Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Comunique-se



FSP NO RIO
Milton Coelho da Graça

A Folha quer também cruzar o Rubicão, 6/12/05

‘A resposta está no forno. A Folha de São Paulo desenvolve, no maior sigilo, o projeto de lançamento de uma edição carioca. O sucesso de sua mais recente campanha de venda de assinaturas no Rio de Janeiro convenceu a direção do jornal de que há uma brecha no mercado de jornais diários, por conta da decadência do Jornal do Brasil, que O Globo não está conseguindo ocupar.

O projeto iria no sentido contrário ao dos jornais EXTRA, MEIA HORA, Q! e o anunciado AQUI. Iria em busca dos formadores de opinião, onde a Folha vem conseguindo seus assinantes. Os problemas iniciais a resolver seriam os industriais e de logística. A informação – não confirmada por ninguém da direção da Folha – seria de que estão sendo examinadas duas possibilidades: a impressão no Rio no moderno parque gráfico de O DIA que, mesmo com a tiragem de MEIA HORA, ainda tem grande capacidade ociosa; ou o lançamento da edição carioca como vespertina, permitindo que ela seja impressa em São Paulo e distribuída por volta de meio dia.

Os assinantes cariocas não tiveram em sua Folha a notícia da cassação de José Dirceu. Isso não seria tolerável num jornal local.

Tudo indica que o planejamento está em fase bastante avançada. A Folha já examina até a entrega de assinaturas no Centro do Rio e outras áreas de escritórios, além da venda em bancas.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

É proibido morrer, 8/12/95

‘‘O jornalismo entre nós é perpetrado pela ralé da incompetência.’

(Monteiro Lobato em carta a Godofredo Rangel – 30/6/1915)

É proibido morrer

Sepultado sob o título Prefeito quer ‘proibir a morte’ em cidade sem espaço no cemitério, Janistraquis recebeu da leitora Analice Leal Moreira o seguinte texto do jornal Agora, de São Paulo:

Os cerca de 28 mil moradores de Biritiba-Mirim (Grande São Paulo) podem ser ‘proibidos de morrer’, como pretende um projeto enviado pela prefeitura à Câmara.

A proposta prevê alertas e punições aos ‘desobedientes’: um dos artigos avisa que ‘os munícipes deverão cuidar da saúde para não falecer’ e outro item adverte que ‘os infratores responderão pelos seus atos’. O texto será analisado pela Casa na semana que vem.

Meu secretário vestiu a mortalha da resignação:

‘Pois é, considerado, sempre disseram por aí que um dia a gente não ia ter um lugar onde cair morto… Eu só não esperava que fosse tão cedo!’

(Leia no Blogstraquis a íntegra da excelente matéria assinada por Danilo Almeida.)

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Coisa esquisita!

Claudio Humberto informou que Zé Dirceu vai se instalar em Washington e fará palestras em multinacionais e universidades. E até obteve a carteira de motorista válida nos Estados Unidos.

Escreveu o colunista:

Preso político trocado em 1969 por Charles Elbrick, embaixador americano seqüestrado, José Dirceu virou queridinho da turma de George W. Bush: seu circuito de palestras nos EUA tem o apoio do Departamento de Estado.

Janistraquis leu, releu, remoeu e expeliu:

‘Considerado, por que será que Zé Dirceu, trocado pelo embaixador, tem tanto prestígio nos EUA, enquanto a Fernando Gabeira, seqüestrador de Elbrick, é negado visto até pra Disneylândia?’

Parece que, pelas leis americanas, quem comete um crime está deveras lascado; todavia, quem se beneficia do crime é tratado com regalias só reservadas aos melhores agentes da CIA.

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Mal virtual

Piadinha que circula na Internet:

Marisa perguntou a Luis Inácio:

‘Que é leptospirose?’

E Luís Inácio respondeu na bucha:

‘Copanhêra, lepitospirose é uma doença que ataca os usuário de lepitopi. É transmitida pelo contato com a urina do mouse.’

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Apesar de você

Depois de muito pesquisar, Janistraquis, que anda a confundir Ataíde com ataúde, chegou à conclusão de que o Senado Federal não é de todo inútil, apesar de presidido por Renan Calheiros:

‘Considerado, salvam a instituição a sortida biblioteca, a gráfica, uma das mais bem equipadas do país, e, principalmente, a TV, que exibe um dos melhores programas brasileiros, Quem tem medo de música clássica?, apresentado pelo sempre competente Artur da Távola, o qual, para tristeza da Nação, não é mais senador.

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O melhor presente

A considerada Janice Queirós Garcia, do Rio, pede ao colunista uma sugestão de livro infantil para dar de presente de Natal aos sobrinhos. Tenho certeza de que o melhor dos últimos anos foi escrito por Luzia Lacerda e intitula-se Foi! Não foi! Foi., título que alude a poema de Manuel Bandeira e já revela o bom gosto da autora, a qual se define nestes versos:

Fiz letras

fiz fotografias

fiz teatro

fiz filhas

pintei

bordei

dancei

viajei

casei

vi

vivi

imaginei coisas incríveis.

Não vejo televisão.

Não acredito em outras vidas.

Tenho 52 anos

dizem que não parece

mas há espelhos por toda parte.

Não sei ganhar dinheiro

(por incompetência ou preguiça).

Passei a vida a distribuir afetos.

Isto leva tempo, como sabe.

52 anos.

Leia no Blogstraquis a resenha epistolar que o colunista escreveu para a autora de Foi! Não foi! Foi. (Editora Record, 80 páginas).

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Iluminados

Deu na coluna Veja Essa, da Indispensável:

‘A Igreja Católica apoiou o golpe de 64 e nem por isso os brasileiros deixaram de ser católicos. Isso mostra que o PT tem futuro.’

José Dirceu, falando de pecado e perdão

Janistraquis, que sempre guardou distância da credulidade, suspirou:

‘Considerado, o ‘raciocínio’ de Zé Dirceu comprova apenas o que tenho dito há muitos anos: o PT não é um partido político, mas um culto no qual abundam iluminados.’

(E por falar no Zé Dirceu, sequazes têm protestado contra a cassação porque esta ‘foi política’, nada se provou contra ele. Ora, quando o Congresso afasta os seus membros, esta é, sempre e sempre, uma ação política; e se formos exigir provas, tragam de volta o Fernando Collor. Afinal, nada, mas nada mesmo, ficou provado contra o escorraçado ex-presidente.)

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‘Periferias’

O considerado José Guido Fré, Zefré para os mais chegados, diz que o vocábulo ‘periferias’, assim no plural, encontrado em recente Nota Dez desta coluna, está errado. Leia no Blogstraquis as razões do leitor.

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IPVA é a mãe!

O considerado leitor Iran Gonçalves leu no jornal Agora, de São Paulo, a notícia intitulada Radar na estrada já flagra devedor de IPVA, a qual, segundo ele, merecia alguma explicação.

Com o uso de câmeras que fazem a leitura de placas, a Polícia Rodoviária Estadual já está flagrando, multando e apreendendo veículos em situação irregular nas estradas do Estado de São Paulo.

Além de flagrar excesso de velocidade, essas câmeras são capazes de descobrir os veículos cuja documentação está irregular e com o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), em atraso, por exemplo.

O texto dá a impressão de que o motorista está duas vezes lascado, pelo excesso de velocidade e o IPVA atrasado, porém Iran conhece as regras do jogo e garante:

‘IPVA não é documento de trânsito. Nenhum guarda pode pedir para ver o IPVA de ninguém. Somente na hora do licenciamento o dono do carro se entenderá com as secretarias de Fazenda de cada Estado.’

Janistraquis aproveita para aconselhar:

‘Então, se o guarda de trânsito ou policial rodoviário vier com alguma conversa mole sobre o IPVA atrasado, mande-o, respeitosamente, à m…’

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Longa vida

O considerado Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna no DF, em cuja varanda mandou estender uma faixa com os dizeres VIVA A COTEMINAS, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando encontrou, sob os destroços do título Saddam não teme execução:

‘Longa vida ao Iraque. Longa vida à nação árabe. Longa vida ao Iraque’ (Saddam Hussein, antes de se retirar do tribunal.)

Roldão, que não vive a pensar na morte da bezerra, protestou:

A saudação em inglês Long Live!, deve ser traduzida em português por ‘Viva!’. Na nossa língua, ‘longa vida’ é o leite empacotado.

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Nota dez

Mais uma aula do professor Deonísio da Silva no Observatório da Imprensa:

Se a tese de Diogo Mainardi estiver correta, ele está a serviço de quem? É difícil a vida de um intelectual independente no Brasil. O método de condenação é o mais fácil em sua simplicidade, pois poucos conhecem o que no Ocidente é entendido por obra. Ao contrário, diz-se todos os dias que na obra tal, o escritor tal diz tal coisa. Obra? São muitos os sentidos de obra. Diz-se, por exemplo, na linguagem coloquial das mães quando os rebentos são vítimas de tenesmo, que ‘o bebê não obrou hoje’.’



PUBLICIDADE & MÍDIA
Eduardo Ribeiro

Eleições e Copa devem movimentar o mercado, 7/12/05

‘Dois dos maiores eventos que mexem com o País – as eleições e a Copa do Mundo – vão aquecer o mercado jornalístico em 2006. Na verdade, o aquecimento já começou. O Jornal da Record, por exemplo, ancorado por Boris Casoy e dirigido por Dácio Nitrini, já começou a se preparar para a cobertura das eleições/2006. A equipe do telejornal, em Brasília, foi ampliada. Ana Paula Neves foi efetivada na função de repórter; Janete Maria Ribeiro na de editora; Vanina Pinheiro e Raquel de Souza Alvez como setoristas no Congresso. E a Supervisão Operacional contratará os técnicos necessários para o suporte ao aumento da redação. Em São Paulo, começa a trabalhar nos próximos dias o repórter Ricardo Ferraz, (ex-Cultura, ex-BandNews).

Na área esportiva , já de olho na Copa do Mundo e demais eventos do ano que vem, a Transamérica reforçou o time de locutores, contratando Oswaldo Maciel (ex-Rádio Globo), compondo um quarteto com Éder Luiz, Antônio Édson e André Henning. Henning e Márcio Bernardes, aliás, já estão na Alemanha para cobrir os passos da Seleção Brasileira naquele país.

João Carlos Assumpção é outro que está de casa nova, às vésperas da Copa, contratado comentarista esportivo pelo canal Sportv. Ele foi repórter da Folha de 1994 a 2004, sendo que em 1997 foi correspondente-bolsista do jornal em Nova York. Além disso, atuou como repórter especial do Lance no Rio e cobriu, in loco, as Copas de 1994, 1998 e 2002 e os Jogos Olímpicos de 2000 e 2004 (a última Olimpíada, no ano passado, também pela Carta Capital). João é também autor de ‘Deuses da bola – Histórias da Seleção Brasileira’, livro lançado pela DBA, em 1998.

Com a publicidade retomando a patamares razoáveis, como parece estar acontecendo com a maioria dos veículos, não faltarão recursos para se investir nas equipes e esses investimentos serão, muito provavelmente, utilizados como âncoras para a venda de cotas de patrocínios para esses eventos. Com o Brasil favorito ao hexa e Lula nem tanto e em crise, não faltarão boas pautas, nem leitores, fato que deve contribuir para o aumento das equipes, para uma puxada nos salários e (por que não?) para o crescimento das tiragens e audiências dos veículos.

No caso da Copa, teremos dezenas de equipes viajando para a Europa, a partir de maio, para a cobertura, centenas de cadernos especiais de jornais e revistas, mesas-redondas para todos os gostos, boletins etc. Gente lá e gente aqui, profissionais na linha de frente e na retaguarda, e uma saudável briga pela melhor cobertura, pelos furos, pela audiência.

No caso das eleições, isso se multiplica ainda mais. As eleições são federais e estaduais e envolvem o Executivo e o Legislativo, ou seja, movimentará as redações tanto em Brasília quanto nos respectivos Estados. Além disso, é preciso contabilizar as centenas de profissionais que serão chamados para as campanhas políticas entre junho e julho do próximo ano, com emprego até perto do final de outubro, quando acaba o segundo turno.

As oportunidades de trabalho vão se colocar e aqueles que estiverem desempregados ou de olho em mudança devem ficar atentos e ir à luta, pois desse modo as chances de emplacar um 2006 melhor vão crescer substancialmente.

Nós, de nosso lado, vamos ficar atentos a todos os movimentos, para trazer tudo detalhadamente para os leitores do Comunique-se.’



JORNALISMO ESPORTIVO
José Paulo Lanyi

Trinta libras, o preço justo, 9/12/05

‘Sempre me lembro da palavra do Nelson Rodrigues quando comparo os meus textos de hoje com os que escrevi no passado. Perguntaram-lhe, certa vez, que conselho ele daria aos jovens. – Envelheçam – respondeu, grande frasista que era.

Pois é o que recomendo a todos. Escrever não é como andar de bicicleta (‘aprendeu, anda a vida toda’). É um desses ofícios que cortejam a velhice e fazem pouco da juventude.

Um dia vou ficar muito bom nisso, tenho só 35 anos – o que parece muito, mas não é. Aquela história de que a vida voa depois dos 18 é verdadeira, guarde a piada, não pense que seus dentes vão durar tanto (que exagero…).

Fiz um teste. Peguei uma reportagem que escrevi para a Gazeta Esportiva em outubro de 95, época em que passava fome em Londres. Exatos dez anos atrás, se você descontar os dois meses que sobraram. Reli o artigo e concluí: – Pobre de mim…

‘Outro clube que não economizou foi o londrino Arsenal, que abriu mão de US$ 19,5 milhões para contar com o espírito matador de Bergkamp…’. Outro clube que não economizou? Argh!!! Abriu mão de US$ 19,5 milhões? Que bonzinho… Espírito matador de Bergkamp? Bleargh!!!

Depois:

‘Não satisfeito, o Arsenal trouxa de volta para a Inglaterra o meia David Platt, pagando US$ 8 milhões à Sampdoria…’ Não satisfeito? Credo!!! Pagando? Vixe!!!

Adiante:

‘O goleador francês [Erica Cantona] ameaçou abandonar o clube, causando pânico em Old Trafford, a sede da equipe em Manchester’. Causando pânico? Acaso teria sido uma premonição dessa gíria insuportável, a tal ‘Fulano causou’, ‘Beltrano está causando…’? Pânico em Old Trafford? Que senso de medida…

Olha só isto aqui:

‘Com tantas negociações, não se arrisca ainda um prognóstico sobre os favoritos ao título do Premiership 95/96’.

Comentário nº 1: ou eu adorava uma obviedade, ou… o futebol é mesmo óbvio e escapei de ser do ramo- o que é uma boa…

Comentário nº 2: Premiership é o escambau!!!!

Agora, o desfecho, o clímax:

‘As atuações dos novos contratados é que darão a deixa [não!!!!!!] do que se pode esperar do campeonato, que promete ser de alto nível [oh, my god!!!!!]. É preciso aguardar, contudo, as primeiras rodadas, para que se saiba quem ganhou e quem perdeu com as transações da pré-temporada [sério?]. Por enquanto, comenta-se apenas que os primeiros vencedores foram Gullit, Bergkamp, Collymore, Platt & milionária Cia. [sim, ‘e’ comercial, eu era criativo …], com suas respectivas contas bancárias [ respectivas… sei… sem contar a ironia fina…].

Não sei se dou risada de mim mesmo ou da finada Gazeta Esportiva, que publicou o texto na íntegra. Bom, o jornal mereceu, depositou apenas cem reais na conta do meu velho. E eu pagava aluguel, comida e transporte em libras esterlinas, moeda que valia três vezes mais. Recebi, portanto, trinta e poucas libras. Hoje reconheço: o preço justo.’