revelam que os americanos assistem, em média, a cerca de 7 horas de TV diariamente. No Brasil, 55% dos telespectadores são considerados viciados em TV e assistem, no mínimo, a 15 horas semanais de programação, ou mais de duas horas por dia..

As pesquisas mais ‘acadêmicas’ também apontam uma relação entre distúrbio na capacidade de aprendizagem e de concentração em crianças expostas às televisões. A polêmica sobre a TV está cada dia se assemelha mais com o problema do tabagismo. Faz mal, dá câncer, mas tem muita gente que ainda adora e não larga o cigarro por nada. TV também pode ser um vício. Outros dizem que a TV é somente uma ‘porcaria’, uma ‘goma de mascar’ ou chiclete para o cérebro. Para os militantes, TV é um repositório de baixarias, mas ninguém consegue definir as tais baixarias que fazem tanto sucesso. TV faz mal à saúde. Seus opositores propõem: menos TV e mais saúde. Ou seja, assistir TV deve ser realmente horrível.

Certamente deveríamos ver menos TV. Este problema é ainda maior para as crianças. Então, tudo bem. TV faz mal, tenho que diminuir o número de horas e afastar as crianças da temível telinha. Mas o que fazer com essas mesmas crianças quando ‘desligamos’ a TV? Quais atividades estaríamos disposto a inventar para ‘entreter’ nossos filhos? Ao desligar a TV, será que ainda temos tempo ou interesse em brincar ou conversar com nossos filhos?

Mais um seminário sobre a TV

Essas questões são importantes e não garantem respostas óbvias. Esta semana aconteceu a 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. O evento é considerado o mais importante fórum de discussões sobre qualidade da mídia para crianças e jovens. O objetivo, segundo os organizadores, é ‘discutir e propor idéias que visem a qualidade da produção de mídia’. Representantes da indústria de mídia, pesquisadores e educadores dos cinco continentes buscam novas perspectivas para o futuro da mídia.

Queria aproveitar mais esse seminário sobre a TV para lançar algumas questões relevantes: Por que não aconselhar os pais e as crianças a simplesmente desligarem a TV? Por que não ‘tentar’ uma idéia diferente e simples. Que tal passar mais tempo com seus filhos? É claro que todos irão justificar a necessidade da TV e a ausência dos pais de todas as maneiras possíveis. Mas a verdade é que muita gente não tem paciência ou qualquer interesse em dividir o seu tempo com as crianças. E este problema não se restringe a questões econômicas. A verdade incomoda. Muitos pais não estão dispostos a enfrentar seus filhos ou familiares e arriscar a desligar a famigerada TV. Isso pode ser muito perigoso. Tem gente que considera TV igual a refrigerador. O aparelho tem que estar sempre ligado senão estraga não a comida, mas as relações familiares! Televisão desligada ou quebrada obriga as pessoas a conversarem. E isso já foi razão de muitos divórcios, brigas famliares, depressão e tantos outros problemas.

Semana Desligue a sua TV

Aqui nos EUA, terra de uma TV poderosa e das mobilizações populares, esta semana estamos enfrentando os desafios de mais dessas campanhas contra a TV. Trata-se do ‘TV-Turnof Week’ ou a Semana Desligue a TV. O site tem inúmeros dados para aqueles que gostariam de largar o vício. Cerca de 73 organizações nacionais com perfis e interesses diversos apóiam mais essa iniciativa contra o poder da TV. Os organizadores anunciam que somente no ano passado, mais de 6 milhões de telespectadores se engajaram na campanha e desligaram os seus televisores. Sinceramente, considero essas campanhas muito chatas. Mas tem gosto para tudo. Os organizadores, fundamentalistas contra a TV, insistem nos males causados pelo meio e não divulgam as consequências negativas da TV desligada. Seria certamente um ótimo tema para pesquisa ou matéria de jornalismo investigativo. Mas isso é uma outra história.

Os organizadores anunciam que muitos participantes, pais e crianças, teriam aproveitado a tal semana sem TV para ‘buscar atividades mais divertidas, gratificantes e até mesmo mais relaxantes, ou seja, para redescobrir os prazeres da vida’ (sic). Eles buscaram, mas não sei se acharam. O site da campanha bem que se esforça e oferece aos interessados uma série de idéias e propostas para os pais que se disponham a enfrentar seus filhos sem TV. Sinceramente, não sei se teria coragem. Tenho as minhas dúvidas.

Fui criado na frente de uma TV e não creio que tenha sido tão mal. Sou provavelmente uma dessas crianças que sofreram os ‘malefícios irremediáveis’ de uma exposição exagerada à televisão. Aos oito meses, fui colocado em frente à telinha e, desde então, tenho visto muitas coisas. Algumas boas, outras ruins, mas confesso que seria muito difícil passar uma semana inteira sem uma ‘olhadinha’. Talvez, seja um vício como indicam outras pesquisas. Mas, a televisão também me concedeu momentos maravilhosos. Pude ver bons programas de TV e excelentes filmes antigos, que teriam sido ‘esquecidos’ pelos nossos exibidores. Participei de alguns momentos históricos em transmissões ao vivo diretamente da Lual por exemplo, e pude ver documentários inesquecíveis nos bons tempos do Globo Repórter. Mas a verdade é que assim como o cigarro no passado, ninguém faz a menor idéia sobre os verdadeiros efeitos de muitas horas de exposição exagerada a uma tecnologia poderosa, mas ainda misteriosa e desconhecida. A televisão, vício ou paixão, tem uma função muito importante: nos faz companhia e diminui, por alguns instantes, o sentimento de solidão. Desligar a TV? Seria perigoso. Ainda me lembro que alguns dos maiores problemas familiares aconteceram exatamente quando a poderosa TV estava quebrada. Deve ter sido mera coincidência.

TV a serviço da imbecilidade humana

O que mais me surpreende nessas mobilizações populares contra a TV é o tédio proporcional ao desconhecimento das verdadeiras características do meio. Falar mal, discutir e analisar os males causados pela TV rende muitos pontos no Ibope e alguns dólares. Quase todos os críticos de TV fazem questão de deixar bem claro um certo ‘ressentimento’ pelo sucesso do meio. Cinema, ao contrário, é quase sempre considerado importante, ‘acervo cultural da nação’. A TV, no entanto, é culpada por todos os problemas do mundo. TV faz mal a saúde, é sinônimo de ‘baixarias’ indefiníveis, gera violência social e condena o futuro de nossa infância e adolescência. A busca de qualidade na TV, principalmente para crianças vira saga do Santo Graal. Todo mundo procura, mas ninguém acha ou define.

A verdade é que em pouquíssimos países do mundo, a televisão tem uma presença tão avassaladora mas ao mesmo tempo tão desconhecida enquanto veículo de comunicação de massa quanto no Brasil. E isso não é culpa da televisão. A culpa é de todos nós. O preconceito contra o meio é proporcional à nossa ignorância.

Investe-se muito pouco em pesquisa séria sobre a TV em nosso país, e ainda menos na busca de novas linguagens para o meio. Assim como no futebol, todos os brasileiros entendem tudo de TV. Qualquer um opina ou critica. Mas poucos procuram pesquisar, analisar e se dedicar a desvendar os mistérios do meio televisivo.

E por falar em preconceito e para mostrar que no Brasil todos entendem de TV, nada como buscar uma das máximas do nosso velho e sábio Barão de Itarareh: ‘A televisão é maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.’’



BBB 4
Daniel Castro

‘‘BBB’ é mais eficiente do que ‘Celebridade’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/04

‘Pesquisa inédita do Datafolha revela que o ‘reality show’ ‘Big Brother Brasil’, da Globo, é mais eficiente do que a novela das oito da emissora, ‘Celebridade’, para anunciantes que fazem merchandising _ações comerciais dentro dos próprios programas, e não nos intervalos. Os dois programas têm audiência semelhante e são recordistas em merchandisings.

A pesquisa, que ouviu 628 pessoas em São Paulo em 7 de abril, mostra que ‘BBB 4’ teve uma taxa de retenção de propagandas de 53%, contra 33% de ‘Celebridade’. Taxa de retenção é o percentual de pessoas entrevistadas que citaram marcas que realmente foram veiculadas nos programas.

Outro indicador de eficiência comercial, a taxa de lembrança (ou ‘recall’) de propagandas sem citar marcas, é ainda mais favorável a ‘BBB’. Dos entrevistados, 68% disseram lembrar de publicidades do ‘reality show’, contra 41% de ‘Celebridade’.

‘Aparentemente, ‘Big Brother’ é mais eficiente porque na novela o merchandising se perde na ficção, fica camuflado. No ‘BBB’, ele é bem mais explícito’, diz Alessandro Janoni, diretor de produtos do Datafolha, que, com essa pesquisa, está lançando um novo serviço, o Painel de Mídia.

De acordo com o Datafolha, dos anunciantes de ‘BBB’, Fiat foi a marca mais lembrada, com 20% de ‘recall’. Dos de ‘Celebridade’, a Natura foi lembrada por 8% e o banco Itaú, por 6%.

OUTRO CANAL

Faísca 1 O acordo firmado entre Marcos Mendonça, candidato a presidente-executivo da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), e Jorge da Cunha Lima (atual presidente), que impediu que os dois disputassem o cargo, prevê a saída da diretora-superintendente, Julieda Puig Pereira Paes, e a permanência de Marco Antônio Coelho, diretor de jornalismo.

Faísca 2 Julieda, que entrou na Cultura no ano passado a pedido do governador Geraldo Alckmin e contratou auditoria, foi vetada por Cunha Lima. Sentindo-se traída pelo PSDB, ela está recusando qualquer cargo no governo estadual.

Faísca 3 Ainda pelo acordo, Cunha Lima será presidente do conselho curador, cargo que passará a ser remunerado.

Briga A Band estuda medidas jurídicas contra a Globo e a Record, que detêm os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Anteontem, a Band foi barrada no estádio do Morumbi. Pela lei, ela poderia gravar o jogo e exibir três minutos após seu encerramento.

Desenho ‘Procurando Nemo’ será a próxima vítima do ‘Casseta & Planeta’, que já vem exibindo tiras como ‘Os Suplicympsons’ e ‘Bebum Esponja’. Em ‘Cozinhando Memo’, o peixinho terá como amigos ostras, siris, batatas e cebolas. E acabará cozido.’



TV & SEGURANÇA
Daniel Castro

‘TVs aderem a carros blindados e escoltas’, copyright Folha de S. Paulo, 25/04/04

‘A preocupação com a violência está tomando conta das TVs. Uma delas (a Folha não revela nomes por segurança) está comprando carros blindados para reportagens noturnas e em regiões violentas de SP e Rio. Quase todos os veículos já têm película que escurece os vidros. Está ficando comum também o uso de escolta no trajeto de estádios, para proteger equipamentos. No Rio, uma emissora acaba de comprar seis novos coletes à prova de balas.

O motivo disso tudo não é só o risco em áreas violentas. Em ano eleitoral, segundo as TVs, aumenta o roubo de câmeras, que seriam vendidas a pequenas produtoras que gravam programas políticos.

OUTRO CANAL

Retorno O ‘Casseta’ desta terça deve exibir mais duas tiras de ‘Os Suplicympsons’, desenho que mistura ‘Os Simpsons’ com a família Suplicy. Em uma delas, Marta Suplicy diz que queria ser prefeita de Paris, onde ‘tem mais lojas de grife’.

Quarteto Mesmo gravando mais de 12 horas por dia, as atrizes de ‘Seus Olhos’ Bete Mendes, Regina Dourado, Lu Grimaldi e Carla Regina não se desgrudam depois que deixam o SBT. Elas dividem o mesmo flat e saem juntas todas as noites. Estão sendo chamadas de ‘As Quatro Mosqueteiras’.

Velório O último ‘Noite Afora’, de Monique Evans, vai ao ar dia 14. A Rede TV! ainda não decidiu o que colocará no lugar.’