A crítica brasileira tem falado pouco e mal do show de Diego Armando Maradona, 45 anos, La Noche del Diez, às segundas-feiras no Canal Trece argentino (o Sportv retransmite). Daqui brilharam no programa Pelé, o entrevistado da estréia, e Xuxa. Para o ano que vem, ele quer Roberto Carlos (o cantor, não o camisa 6 da seleção) e Hugo Chávez. Em 13 shows ao longo de seis meses, Maradona conseguiu média de 25% de audiência – com Pelé, inéditos 34%, num país sem monopólio televisivo. A série foi encerrada com Mike Tyson, e só volta em 2006.
Não deu para entender a enxurrada de críticas que se seguiu à entrevista de Fidel Castro ao craque. Este país definitivamente perdeu o humor. Foi muito engraçado ver um ‘maluquinho’ entrevistando um ‘ditador sanguinário’ – não é assim que ele é tratado por aqui? A parte final, por exemplo, foi hilariante: ‘Cinco horas já?’, perguntou o comandante. ‘Mas como? Não vi… e você me perguntou cada coisa!’ Com uma cara espantada, tirou o relógio do pulso: ‘Devo estar mal, deixa ver…’, e marcou as batidas do coração: ‘O quê? 64 por minuto? Devo estar à beira de uma parada cardíaca!’ Maradona gargalhava, e nós, os telespectadores, também. Na troca de presentes, o comandante tirou seu jaquetão militar e deu-o a um deslumbrado Maradona. ‘Não acredito, coube em mim!’ (os dois, em tratamento, estão magrinhos). Fidel ganhou em troca um conjunto de chimarrão.
Tudo bem, La Noche é uma mistura de Flávio Cavalcanti e Luciana Gimenez – sem baixaria, viu? É brega, é cafona, cheio de fumaça e holofote colorido, mas tem momentos imperdíveis. Há uns quadros com jogos de bola estranhíssimos, diferentões, que reúnem jogadores conhecidos e os filhos dos atletas, tudo muito divertido. Quem segura um mínimo de profissionalismo – e um máximo de mercantilismo, diga-se – é o ex-goleirão bonitão Sergio Javier Goycochea, 42 anos. Dieguito bate na cintura dele…
Exagero à parte, Goycochea perguntou no outro dia a Diego, em meio a um comercial:
– E aí, recebeu a TV de plasma, instalou?
– Recebi, instalei, obrigado, Fulano, mas agora precisa me mandar um quarto novo, porque a TV fica assim, ó, na minha cara! (Faz o gesto de uma tela em cima do nariz.)
Quando está sóbrio…
O culto à personalidade é total. Tudo gira em torno dele, o Deus (como alguns argentinos o tratam). Isso cansa um pouco, é certo. Todos querem beijá-lo, agradecer, agarrar. Quem vê os jogos do Boca Juniors conhece essa praxe. Na partida Boca 4 x 1 Internacional, pela Sul-Americana, por exemplo, a qualquer lance a câmera mostrava Maradona num camarote, e ele representava o tempo todo, pulando, gritando, abraçando pessoas próximas – os olhos sempre nas lentes. Vive disso, fazer o quê? O auge desse culto foi a longa entrevista que Maradona deu a… Maradona, no programa de duas semanas atrás. Um Maradona barbeado e arrumado, esse que não se droga há um ano e meio, fazia perguntas a um Maradona de barba crescida e amargurado pela perda de muitas coisas, inclusive do casamento. Piegas que só ele. Vai ver ninguém se atreveria a fazer as perguntas que ele próprio se fez…
Mas sejamos sinceros, que jogador brasileiro tem carisma e informação para comandar um programa de TV, hein? Quem imagina um jogador brasileiro liderando manifestações populares? Claro, vão dizer que se trata de um drogado amoral, que destruiu a carreira, deu mau exemplo aos jovens, um amante de ditadores, e isso, e aquilo.
Apesar de tudo, quando está sóbrio… não tem pra ninguém.