Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Coberturas com menos mesmice

Não seria exagero afirmar que, de todas as teorias existentes no jornalismo e na prática do telejornalismo, a grande maioria sucumbe. Elas desaparecem, pois há um grande hiato entre teoria e prática.

É de extrema importância considerar que as escolas de graduação em jornalismo pouquíssimas vezes tornam os alunos – futuros profissionais – realmente capacitados para enfrentar o mercado de trabalho. Muitos desses alunos são praticamente obrigados a arrumar estágios e empregos na área para ter alguma vivência prática com o objeto estudado e, assim, se formarem com o mínimo de noção. Isto porque entre um ambiente acadêmico e o ambiente profissional há uma total discrepância entre teoria e prática. Não é incomum ver profissionais atuantes há cinco, dez anos, no mercado de trabalho (ou até menos), que não se recordam de algumas das infindáveis teorias da comunicação, como de Benjamin, Adorno etc.

Qual a avaliação deste ponto? Essa resposta merece uma reflexão um pouco mais elaborada. Não olhando para trás, mas para o próprio dia-a-dia da televisão brasileira. Entreter o telespectador é a maior função do telejornalista. Não há como ser iludido pela visionária meta de que a primeira função do telejornalismo é informar. Isso, atualmente, é a segunda ferramenta básica da televisão. Basta pensar: se ninguém assiste a um programa, sua audiência é baixa; sendo baixa, há poucos anunciantes; se não há investimento, não há viabilidade para mantê-lo no ar.

O ‘quadradismo’ das cabeças

Mas, como deixar esse ‘informar’ mais interessante e menos pesado? Deixar claro para o telespectador que assistir ao programa, ao noticiário, é importante, não é tarefa fácil. Portanto, a grande fórmula utilizada, desde os primórdios da TV Tupi, é a ‘mesmice’. Radical pensar dessa forma. Mas, é necessário. Talvez devêssemos parar de ser tão repetitivos. Sim, uma tragédia é notícia, vende e entretém. Mas as formas como se pode narrá-la devem ser variadas para que, no inconsciente do telespectador, um fato novo não remeta a outro já exibido – seja por sua natureza catastrófica ou por qual fato for.

Com as festas de final de ano (Natal, Ano Novo) ou mesmo o Carnaval, o telejornalismo precisa mostrar sua força, para vender e para informar. De nada adianta aquela postura engessada dos padrões americanos de passar a notícia, de fazer um script.

Em certa redação se pergunta: mas por que mostrar a queima de fogos da virada, se todo ano é a mesma coisa? A resposta é simples: por mais repetitivo que seja, sempre há gente que nunca viu e sempre existem pessoas que querem ver mais uma vez. Bem, aí chegamos ao clímax da discussão. Pelo fato de, teoricamente, o fato ser igual, é preciso que sempre haja o mesmo tipo de cobertura? Esta é a discussão que precisa ser feita nas redações – e incluídas as faculdades. A televisão usa do belíssimo artifício das imagens conciliadas com a palavra falada. Nada se compara à intensidade e alcance que isto pode ter. Novas ‘cabeças’, mais abertas e mais ousadas, estão ingressando nas redações para tornar o conhecimento da ‘mesmice’, cada vez mais diferente e sedutora.

A cobertura da queima de fogos ser sempre a mesma, mas os personagens que lá estão não serão, as histórias do ano também não. Basta que o repórter coloque em prática nas ruas aquilo que a teoria das faculdades não o ensina: a criatividade. Os bancos acadêmicos não libertam para a criação. Se continuar existindo esse ‘quadradismo’ das cabeças que dão ordem, da visão sem liberdade de criação, estaremos sucumbidos – tanto quanto telespectadores, quanto repórteres – à ‘mesmice’ do dia-a-dia.

Se as teorias já foram postas de lado na luta entre faculdades e mundo real, que elas sejam honradas pela forma qualitativa de se fazer TV.

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Jornalista, Juiz de Fora, MG