Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Aqui jaz o sensacionalismo

Notícia do jornal Folha de S.Paulo de 12 de julho informa que o telejornal (???) Cidade Alerta pode estar com os dias contados. A jornalista Laura Mattos discorre sobre a redução de uma hora, a partir de agosto, lembrando que o concorrente Brasil Urgente já perdeu 50 minutos para Kelly Key…

Segundo a reportagem, a Record ‘quer vender uma nova cara, a de `TV de qualidade’. É interessante que a emissora apenas notasse que apresentava algo de baixa qualidade quando o Ibope caiu. De uma forma ou de outra, a opinião pública finalmente teve alguma repercussão.

Há algum tempo acompanho a campanha ‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania’ organizada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e organizações da sociedade civil, com a finalidade de promover os direitos humanos e a dignidade do cidadão na mídia. Pelo site Ética na TV (www.eticanatv.org.br), podemos verificar o Ranking da Baixaria (baseado nas denúncias de telespectadores) e saber mais detalhes sobre a campanha.

‘Velho, cansado’

No fim de maio deste ano teve repercussão um efeito da campanha, que havia solicitado que as Casas Bahia deixasse de anunciar no Cidade Alerta ou que se mostrasse contrária ao conteúdo do programa. A Record chegou a ameaçar processo contra o deputado Orlando Fantazzini, coordenador da campanha. A Rede Bandeirantes, segundo o site Ética na TV, já havia tecido críticas ao deputado e à campanha. Independentemente da causa, os anunciantes têm procurado se afastar de programas sensacionalistas.

A reportagem da FSP adianta que há planos de tirar o Cidade Alerta definitivamente do ar. E como ficaria Marcelo Rezende? Passaria por uma ‘descontaminação’ de sua imagem (ou seja, um período de ‘geladeira’) e voltaria com um programa de jornalismo investigativo. A propósito, em 15 de junho estive num ciclo de encontros promovidos pelo Instituto Livre de Jornalismo, onde Marcelo Rezende conversou com alunos e profissionais da área. Entre outras coisas, ele afirmou que credita sua audiência na ‘nova casa’ (depois da saída da Rede TV!) à sua credibilidade, pois acha que o público o acompanha por acreditar em seu passado como repórter que investiga, ‘vai a fundo’, ao contrário dos novos repórteres, que ‘querem tudo pronto, se acham importantes não pelo que fazem, mas pelo tempo de casa que têm’.

Neste ponto, relembrou suas reportagens, que levavam de três a oito meses de investigação, em média. Rezende mostrou-se descontente pelo formato do telejornal que apresenta e disse que acredita que o jornalismo de televisão (em geral) está ‘velho, cansado’. Os repórteres, segundo ele, ‘não sabem mais como contar uma história. O jornalista é um contador de histórias’. Para ele, há uma carência de bons profissionais e de uma diferenciação na linguagem.

Interesse-cidadão

Seu ‘similar’, José Luiz Datena, aproveita todas as oportunidades que tem para também manifestar desagrado com o trabalho que vem exercendo. É interessante que ambos os apresentadores afirmem que são empregados e seguem as determinações de seus chefes na condução de seus programas…

Enfim, há uma luz no fim do túnel. Jornalismo deve visar o interesse público, e não o interesse de anunciantes e emissoras em faturar mais. A opinião do público deve ser manifestada e respeitada. Os meios de comunicação, em geral, têm sido vistos como um grande negócio, em busca da geração de capital. Enquanto isso, o telespectador cada vez mais é encarado apenas como consumidor, não como cidadão. Ao consumidor corresponde um perfil comercial. O parâmetro é a audiência, referencial para a entrada da verba publicitária.

Já o interesse do cidadão, da sociedade, pode bater de frente com os interesses de empresas, políticos, governantes. Será que um dia teremos uma emissora com base nesse parâmetro, ciente de seu papel de concessão pública e que não viva em ‘estado de coma’, como a TV Cultura, em São Paulo?

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Estudante de Jornalismo