Aquele que deveria ser apenas um substituto temporário acabou ficando mais tempo do que esperava. E deverá preencher a vaga por mais alguns meses. Bob Schieffer, uma das estampas do jornalismo da rede CBS há mais de 30 anos, assina a apresentação do jornalístico dominical Face The Nation desde 1991. Em março de 2005, foi convidado pela presidência da divisão de jornalismo a acumular uma segunda função: assumir a vaga deixada por Dan Rather na apresentação diária do telejornal CBS Evening News.
Rather encerrou sua trajetória de 24 anos como o jornalista número 1 da CBS meses após ter realizado uma reportagem sobre o histórico do presidente George W. Bush na Guarda Nacional americana. Os documentos utilizados como base para a reportagem não tiveram a sua autenticidade comprovada. Quatro produtores foram demitidos e o programa 60 Minutes II, cuja equipe a produziu, foi extinto da grade da rede. As conseqüências foram desastrosas para a credibilidade da CBS. Em função desse tropeço, o âncora Dan Rather viu-se na posição de abrir mão do posto no telejornal diário um ano antes do previsto.
O jornalista Bob Schieffer não imaginava que passaria a ser o responsável interino pelo telejornal, que em tempos passados já foi imbatível na escolha do público. Em declarações dadas recentemente, Schieffer explicou que entre as várias pretensões profissionais que já teve, comandar o CBS Evening News diariamente nunca foi uma delas – ele eventualmente o apresentava durante os sábados. ‘Nem nos meus sonhos mais espetaculares me ocorreu que poderia ter a vaga de âncora’, disse o jornalista em frase reproduzida por vários jornais e revistas dos Estados Unidos. Diante das câmeras da CBS, inovou. Passou a burlar roteiros e conversar improvisadamente ao vivo com os repórteres do informativo, em vez de usar perguntas ensaiadas como a maioria dos apresentadores.
Na edição de novembro e dezembro do Columbia Journalism Review, da faculdade de jornalismo da Columbia University, de Nova York, o jornalista Lee Michael Katz entrevistou Bob Schieffer. Os temas abordados foram desde os problemas de audiência do telejornal, que é terceiro colocado no confronto com NBC e ABC, até projeções sobre a nova fórmula que o noticiário deve adotar. Curiosamente, a provável contratação da jornalista Katie Couric, da NBC, para assumir o noticiário da CBS não foi mencionada (ver ‘Mexidas drásticas, milhões em jogo‘).
Perfil de Schieffer
Schieffer deu os primeiros passos como jornalista na editoria de polícia do jornal Fort Worth Star Telegram, em 1965. Nesta passagem, foi o primeiro repórter de jornal do Texas a cobrir a guerra do Vietnã in loco. Depois atuou como repórter de televisão da WBAP-TV, em Dallas. Entrou para a CBS News há 36 anos, tendo sido setorista em Washington. Atuou naqueles que são considerados os pontos jornalísticos mais altos da capital norte-americana: a Casa Branca, o Pentágono, o Departamento de Estado e o Congresso Nacional.
Na entrevista para o Columbia Journalism Review, Schieffer começou explicando que o impacto dos telejornais noturnos de meia-hora junto ao público acabou pulverizado em função do número crescente de fontes de informação.
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Os telejornais nacionais de meia-hora ainda são relevantes?
Bob Schieffer – Provavelmente não o quanto já foram, simplesmente porque existem mais lugares onde se pode ir para achar as notícias. Se vamos sobreviver, e acho que vamos, nós teremos de achar novas maneiras de contar para o público as coisas e identificar o público de telejornalismo com coisas que ele precisa saber.
Você está em último lugar na audiência.
Schieffer – Bom, que o seja. A audiência tem a ver com muitas coisas, não apenas com o conteúdo do telejornal, para ser franco. Eu não uso isso como desculpa, mas as emissoras que exibem o programa de Oprah Winfrey antes dos seus noticiários locais e nacionais geralmente se saem melhor.
Levando em conta a audiência, você acha que o CBS Evening News poderia passar a usar técnicas como a de comentaristas polêmicos para aumentar os índices?
Schieffer – Não. Se o telejornal chegar neste ponto, é melhor que seja tirado do ar. Eu não estou preocupado com o noticiário se tornar programa de entretenimento. Mas eu acredito que se não evoluirmos mais do que estes programas, seguiremos o caminho do jornal impresso. As pessoas simplesmente não verão mais uma necessidade para nós. Eu ainda acho temos uma chance de tornar os telejornais noturnos mais relevantes. Não há nada de errado em fazer as coisas de uma maneira mais informal, o que temos feito. Falar usando uma linguagem que as pessoas usam normalmente. Esses bate-papos que eu iniciei com os repórteres em entradas ao vivo é a versão da televisão para o lead de uma notícia e depois uma reflexão. É dar aos nossos telespectadores algo que não tinham antes: a impressão pessoal do repórter.
Rejuvenescendo o telejornalismo
Conforme o retratado em ‘Mexidas drásticas, milhões em jogo‘, neste Observatório, com a saída de Dan Rather, o presidente da CBS, Leslie Moonves, aproveitou a oportunidade para lançar um projeto que visa tornar o telejornal interessante para um público telespectador mais jovem, já que a média de idade da audiência dos telejornais noturnos americanos vinha sendo a de impressionantes 60 anos. Cogitou-se a hipótese de introduzir vários apresentadores mais jovens, mas experientes. A possibilidade também é estendida para a equipe de repórteres e correspondentes, que possivelmente também devem pular na fonte da juventude.
O apresentador do programa humorístico Daily Show, Jon Stewart, também estaria cotado para desempenhar um papel na nova fase do CBS Evening News, já que a matéria-prima maior do seu programa no canal a cabo Comedy Central é justamente o noticiário factual. O canal de humor em questão pertence à empresa Viacom, que também é dona da rede CBS, o que seria considerado um fator facilitador para a concretização desta proposta. Schieffer coloca que preferia que o telejornal tivesse uma coluna de encerramento diária, com comentários humorísticos e sarcásticos assim como a que o jornalista Andy Rooney faz no encerramento do semanal 60 Minutes desde 1978.
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Leslie Moonves não exclui a possibilidade de contratar o humorista Jon Stewart do Daily Show como comentarista.
Schieffer – Deixe eu lhe falar algo. Se eu pudesse colocar Jon Stewart nas sextas-feiras e ele fizesse uma coluna como Andy Rooney faz no 60 Minutes, eu o faria no ato. Da mesma maneira, se eu pudesse conseguir Tom Friedman do New York Times, o faria. Talvez deveria haver um colunista para cada dia. E se alguém como Sean Hannity (Fox News) fizesse um comentário na quinta e Jon Stewart na sexta?
Você sabe que a média de idade do seu telespectador é ao redor dos 60 anos. Como você pretende ir tornando o telejornal mais jovem e descolado, como Moonves quer?
Schieffer – Você não o torna mais descolado. Mas pessoas jovens se relacionam com outras pessoas jovens e eu não vejo nada de errado em achar jornalistas mais novos, inteligentes e investir neles, fazer deles os nossos correspondentes. Ele (Moonves) também classificou a atual maneira de apresentar o noticiário de ‘antiquada’. Eu acho que o que Les quer é um novo espírito. Algo mais brilhante e atualizado. Eu estou mais convencido do que nunca que ele não quer fazer o telejornal virar o Entertainment Tonight (programa de variedades diário).
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Uma das conseqüências mais intensas da crise deflagrada dentro da CBS News por causa da reportagem de Dan Rather para o 60 Minutes II que usou documentos falsos – o Memogate – foi a saída do presidente Andrew Heyward do comando da divisão de jornalismo em novembro passado. Sean McManus, presidente da CBS Sports passou a acumular as duas funções, amparado pelo seu bom desempenho em levar a programação esportiva da CBS ao topo dos índices de audiência. Leslie Moonves o elencou como o mais indicado para conduzir a reformulação do CBS Evening News e torna-lo novamente competitivo para o público.
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O ex-presidente da CBS News Andrew Heyward sofreu pressão para reinventar o telejornal? Por que você acha que ele perdeu o emprego?
Schieffer – Eu acho que o Andrew estava em uma posição impossível, com problemas e questões que nenhum outro comandante da CBS News já teve de confrontar. Foi quase como se ele estivesse dirigindo um carro em uma estrada que ninguém tinha o mapa. Esse cenário mudou de repente e ele teve que continuar guiando o carro em uma curva perigosa e mudar um pneu furado ao mesmo tempo. Andy Rooney comentou no blog da CBS News que a ênfase costumava ser em captar e distribuir as notícias, mas agora é em economizar dinheiro. Sean McManus é um grande jogador. Está acostumado a negociar bilhões de dólares em contratos. Ele tem o histórico e o sucesso de ser presidente da CBS Sports. Quando ele encontrar Les Moonves e disser ‘eu preciso gastar tal quantia em dinheiro’, terá grande persuasão.
McManus impôs ordem para o telejornal passar a ser mais leve?
Schieffer – Não. Da mesma maneira que tenho certeza que meu nome é Bob Schieffer. A missão dele é torná-lo melhor.
O CBS Evening News será muito diferente daqui a cinco anos? Haverá mais de um âncora? Ou nenhum âncora?
Schieffer – Se nós determinarmos que será bom ter um âncora em outro continente, haveremos de ter um âncora de onde a maior notícia internacional do dia vier. Talvez teremos outro âncora em Nova York. Talvez outro na costa oeste.
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Para encerrar, Schiffer fez uma breve reflexão acerca da sua experiência no comando da edição diária do CBS Evening News, cargo que ocupa desde março deste ano. Até o momento, sua entrada no comando motivou um aumento de 290 mil telespectadores desde a saída de Dan Rather, atingindo uma marca média de 7,2 milhões de pessoas nacionalmente a cada edição do informativo nesta temporada. O veterano jornalista menciona mudanças que gostaria de efetuar no telejornal, mas que imagina que possivelmente nunca serão implementadas e que a função como principal apresentador jornalístico da CBS poderia ter se tornado uma meta profissional, caso tivesse aparecido anteriormente na sua carreira.
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Se você tivesse controle total sobre o CBS Evening News, como iria moldá-lo no atual ambiente jornalístico?
Schieffer – Se eu pudesse, a primeira coisa que faria é expandi-lo para uma hora e coloca-lo às oito da noite. Esse seria meu objetivo. Eu não sei se isso algum dia vai acontecer.
Você quer ser o âncora permanente do telejornal?
Schieffer – Não, eu não quero. Essa não é minha meta na vida. Se isso fosse há dez anos atrás, eu teria aceito a chance no ato. Mas eu tenho 68 anos. E eu teria de mudar para Nova York, uma vez que minha casa é em Washington. Eu realmente gostei de ter feito o telejornal. Sean McManus me perguntou se eu estaria disposto a ficar por mais um tempo e eu disse a ele que sim. Tive câncer na bexiga. Eu acho que tudo é temporário. E olho esta parte da minha vida como um abono.
Mudanças agradam
O carisma e as medidas implementadas por Bob Schieffer e sua equipe têm agradado ao telespectador. O ex-diretor do CBS Evening News Jim Murphy, declarou ao jornal Philadelphia Enquirer que o telejornal vem sendo idealizado corretamente pelo novo diretor Rome Hartman e que o público deverá retribuir as melhoras que estão sendo apresentadas. ‘Se eles manterem o telejornal da maneira que está sendo feito agora, em fevereiro estarão ocupando o segundo lugar. O público gosta do programa, gosta de Bob. Está sendo feito da maneira correta’, comentou o jornalista que se despediu do telejornal na sexta-feira (24/12).
No tocante à possível contratação da jornalista da NBC Katie Couric, Murphy afirma que as chances desta transação acontecer são grandes. ‘Não sei se há como ela superar o que já fez na NBC. A CBS é o lugar onde ela poderia se superar. Ela é capacitada, inteligente e competente em TV.’
Enquanto o CBS Evening News melhora, mas ainda é terceiro colocado, a rede CBS segue como a mais assistida. No tocante aos números da audiência geral, na semana passada a CBS também apresentou os cinco programas mais vistos da TV americana em ordem: ‘CSI’ (11,5 pontos com participação de 18%), ‘NCIS’, ‘CSI: New York’, ‘Without a Trace’ e ‘Criminal Minds’. Na média da semana, a CBS ficou com 7,9 e participação de 13%. Em seguida vieram ABC com 5,7 (9%), NBC com 5,6 (9%), FOX com 4,3 (7%), UPN marcando 2,3 (4%) e The WB com 2,2 (4%). Os dados são do instituto AC Nielsen.
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Jornalista