A média de audiência atual da TV Cultura, mantida pelo governo do estado, é a mais baixa da história. Corresponde a 0,8 ponto, o equivalente a 47,2 mil domicílios. O “traço” de audiência se reflete na arrecadação da emissora: em maio, sete meses após a eleição do ex-secretário de Cultura João Sayad como presidente da Fundação Padre Anchieta, a receita obtida foi 58% menor que o previsto. Em 12 meses, período em que cortou 993 vagas (46% dos funcionários fixos), a Cultura perdeu 27% de sua audiência média.
Esse cenário não é uma visão externa pessimista dos rumos da fundação. Trata-se de relatório interno produzido pela emissora, ao qual o Estado teve acesso com exclusividade. Produzido para exame da direção e do Conselho Curador, o relatório pinta um retrato pouco animador da atual gestão. Segundo a emissora, o documento “prova momento de transparência” na administração.
Historicamente, as audiências da Cultura eram baixas, mas nunca chegaram a tal patamar. Raros programas ultrapassam 1 ponto de audiência (share de 1,8). A queda média de audiência é de 26% em um ano e a Cultura ficou 21 dias no penúltimo lugar e 10 dias no último na Grande São Paulo em maio. Todos os indicadores do relatório são negativos. A meta de arrecadação de fontes externas, em maio, era de R$ 4,7 milhões e a emissora conseguiu levantar R$ 1,99 milhões. O governo investe R$ 84 milhões na Cultura, que tem dividido com a TV Gazeta os últimos lugares de audiência.
O desmonte da Cultura
Ao assumir, Sayad adotou como estratégia enxugar custos e manter o equilíbrio das contas com corte de pessoal. “Mas corremos o risco de a TV não aguentar esse processo. É impossível de sustentar”, afirmou um conselheiro, que prefere não se identificar. “Embora haja corte brutal de funcionários, há um aumento inexplicável de despesa com funcionários afastados.” O estudo aponta que 22 funcionários recebem pela emissora para, na verdade, atuarem na Secretaria de Estado da Cultura. Dividindo-se o valor pago mensalmente pelo número de empregados, chega-se a salários mensais de R$ 13 mil – certamente, funcionários da cúpula da Secretaria. No Conselho, que antigamente não tinha remuneração, dois funcionários recebem R$ 45 mil.
Os problemas de gestão da TV Cultura expõem com nitidez as divergências internas do PSDB, partido que controla a emissora desde o fim dos anos 1990. Em cinco anos, a emissora teve três presidentes, cada um ligado a um governador. Marcos Mendonça, no período 2004-2007, começou o mandato no governo Geraldo Alckmin, mas teve de sair por exigência de José Serra. O tucano escolheu como substituto o jornalista Paulo Markun, que o desagradou progressivamente por não conseguir “enxugar” a televisão no ritmo almejado.
Ao deixar o governo para disputar as eleições, em 2010, Serra encaminhou uma nova mudança: instruiu o sucessor, Alberto Goldman, a apoiar a eleição do então secretário de Cultura, João Sayad, para o comando. Mas o custo político que o desmonte da Cultura traz, segundos fontes, tem desagradado ao atual governador.
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[Jotabê Medeiros é jornalista]